segunda-feira, março 04, 2013

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

Pernambuco Afortunado 
Publicado em 06.05.2007 

A bibliografia sobre Pernambuco vem sendo enriquecida com livros que são verdadeiros álbuns, publicados com um grande cuidado gráfico e com bela apresentação, rica em ilustrações que levam o leitor a se preocupar tanto com o texto escrito, como com a visualização fotográfica. Dois deles chamaram a nossa atenção, o de Geraldo Gomes, “Arquitetura e Engenhos”, e o de Otávio Carvalheira sobre a Cachaça, a bebida típica de Pernambuco. Excelente, também, é o livro lançado recentemente pela gráfica Santa Marta, “Pernambuco Afortunado”, dos historiadores Carlos André Cavalcanti e Francisco Carneiro da Cunha, onde eles procuram dar uma visão de conjunto dos cinco séculos de história pernambucana, abrangendo o processo de ocupação, do povoamento, as várias revoltas e revoluções, e a vida da província e do Estado de Pernambuco e a sua consolidação como porção do território e da alma nacional.

A bibliografia sobre a história de Pernambuco é rica, desde os séculos XIX, com Pereira da Costa e Alfredo de Carvalho, continuada, no início do século XX, com o trabalho de grande esforço e mérito desenvolvido por Sebastião de Vasconcelos Galvão. Ela foi continuada por Mário Melo, Fernando da Cruz Gouveia, Leonardo Dantas Silva, Evaldo Cabral de Melo e tantos outros, que produziram livros que deram uma importante contribuição ao conhecimento da história, da vida e das realizações do povo pernambucano.

Os estudos de Gilberto Freyre, de Josué de Castro e de José Antônio Gonçalves de Melo coroaram a produção histórico-social da vida pernambucana, enquanto os estudos históricos vêm sendo enriquecidos e estimulados pelo Departamento de História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, onde trabalha uma equipe de historiadores do mais alto nível.

Em nossa opinião, o livro “Pernambuco Afortunado” atende bem ao destino que lhe foi dado pelos seus autores, preocupados com os desafios artísticos, mas comprometidos com a verdade histórica e sua interpretação. Assim, os autores iniciam o livro vinculado a colonização pernambucana às suas origens ibéricas, africanas e indígenas, salientando a influência das mesmas em nossa cultura. Vinculação que Gilberto Freyre já salientou em seus livros, quando colocava o negro como co-colonizador e não como um colonizado.

O livro se inicia com a saga pernambucana com o histórico da colonização portuguesa e com o motor econômico desta colonização, a exploração da cana-de-açúcar, que deu riqueza e poder a Olinda e provocou a ambição e a tentativa da ocupação holandesa e da formação da chamada Nova Holanda, culminada com a obra do Conde Maurício de Nassau. Depois, foi a epopéia da luta contra o invasor, a expulsão dos holandeses e a restauração do domínio português, com lutas contra os indígenas expoliados de suas terras e de seus bens - Guerra dos Bárbaros - e com o Quilombo de Palmares, maior revolta negra de nossa história. Aliás, um dos problemas do livro é que ele não deu maior atenção aos movimentos populares do século XIX - Setembrizada, Novembrada, Abrilada, Guerra dos Cabanos e Revolta Praieira - que representaram o grito dos oprimidos por liberdade e vida, em uma sociedade aristocrática e socialmente estratificada.

Pernambuco foi o engenho de açúcar, foi a usina, foi a fábrica de tecidos, a fundição, etc, mas tudo isso formou uma sociedade muito desigual e muito injusta. Daí, os gritos de revolta como o de Zumbi de Palmares, o de Vicente Ferreira de Paula, o de Nunes Machado, o de Castro Alves, baiano pernambucanizado, de José Mariano, do grande Nabuco e de tantos outros que procuraram diminuir a pressão de sua formação histórica. Pernambuco foi casa-grande, mas foi também senzala, foi opulência e foi pobreza, foi cidades suntuosas mas foi também vilarejos e povoados, foi riqueza e miséria, a um só tempo. E os autores dão a perceber o fato.

Pode-se observar, o livro, como Pernambuco foi teatro, na década de Sessenta do Século XX, de uma luta entre os que queriam modernizá-lo, com reforma s e transformações sociais, e dos que queriam fazê-lo crescer com o agravamento das injustiças seculares.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
 ############################################################################################################


















Pernambuco Afortunado 
Publicado em 06.05.2007 

A bibliografia sobre Pernambuco vem sendo enriquecida com livros que são verdadeiros álbuns, publicados com um grande cuidado gráfico e com bela apresentação, rica em ilustrações que levam o leitor a se preocupar tanto com o texto escrito, como com a visualização fotográfica. Dois deles chamaram a nossa atenção, o de Geraldo Gomes, “Arquitetura e Engenhos”, e o de Otávio Carvalheira sobre a Cachaça, a bebida típica de Pernambuco. Excelente, também, é o livro lançado recentemente pela gráfica Santa Marta, “Pernambuco Afortunado”, dos historiadores Carlos André Cavalcanti e Francisco Carneiro da Cunha, onde eles procuram dar uma visão de conjunto dos cinco séculos de história pernambucana, abrangendo o processo de ocupação, do povoamento, as várias revoltas e revoluções, e a vida da província e do Estado de Pernambuco e a sua consolidação como porção do território e da alma nacional.

A bibliografia sobre a história de Pernambuco é rica, desde os séculos XIX, com Pereira da Costa e Alfredo de Carvalho, continuada, no início do século XX, com o trabalho de grande esforço e mérito desenvolvido por Sebastião de Vasconcelos Galvão. Ela foi continuada por Mário Melo, Fernando da Cruz Gouveia, Leonardo Dantas Silva, Evaldo Cabral de Melo e tantos outros, que produziram livros que deram uma importante contribuição ao conhecimento da história, da vida e das realizações do povo pernambucano.

Os estudos de Gilberto Freyre, de Josué de Castro e de José Antônio Gonçalves de Melo coroaram a produção histórico-social da vida pernambucana, enquanto os estudos históricos vêm sendo enriquecidos e estimulados pelo Departamento de História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, onde trabalha uma equipe de historiadores do mais alto nível.

Em nossa opinião, o livro “Pernambuco Afortunado” atende bem ao destino que lhe foi dado pelos seus autores, preocupados com os desafios artísticos, mas comprometidos com a verdade histórica e sua interpretação. Assim, os autores iniciam o livro vinculado a colonização pernambucana às suas origens ibéricas, africanas e indígenas, salientando a influência das mesmas em nossa cultura. Vinculação que Gilberto Freyre já salientou em seus livros, quando colocava o negro como co-colonizador e não como um colonizado.

O livro se inicia com a saga pernambucana com o histórico da colonização portuguesa e com o motor econômico desta colonização, a exploração da cana-de-açúcar, que deu riqueza e poder a Olinda e provocou a ambição e a tentativa da ocupação holandesa e da formação da chamada Nova Holanda, culminada com a obra do Conde Maurício de Nassau. Depois, foi a epopéia da luta contra o invasor, a expulsão dos holandeses e a restauração do domínio português, com lutas contra os indígenas expoliados de suas terras e de seus bens - Guerra dos Bárbaros - e com o Quilombo de Palmares, maior revolta negra de nossa história. Aliás, um dos problemas do livro é que ele não deu maior atenção aos movimentos populares do século XIX - Setembrizada, Novembrada, Abrilada, Guerra dos Cabanos e Revolta Praieira - que representaram o grito dos oprimidos por liberdade e vida, em uma sociedade aristocrática e socialmente estratificada.

Pernambuco foi o engenho de açúcar, foi a usina, foi a fábrica de tecidos, a fundição, etc, mas tudo isso formou uma sociedade muito desigual e muito injusta. Daí, os gritos de revolta como o de Zumbi de Palmares, o de Vicente Ferreira de Paula, o de Nunes Machado, o de Castro Alves, baiano pernambucanizado, de José Mariano, do grande Nabuco e de tantos outros que procuraram diminuir a pressão de sua formação histórica. Pernambuco foi casa-grande, mas foi também senzala, foi opulência e foi pobreza, foi cidades suntuosas mas foi também vilarejos e povoados, foi riqueza e miséria, a um só tempo. E os autores dão a perceber o fato.

Pode-se observar, o livro, como Pernambuco foi teatro, na década de Sessenta do Século XX, de uma luta entre os que queriam modernizá-lo, com reforma s e transformações sociais, e dos que queriam fazê-lo crescer com o agravamento das injustiças seculares.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
 ############################################################################################################


















0 comentários: