quinta-feira, junho 25, 2009

Sigmund Freud: Psicanálise e Educação

Introdução


Sigmund Freud contribuiu com a ciência do século XIX, com a psicanálise. Ou seja, área de conhecimento que abrangia o estudo do inconsciente humano, a fim de entender as doenças mentais e futuramente até o próprio homem. Nessa perspectiva, a contribuição de Freud foi de fundamental importância para o campo científico, haja vista que, agora a mente humana se tornou alvo de estudos e principalmente, graças às conclusões freudianas, o entendimento do funcionamento biológico dos seres humanos ficou mais completo, devido a não separação entre o corpo e a mente. Fato esse que não acontecia nas ciências biológicas nesse período.
Pois bem, a teoria psicanalítica, não ficou somente presa ao âmbito da medicina e das ciências biológicas, pelo contrário, Freud buscou desde a fundamentação de sua teoria, relacionar o pensamento filosófico ao pensamento neurológico, ampliando as suas fontes de conhecimento em grandes campos do saber.
Porem, para se entender o Dr. Sigmund Freud, temos que primeiramente buscar na sua história e analisar todo o caminho percorrido por ele, até se tornar o pai da psicanálise. Um caminho longo é verdade, mas, não tão longo como os próprios caminhos que a teoria freudiana percorreu e ainda percorre por todos os cantos do mundo, em conferências, seminários, debates, palestras, pesquisas; enfim, dentro e fora das academias o pensamento freudiano se encontra vivo, justamente porque foi somente ele que teve a coragem de levar pra dentro dos círculos intelectuais de uma Europa mergulhada na Era Vitoriana, a questão da sexualidade em todos os seus sentidos e principalmente cogitar a influencia que os instintos sexuais atuam em nossos problemas, angústias, sonhos e comportamentos.
Até na própria educação e moralidade a teoria psicanalista buscou formular interpretações, problematizando assim o excesso de poder e de repressão que o processo educacional atua nos indivíduos, levantando a hipótese de que várias histerias que acontecem em nossa civilização estão ligadas aos tempos em que a criança está desenvolvendo um processo de aprendizagem e de interação social. Freud não escreveu muito sobre a influência da psicanálise na educação e até chegou a afirmar que educar é uma tarefa impossível devido à subjetividade inconsciente de cada pessoa.
Freud: Psicanálise e Educação
Sigmund Freud, nasceu em 1856 em Frieberg, território pertencente à Áustria, e que atualmente está anexado a Tchecoslováquia. Filho de família judaica, Freud aos 4 anos muda-se para Viena e lá vai passar a maior parte de sua vida, somente aos 82 anos que ele vai morar em Londres e lá que aos 82 anos morre.
A vida colegial foi um marco fundamental para a vida de Freud, ora, desde novo que devido ao seu alto grau de inteligência, as expectativas depositadas no futuro desse garoto foi muito grande, não só pelos seus familiares, como também pelo próprio Freud, onde ele mesmo reconhecia a sua sapiência e consagrava os seus estudos como uma forma de não cair em uma mediocridade intelectual no futuro, justamente por isso que ele dedicava-se aos estudos antes, durante e depois do tempo em que ia escola.
A educação foi fundamental para a vida do jovem Sigmund Freud, além de seu gosto pelos estudos, ele também tinha em sua mente que somente por esse caminho que uma pessoa pertencente a uma família de recursos econômicos pequenos poderia ascender socialmente e culturalmente, a fim de freqüentar os grandes círculos sociais vienenses.
Ao se formar em medicina, se especializou em doenças mentais, onde atuou como neurologista estando em um campo onde a clientela sofria as chamadas doenças nervosas – psicoses, neuroses, esquizofrenia, e histerias. Nessa época os tratamentos estavam centrados em eletroterapia, massagens, hidroterapia ou até mesmo a hipnose. Diga-se de passagem, que é válido destacar essa ultima forma de tratamento, uma vez que, foi a que Freud mais adotou, antes da criação da psicanálise.
Dr. Freud se destacou muito dos demais profissionais de sua área, devido à notória preocupação em além de descrever e classificar os sintomas que estava os seus pacientes, buscava também as causas reais de tais enfermidades. Atuando assim como um arqueólogo da mente em suas consultas, sempre anotando e estudando essas doenças.
Com isso, ele destacou os seguintes pontos iniciais nesses estudos sistemáticos sobre a mente humana:
  • Existe uma relação entre o trauma (fato desencadeante) e os sintomas, embora o paciente na maioria das vezes não se lembre desses traumas na maioria das vezes (por isso que ele usou muito da hipnose em seus tratamentos).
  • O fator desencadeante teria sido reprimido pela pessoa e afastado da consciência, devido à natureza insuportável do trauma.
  • A vida sexual geralmente está presente em tais traumas, devido a impossibilidade de se descarregar idéias de conteúdo sexual pelo diálogo constante, uma vez que há uma repressão social muito grande a respeito de certos assuntos.
  • O ego expulsa alguns assuntos insuportáveis para fora da consciência, a fim de proteger o aparelho psíquico de perturbações perigosas à integridade.
Nesse contexto, é valido destacar algum espaço sobre a questão da moralidade transmitida pela educação (na época em que Freud foi contemporâneo, ele presenciou uma Europa totalmente inseria na era Vitoriana), pela noção de pecado e de vergonha reprimia por demais a sexualidade, logo, Freud achava que alguns distúrbios da sexualidade resultavam dessa atuação rígida da moral.
É importante dizer que, Freud não pregava a idéia de uma barbárie da moral, mas ele problematizava a questão do excesso de moralidade e os seus efeitos psicológicos humanos, nesse contexto, ele aceitava a idéia que, na própria busca de prazer que está inerente a qualquer ser humano está também o próprio desprazer, ou seja, o ser humano já possui um recalque natural em suas estruturas mentais que busca um controle natural sobre o comportamento humano, ou seja, esse recalque por si só, já mantém o homem como um indivíduo cultural, assim o homem além de preservar os seus instintos sexuais naturais ele também irá preservar os seus instintos culturais (comunicação, coletividade, crença etc.). Logo podemos afirmar que a teoria freudiana problematizava não a moralidade, mas o excesso do recalque provocado pela própria moral, que iria somar ao desprazer natural do homem, tornando a sociedade humana totalmente impregnada de valores éticos e morais, suprimindo assim os instintos naturais.
Pois bem, quando Freud desenvolveu a
Psicanálise, ou seja, uma teoria do funcionamento da mente humana e um método exploratório de sua estrutura, destinado a tratar os comportamentos compulsivos e muitas doenças de natureza psicológica supostamente sem motivação orgânica.
Nessa ocasião interessou-se pelo caso de uma paciente, relatado por
Josef Breuer, um especialista em doenças nervosas a quem devotou grande respeito. A paciente de Breuer, Bertha Pappenheim, - na ficha médica "Fraulein Anna 0." -, de 21 anos, era depressiva e hipocondríaca (um quadro na época denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e se sentia incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a a hipnose e ela relatou casos de sua infância, e essa recordação fazia que se sentisse bem após o transe hipnótico. O médico, Joseph Breuer aceitou partilhar com Freud o seu método terapêutico que designou "catarsis" e que consistia em levar o paciente a recordar, pela hipnose ou por conversação, o trauma psicológico sofrido, uma descarga emocional que conduzia à cura.
Além do caso da senhora Fraulein Anna O. vale ressaltar também mais dois casos que Freud teve grande interesse, o primeiro foi o caso de Lucy R. e o outro foi o da senhora Elizabeth Von R.
Lucy R. é uma governanta que trabalhava na casa de um empresário vienense, e que sofria de alucinações olfativas acompanhadas de depressão. O cheiro alucinado era o de um charuto. Através de um trabalho de investigação, que Freud comparava com o de um arqueólogo, ela foi desenterrando “camadas” – episódios traumáticos auxiliares, até chegar ao momento traumático real. Tratava-se de uma cena ocorrida durante o jantar da família, quando foi severamente repreendida por seu patrão, ocasião em que ele fumava um charuto. Tal episódio constituiu-se em algo traumático porque a governanta apaixonara-se pelo patrão e se acreditava correspondida, fato que a cena desmentira.
Elisabeth Von R. queixava-se de dores nas pernas e de dificuldades para andar. As causas de suas dores histéricas são encontradas em uma situação de conflito: tomava conta do pai enfermo, e, uma noite, saíra para uma reunião onde provavelmente encontraria a pessoa por quem estava profundamente interessada. Isso efetivamente se deu, mas ao voltar para casa o estado do pai tinha-se agravado profundamente. O contraste entre a alegria de ter estado com a pessoa desejada e a piora do pai constituiu uma situação de incompatibilidade, um conflito.
Kupfer, M.C, p. 35-36 (3ª edição).
Devido a tais experiências, Freud consegue concluir que muito dos traumas de seus pacientes foram ligados a repressão da idéia erótica devido a ligação que em determinado momento, algum fato relacionado com a sexualidade entrara em conflito com outra situação traumática, ou seja, a emoção ligada aquela idéia erótica se transformou em uma ferramenta para a intensificação de uma dor física ou alguma alucinação que se achava simultaneamente presente. Essa situação ficou definida para Freud como um mecanismo de defesa, ou seja, processos subconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência.
Freud, entre os anos de 1892 e 1895, gradualmente desistiu da hipnose, que substituiu pelo divã, não mais utilizado para hipnotizar, mas para que o paciente, em uma posição confortável, fizesse um esforço para lembrar os traumas que estariam na origem de seus problemas. Com o paciente relaxado, Freud conduzia uma livre associação de idéias, através da qual terminava por encontrar lembranças "recalcadas" pelo paciente, e que eram a causa de seus distúrbios. Formulou então o principio de que os sintomas histéricos têm origem na energia dos processos mentais os quais, impedidos de influenciar a consciência, são desviadas para a inervação do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido à natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou convencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses. Logo passou a considerar o desejo sexual como motivação praticamente única do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente.
No entanto, as afirmações de Freud escandalizavam cada vez mais o meio médico vienense. O principal motivo do escândalo era o modo desenvolto como Freud divulgava seu pensamento ainda mal acabado sobre o problema sexual das crianças, que ele afirmava serem sujeitas a desejo sexual e que o objeto desse desejo freqüentemente eram os próprios pais. Além do complexo de Édipo, em que o filho deseja sexualmente a mãe, Freud admitiu também o Complexo de Eletra, como a inveja que a menina tem do pênis do menino, e chamou a criança de um "perverso polimorfo".
Freud efetivamente argumentou que o comportamento humano obedece ao instinto sexual e ao instinto de conservação e que os motivos sexuais, se não são claros, estão sublimados em um motivo aparente. Sua teoria esta bastante conforme ao pensamento metafísico de
Schopenhauer de que uma Vontade universal, soberana e cega, deseja a sobrevivência da espécie e se traduz no sexo, e também a sobrevivência individual, e se traduz no instinto de conservação.
Assim. Além da sexualidade em si, ser o alvo de estudo do Dr. Freud, é válido destacar que nesse bojo estava um local de singular destaque para a sexualidade infantil. Ou seja, a sexualidade em si, não surgia na época da puberdade de uma pessoa, mas ela já esta presente na vida infantil, como uma preparação à sexualidade adulta, alguns atos que as crianças protagonizam como a observação das partes genitais (tanto próprias, como as de seus amigos), a manipulação de suas partes sexuais, o exibicionismo, a sucção do dedo polegar, a própria defecação, são pequenos gestos que no futuro será denominado pela genitalidade, seja com fins orgásticos, seja com fins de procriação.
Foi dentro do quadro da sexualidade infantil, que a teoria freudiana se focou para entender a sexualidade em si, os problemas que a repressão à pequenas ações que representam a sexualidade infantil, podem causar na vida adulta, e também os problemas que podem acarretar com a permanências de algumas perversões sexuais infantis, quando não há o domínio dessas pela genitalidade.

Cada um desses atos, Freud chama de pulsões parciais: pulsão oral, no caso do prazer de sucção; anal. No caso da defecação; escópica, no caso do olhar.
Assim, Freud revela que a pulsão sexual, tal como a vemos em ação de um adulto, é na verdade composta daquelas pulsões parciais, cuja ação se observa nas preliminares de qualquer ato sexual. Antes do advento e do domínio do interesse genital, tais pulsões parciais são vividas livremente pela criança, cujo interesse pela questão genital – pela cópula propriamente dita – ainda não foi despertado.
KUPFER, M.C p. 41.(3ª edição).
Bem, nessa perspectiva é importante salientar a questão da repressão aos atos que correspondem à sexualidade infantil, a sublimação e a educação sexual infantil tendo em vista o próprio educador. Como foi dito, reprimir moralmente algumas praticas relacionada à sexualidade pode acarretar vários problemas de origem psicológicas, pois bem, alem de diagnosticar essa forma de problema, Freud, também destacou a substituição de um ato sexual em um ato não-sexual, chama-se isso de sublimação, ou seja, a dessexualização do ato. Em outras palavras, Freud deseja em transferir a energia derivada de um desejo libidinoso em uma outra ação não relacionada à sexualidade, por exemplo, tendo em vista a pulsão anal, em certos momentos, ocorre na criança uma curiosidade sobre o material que é expelido da sua região anal – as fezes. É natural que muitas dessas crianças manifestem o desejo de manipular essas fezes, porém com absoluta certeza elas serão reprimidas pelos seus pais, porém além de reprimir essa ação, seria mais racional, transferir o desejo em manusear as fezes pelo manuseio da argila, acarretando assim um incentivo a praticas artísticas na criança. É nessa e em outras vertentes que o processo de sublimação vai atuar na criança, satisfazendo assim as suas necessidades e ao mesmo tempo atuando como forma educativa. Dando continuidade a tal raciocínio, Freud buscou relacionar a sexualidade com a educação com o intuito de focalizar a psicanálise como uma ferramenta estimuladora de praticas artísticas e intelectuais, tendo em vista também a supressão dos processos de repressão moral das pulsões sexuais no ambiente escolar e social.
A teoria freudiana está totalmente sustentada na estrutura da mente que concebemos por inconsciente, uma vez que, ele atribuía que as causas de certos sintomas ou de nossas ações estão dentro do inconsciente humano, pois é nesse local que está o conflito entre o superego e o id. O modo como se resolve esses conflitos estão manifestados em nosso ego, que atua como uma estrutura apaziguadora entre os impulsos natural e a conduta moral de um indivíduo. Exemplo pode-se atribuir o medo a insetos, como uma forma disfarçada da manifestação do temor a ladrões.
Quando Freud buscou conhecer o inconsciente humano ele constatou a grande importância que os atos falhos e os sonhos tinham para o entendimento de uma pessoa, pois como a própria teoria freudiana explica, o homem não é senhor de sua mente, ou seja, não reinamos sobre nossas vontades, e sim somos passivos aos conflitos em nosso subconsciente, uma vez que, os resultados de tais conflitos resultam em nosso comportamento.
Estrutura tripartite da mente.


Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutrina platônica com certeza o impressionou em seu curso de Filosofia. As partes da alma de Platão correspondem ao Id, o Superego e o Ego da sua teoria das partes ou órgãos da mente (1923 - "O Ego e o Id").

Id - Freud buscou funções físicas para as partes da mente. O Id, regido pelo "princípio do prazer", tinha a função de descarregar as tensões biológicas. Corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida.

Ego - lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de realidade". É a parte racional da alma, no esquema platônico. É parte perceptiva e a inteligência que devem, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.
O Ego ou o Eu é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos desejos do Id e à repressão do Superego. Obedece ao principio da realidade, ou seja, á necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem transgredir as exigências do Superego.
É parte perceptiva e a inteligência que deve, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.
O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se submete ao Id, torna-se imoral e destrutivo; se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter á realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial. Estamos divididos entre o principio do prazer (que não conhece limites) e o principio de realidade (que nos impõe limites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego. No indivíduo normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos neuróticos e psicóticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.

Superego - que é gradualmente formado no "Ego", e se comporta como um vigilante moral. Contem os valores morais e atua como juiz moral. É a parte irascível da alma, a que correspondem os "vigilantes", na teoria platônica.
O Superego, também inconsciente, faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se á consciência indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação, pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade ou adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social (1923 "O Ego e o Id").
Fases do desenvolvimento sexual.


Freud descobriu as fases da sexualidade humana que se diferenciam pelos órgãos que sentira prazer e pelos objetos ou seres que dão prazer. Essas fases se desenvolvera entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos, ligadas ao desenvolvimento do Id:
  1. A fase oral, quando o desejo e o prazer localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer;
  2. A fase anal, quando o desejo e o prazer se localizam primordialmente nas exercesse e as fezes, brincar com massas e com tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;
  3. A fase fálica, quando o desejo e o prazer se localizam primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mãe é o objeto do desejo e do prazer; para as meninas, o pai.
  4. A fase de latência, quando a criança está em processo de aquisição de habilidades, valores morais e papeis culturalmente aceitos, transferindo assim o impulso sexual para um segundo plano, devido à prática de outras atividades – a leitura, a escrita, atividades artísticas; enfim, é o período escolar, onde o impulso sexual é impedido de se manifestar devido aos papeis morais impostos pela educação.
  5. A fase genital, quando o indivíduo domina todas as suas pulsões parciais pela genitalidade, seja com fins orgásticos, seja com fins de procriação.
A psicanálise e a Educação

Ao tratar sobe o tema da sexualidade infantil, Freud defende que as crianças devem receber uma educação sexual assim que demonstrar um interesse sobre tal assunto. Ao contrário do que muitos pais e educadores se comportam diante de tal situação, ou seja, tentar educar as crianças com certos mitos que reprimem ainda mais o interesse sobre a sexualidade infantil.
No entanto, é válido ressaltar que no momento em que os educadores ou os pais passam a lidar com esse tipo de situação diante de uma criança, fica muito difícil saber concretizar tal aprendizado, uma vez que, por não lembrarem de sua época de infância, logo, fica praticamente impossível visualizar as verdadeiras duvidas que a criança realmente tem. Nesse contexto, qualquer explicação que os educadores proporcionar a uma criança, não vai adiantar, uma vez que, muito do que fora explicado, nada iria servir para a mentalidade infantil se o seu inconsciente não se satisfazer com tais explicações. Justamente por isso que o próprio inconsciente da criança irá gerar as suas próprias explicações sobre a sexualidade.
Nessa perspectiva, os professores devem abordar o seu conhecimento, sem resumir-se a métodos pedagógicos, pois tais métodos trilham objetivos, resultados e metodologias, uniformizando assim o aprendizado e não respeitam as estruturas inconscientes do subjetivismo. O professor deve lidar com uma sala de aula, negando todo o seu papel repressor imposto culturalmente e aceitar que cada aluno irá digerir o conhecimento proporcionado por ele de uma maneira singular, ou seja o aluno só irá aprender o que lhe fazer realmente sentido, tendo em vista as suas necessidades psicológicas.
Enfim, o profissional da educação deve ser menos repressor e aceitar que ao atuar em uma sala de aula, ele vai está diante de diferentes subjetividades, logo, os seus resultados esperados, não será de maneira alguma uniformizado. Portanto, o papel de um professor orientado psicanaliticamente é orientar os seus alunos a se ocuparem em atividades intelectuais, estimulando assim, o próprio processo de sublimação.
Conclusão
A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser explicada, em parte, pela sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo, - objeto natural de interesse das pessoas e também sua principal fonte de felicidade -, como único e poderoso móvel do comportamento humano. A novidade foi recebida com divertido espanto e prazerosa excitação. Em que pese os detalhes picarescos de muitas narrativas clínicas, a abordagem do sexo sob um aspecto científico, em plena era vitoriana, representou uma sublimação, que permitiu que a sexualidade fosse, sem restrições morais, discutida em todos os ambientes, inclusive nos conventos. Essa permeabilidade subjetiva confundiu-se com profundidade científica, e a teoria foi levada à aplicação em todos os campos das relações sociais, nas artes, na educação, na religião, em análises biográficas, etc.
A Psicanálise é a ciência que estuda o inconsciente humano. Nesse contexto, o homem é manipulado pelo inconsciente, ou seja, as ações conscientes são guiadas pelo inconsciente. A grande descoberta da psicanálise se deu ao grande destaque sobre a questão da sexualidade como força central da vida.
Freud notou que na maioria dos pacientes que teve desde o início de sua prática clínica, os distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou histérica, estavam relacionados a sentimentos reprimidos com origem em experiências sexuais perturbadoras. Assim ele formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava nos sintomas era conseqüência da energia ligada à sexualidade; a energia reprimida tinha expressão nos vários sintomas que serviam como um mecanismo de defesa psicológica. Essa força, o instinto sexual, não se apresentava consciente devido à "repressão" tornada também inconsciente; Revelação da "repressão" inconsciente era obtida pelo método da livre associação (inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose) e interpretação dos sonhos (conteúdo manifesto e conteúdo latente).
A vida psíquica dá sentido e coloração afetivo-sexual a todos os objetos e a todas pessoas que nos rodeiam e entre os quais vivemos. Por isso, sem que saibamos por que desejamos e amamos certas coisas e pessoas odiamos e tememos outras. As coisas e os outros são investidos por nosso inconsciente com cargas afetivas de libido. É por esse motivo que certas coisas, certos sons, certas cores, certos animais, certas situações nos enchem de pavor, enquanto outras nos enchem de bem-estar, sem que o possamos explicar. A origem das simpatias e antipatias, amores e ódios, medos e prazeres estão totalmente ligados aos primeiros meses e anos de nossa vida, quando se formaram as primeiras relações afetivas entre a criança e o meio. Essa dimensão imaginária de nossa vida psíquica - substituições, sonhos, lapsos, atos falhos, prazer e desprazer com objetos e pessoas, medo ou bem-estar com objetos ou pessoas indica que os recursos inconscientes para surgir indiretamente á consciência possuem dois níveis: o nível do conteúdo manifesto (no sonho; a palavra esquecida e a pronunciada, no lapso, no ato falho) e o nível do conteúdo latente, que é o conteúdo inconsciente real e oculto (os desejos sexuais).
E justamente por não controlar as nossas manifestações provenientes da nossa inconsciência, que buscar um método que faça com que a psicanálise se torne uma ferramenta em prol à educação é ser contrário ao próprio dinamismo que a psicanálise busca explicar, nas ações dos homens.
Bibliografia
KUPFER, M.C. Freud e a Educação: o mestre do impossível. 3ª edição. São Paulo, Editora Scipione, 1997.
Textos:PSICANÁLISE: SUA CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO.
DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL: A TEORIA DE FREUD.
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segunda-feira, junho 22, 2009

Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e a historiografia brasileira

Achei bastante interessante esse texto. Como no momento não o tempo não está sendo meu aliado, deixo ele aqui sem comentário, pelo menos por enquanto. Pois tal escrito instiga um debate sem tamanho.
Enfim, parabenizo o autor identificado como "Miss Emery. E deixarei o site que divulga os seus textos:
Fazendo parte de uma grande geração de intelectuais, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. relêem a história do Brasil de um novo lugar social, que é a universidade brasileira. Por sua vez, esta instituição tem suas normas, modelos, práticas e preocupações, situação que vai estruturar toda uma leitura de redescoberta das origens do país, na qual a sociedade figura como tema principal. Desta maneira, estes estudiosos percebem a história nacional não apenas através de sua política e de suas elites, mas também através de sua cultura, suas raízes e suas tradições.
Ao analisar o Brasil contemporâneo através do desenvolvimento de sua sociedade, estes pesquisadores exibem em seus trabalhos algo em comum, ao mesmo tempo em que diferenciam suas leituras através de suas referências teóricas, de seus instrumentos metodológicos e de suas demandas particulares. Devido a estas circunstâncias, o que se percebe são divergências e corroborações nos trabalhos propostos por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr., que ao estudarem a temática das origens da sociedade brasileira, apresentam importantes obras para a historiografia nacional.
Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala, editado na década de 30 do século passado, apreende a sociedade brasileira, principalmente, através do hibridismo das três raças que constituem a maior parte da população do Brasil. Através desta entrada, Freyre exibe a mistura entre negro, índio e branco como algo positivo, pois, ao seu entendimento, a miscigenação é um dos elementos chave na conquista dos trópicos. Assim, este autor exibe uma reinterpretarão da mestiçagem da população brasileira, indo diretamente contra as teorias da época na qual sua obra foi lançada.
Freyre mostra os portugueses como um povo indefinido, que por si só já é híbrido, de sangue mourisco nas veias, vivendo em um país situado no limiar ocidental da Europa, ajustado ao clima do norte da África. Ele exibe a população portuguesa como um povo apto a colonização dos trópicos, devido ao seu caráter prontamente miscigenado, de grande mobilidade, de fácil adaptação às circunstâncias e ao clima. Assim, é na mistura desta gente já miscigenada, ao índio e ao negro, que Freyre percebeu o triunfo da colonização européia. Afirmando em seu livro: o português não: por toda aquelas felizes predisposições de raça, de mesologia e de cultura a que nos referimos, não só conseguiu vencer as condições de clima e de solo desfavoráveis ao estabelecimento de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente branca para a tarefa colonizadora unindo-se a mulher de cor. (1988, p.51)
Ao afirmar o benefício da miscigenação à colonização, Freyre expõe e argumenta algumas questões relevantes para se entender à sociedade e sociabilidade brasileira. Em Casa Grande e Senzala, este intelectual exibe ao Brasil a face agrária, escravocrata, patriarcal e híbrida da nação. Apresenta a sociedade brasileira através de sua cultura e de seus costumes, evidenciando o país como uma resultante, totalmente original, daquelas nações e povos que o formaram.
Outra questão abordada por Freyre, em seu livro, é a importância da família patriarcal na colonização e na formação da sociedade brasileira. Para ele, a família rural é o grande agente colonizador do território. A família patriarcal é “ o vivo e absorvente órgão da formação social brasileira, que reuniu sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas” . (ibidem, p.60)
Gilberto Freyre mostra que os vícios sociais não são por causa da miscigenação brasileira, mas sim, por causa atmosfera da monocultura escravocrata e da família patriarcal, que interferia diretamente no mando político. Ele vai diretamente contra a leitura evolucionista da época, ao contrapor a idéia de que o brasileiro era degenerado por causa do sangue negro e indígena, ao mesmo tempo em que revoga o etnocentrismo, ao avaliar a cultura brasileira através de valores próprios.
Portanto, Gilberto Freyre mostra em sua obra uma sociedade cheia de antagonismos ao expor a escravidão e o intercâmbio sexual, o contrate entres as três culturas formadoras do país, o sincretismo religioso. Ao buscar as origens da sociedade brasileira, ele apresenta uma sociedade nova, fomentada por diversos valores, original em relação às culturas que a constituiu. O que se vê em seu trabalho é uma forte referência ao culturalismo, que, segundo suas palavras, é:resultado de uma combinação nova de várias culturas que após um período mais ou menos agudo de crise, caracterizado por antagonismos ou divergências de ordem cultural, tenha atingido uma fase ou estado de interpretação fecunda de valores diversos daí resultando uma cultura diferenciada das de qualquer das origens. ( Idem, 1952)
Outra obra de grande valor a historiografia brasileira é o livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pelo pesquisador Caio Prado Jr., em 1942. É nesta obra que ele apresenta a continuidade das estruturas coloniais na economia e na sociedade do Brasil presente.
De igual importância para historiografia brasileira é a obra Raízes do Brasil, escrita por Sérgio Buarque de Holanda, no ano de 1936. Neste livro o autor discute o choque entre a tradição e modernidade na sociedade brasileira. Para tal, ele busca nas raízes desta sociedade uma explicação para o atraso social existente no país, produzindo, ao mesmo tempo, hipóteses para uma possível superação deste retrocesso.
Segundo este autor, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada a colonização e ao seu legado cultural, político e institucional. Assim, o tradicionalismo da política brasileira vem de seu passado ibérico, ou seja, de suas raízes.
Sérgio Buarque percebe que a modernização é impedida pela herança de uma tradição ibérica e que a absorção das instituições portuguesas, dotadas de uma historicidade própria, traz consigo uma incompatibilidade com o contexto social brasileiro, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes. É através desta compreensão que ele formula alguns conceitos fundamentais ao entendimento de sua obra.
O primeiro conceito que ele usa para explicar a sociedade através de suas origens é a cultura da personalidade. Para ele, a cultura da personalidade é a frouxidão de laços sociais que implicam em formas de organização solidária e ordenada. É uma cultura que atribui valor ao indivíduo autônomo e não à organização espontânea, formada pela coesão social. Por sua vez, este predicado está intimamente ligado à outra herança ibérica, que é a repulsa ao trabalho. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, “a carência dessa moral do trabalho se ajusta bem a uma reduzida capacidade de organização social. Efetivamente o esforço humilde, anônimo e desinteressado é agente poderoso da solidariedade dos interesses e, como tal, estimula a organização racional dos homens e sustenta a coesão entre eles”. (2000, p.39)
A segunda característica fundamental ao entendimento da sociedade contemporânea através de suas raízes é a ética da aventura. É através desta análise que Holanda explica como ocorreu a exploração das terras portuguesas no novo mundo. Também é através deste princípio que ele exibe a figura do aventureiro e do trabalhador – par ideal de conceitos antagônicos formulado pelo autor através de concepções weberianas. Para este estudioso, a colonização do Brasil foi promovida pelo espírito do português aventureiro, que exibe a mobilidade e a adaptabilidade, que nega a estabilidade e o planejamento, que corrobora com a cultura do ócio e se distingue do tipo trabalhador, e de sua ética do trabalho, que preza pelo “esforço sem perspectiva de rápido proveito material” (ibidem, p.44). Também é através dessa negação do trabalho, somada a falta de planejamento, a uma demanda de mercado e, a pequena população do reino, que aparece um dos principais elementos da colonização portuguesa no Brasil, a escravidão do africano.
Seguindo a análise feita por Sérgio Buarque de Holanda, encontra-se o terceiro conceito por ele formulado, o ruralismo. É nesta característica que aparece outro grande componente da sociedade brasileira, a família patriarcal. É a partir desta outra herança ibérica, que este estudioso propõe a quarta consideração sobre o tradicionalismo brasileiro, o homem cordial. Por sua vez, este é o símbolo da relação social sem formalidade, que leva para a vida pública a vida privada, ao propor acesso à existência política através de relações sociais de proximidade e afetividade.
Portanto, é através da busca das raízes da sociedade brasileira, que Sérgio Buarque de Holanda exibe a origem do tradicionalismo, ou seja, do conservadorismo que impede a modernização do Brasil através da constituição de um Estado Liberal. É através destas origens sociais, que ele insere sua argumentação crítica e propõe uma revolução pautada pela reforma política, pela busca da meritocracia, da impessoalidade na vida pública, pelo planejamento, pelo resultado em longo prazo, ou seja, pela criação de algo que atenda as necessidades modernizadoras da nação.
Ao reler a gênese da sociedade brasileira, Sérgio Buarque de Holanda lança mão de referências teóricas desenvolvidas pela sociologia alemã. Como já foi citado anteriormente, este estudioso se inspira na obra de Max Weber, principalmente, quando ele propõe um estado liberal à nação brasileira e expõe um par ideal de conceitos opostos, simbolizados pela figura do aventureiro e do trabalhador. Para ele a modernidade está inserida na cultura urbana, letrada, baseada no trabalho e no capitalismo.
Para tal, ele parte da premissa de que a história tem em sua evolução um sentido, ou seja, uma orientação que norteia os rumos da sociedade e da economia.
Por sua vez, Prado procura na origem da colonização o sentido histórico que baliza o presente nacional. Ele segue sua análise enfatizando a história do Brasil como um processo particular, que faz parte do processo geral que é a história do mundo moderno. Assim, ele percebe a colonização dos trópicos como um capítulo da história do comércio europeu, e, conclui que o sentido desta é dado pela empreitada comercial.
É após esta conclusão que sua argumentação se torna enfática, pois é a partir deste sentido que ele entende as estruturas que vão perpassar na sociedade de seu momento.
Em sua análise, Prado aborda questões deste passado colonial, geradas pelo sentido comercial, para sugerir algumas continuidades em questões do presente. Entre estas abordagens estão à economia agro-exportadora, arranjo econômico criado no passado e existente no presente; a escravidão moderna, decorrente da necessidade de mão-de-obra, que, segundo este autor, não contribuiu positivamente a sociedade, devido a sua função de mero instrumento gerador de força produtiva; o setor inorgânico da sociedade, formado por indivíduos que não se encaixam naquele perfil bipolar constituídos por senhores e escravos, não possuindo alguma força social; e, a família patriarcal, órgão basilar do domínio rural e da sociedade colonial, ainda presente na primeira metade do século XX.
Portanto, é a partir desta conclusão sobre o sentido comercial da colonização que Caio Prado Jr. tece a rede entre passado e presente, em uma frágil acepção evolutiva, devido à falta de rupturas. Ele identifica estruturas geradas pela empresa comercial, que estão intricadas não só em seu presente, mas em todos os momentos da história do Brasil, gerando um continuísmo político entre colônia, império e república.
Seguindo uma matriz marxista, Caio Prado Jr. percebe a história brasileira através do sentido evolutivo proposto por Marx. Sua construção de texto é bem clara em relação seus referenciais teóricos, devido ao uso de termos e estruturas de pensamento marxistas.
Por diversas vezes ele propõe em sua análise questões referentes a relações de desigualdade, a meios de produção e força de trabalho, a luta de classe, entre outras concepções de caráter marxista. Ao ver na história do Brasil um sentido, este autor recorre claramente ao materialismo histórico, que evidencia o permanente processo de produção de necessidades fundamentais ao capitalismo.
Deste modo, o que se percebe é o comum interesse nestes três autores ao buscarem no passado colonial subsídios que expliquem um Brasil contemporâneo a eles. A explicação da nação brasileira, através da temática de sua origem, é o principal traço de congruência entre estas três diferentes maneiras de perceber a sociedade brasileira.
Simultaneamente a esta linha geral de atuação existem outros pontos argumentativos que merecem destaque. Entre estes assuntos, pode-se citar a importância da família rural e patriarcal para o estudo da sociedade brasileira, que, em linhas gerais, é vista pelos três como uma herança ibérica que estrutura grande parte da organização política e social da nação. Outra questão comum, apesar de aparecer de forma divergente nas obras, é o grau de importância da escravidão africana e da miscigenação na sociedade. Para Freyre, estes são as representações do triunfo da colonização, devido ao seu caráter povoador, benéfico e culturalista. Para Sérgio Buarque, a escravidão africana é um dos elementos que sustenta a cultura do ócio, umas das principais características do grande agente colonizador, o aventureiro. Para Prado, a escravidão não contribui positivamente devido a sua funcionalidade, além de proporcionar uma população sem força social, que não está inserida dicotomia senhor e escravo, base da luta de classe do passado brasileiro.
Por fim, deve aqui também se destacar a visão que cada um tem sobre quem é o grande agente colonizador dos trópicos. Para o primeiro, a família rural, de caráter patriarcal, é a grande fonte da colonização. É ela que contribui à povoação do território. Para o segundo autor, o grande agente colonizador é o aventureiro, que com sua mobilidade e adaptabilidade desbravou um território ainda inóspito. E, para o último, o grande atuante da colonização foi a empresa comercial, que balizada por Estado mercantil, proporcionou necessidades inerentes a colonização.
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Iraci del Nero. Repensando o modelo interpretativo de Caio Prado Jr. Disponível em: Acessado em: 13 de agosto de 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1988. 587 p.
FREYRE, Gilberto. Ainda a propósito do espírito de nacionalidade do Brasil. In: _____ Diário de Pernambuco. Recife: 1952. Disponível em: .Acessado em: 13 de agosto de 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Publifolha, 2000.

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sexta-feira, junho 12, 2009

Ecologia e Socialismo - Michael Lowy

Michael Lowy nasceu em São Paulo, no final da primeira metade do século XX, teve sua formação acadêmica iniciada na década de 60 do século passado, mesma época que também manteve uma militância política. O citado autor atualmente se enquadra como um notório intelectual, autor de várias publicações, no qual, podemos avaliar um forte teor político e marxista nessas obras.

A citada obra foi publicada, tendo em vista o intuito do autor, trabalhar através de um diálogo bibliográfico e ideológico a relação entre, as lutas ambientais e as idéias socialistas, principalmente em um momento de intersecção entre as duas temáticas, no que diz respeito a uma crítica fundamentada ao regime capitalista. È nessa perspectiva que o intelectual apresenta em virtuose a obra citada, ressaltando a priori, uma homenagem da histórica luta do ativista político Chico Mendes, tendo o próprio, como uma referencia potencial, no que diz respeito a ligação entre a luta política e ambiental.
É válido ressaltar que a obra tem uma notória fundamentação teórica ligada aos estudos publicados por Karl Marx e Friedrich Engels, tal observação se comprova, nas diversas citações esquematizadas pelo autor ao longo do livro. No entanto, tal comentário não tem objetivo de reduzir a obra Ecologia e Socialismo, como uma simples compilação de fragmentos textuais, e sim, ressaltar a autoridade intelectual que Lowy, detém, em trabalhar Marx e Engels, entre outras fontes bibliográficas (marxistas ou não) com grande maestria, através de fecundo um diálogo textual.
É válido ressaltar que a citada obra abrange ao longo de suas páginas uma relação crítica entre as causas ambientais junto ao processo de desigualdade social imposto pela exploração capitalista. Tal fato, é fundamentado em um diálogo historiográfico e bibliográfico, na leitura de Marx e Engels, no que diz respeito a formulação de um campo teórico, denominado de Ecossocialismo, fazendo uma ponte entre a critica política e a crítica ambiental ao capitalismo. Enxergando tal regime como algo incompatível à preservação da humanidade e da natureza. Enfim, a contextualização da obra reside em uma crítica a uma ética capitalista, marcada por valores quantitativos em detrimento a valores sociais, sendo assim um regime que desumaniza a economia em nome do lucro e da acumulação de capital.Em torno de uma crítica política, há também um notório elogio aos esforços ecossocialistas em manter vivo a esperança que um outro mundo é possível, onde o “bem comum” e a justiça social seja uma constante nessa transformação.
A guisa de uma conclusão, é válido destacar alguns pontos:
  • “Apesar de não haver uma ligação direta entre os estudos de Karl Marx e Friedrich Engels com as causas ambientais, alguns conceitos idealizados por tais intelectuais podem alicerçar estudos sistemáticos a respeito da ecologia moderna. Assim fatores como: devastação dos solos, destruição de florestas, poluição atmosférica, estão fortemente ligadas à exploração proletária. Sendo assim um virtuoso campo de reflexão a respeito de uma ruptura com a sociedade material capitalista”.
  • “Devido ao crescimento acelerado da exploração do meio natural, as idéias ecossocialistas se manifestam como críticas virtuosas a essa “crise de civilização” presente na contemporaneidade”.
  • “É através de uma Revolução Social, baseada em uma ética democrática e humanizada, onde o bem estar social fosse o fim de todas as demandas sociais.
  • A ecologia social corresponde a uma ferramenta política com amplas potencialidades de quebrar os paradigmas da contemporaneidade, baseado em princípios neoliberais.
  • “Um novo mundo será possível, tendo em vista a necessidade de se romper com a ética desumana do capital e de sua estrutura econômica exterior ao contexto social. Nesse contexto, ecologia e socialismo carregam consigo uma fértil instrumentalização teórica fundamentada em valores que não contemplam a lógica de mercantilização do planeta e focalizam suas ações na construção de uma ética democrática e auto-sustentável”.
Pois bem, tendo em vista o que foi explanado, considero que a obra “Ecologia e Socialismo” se apresenta como um importante suporte intelectual sobre a temática abordada, principalmente pela utilização de um vocabulário acessível ao publico em geral. Com isso, a indicação de tal obra se estende, não somente para ambientalistas, mas também para humanistas em geral, jovens, militantes políticos e socialistas.
Enfim, é de fundamental importância da atenção a preocupação que o autor detém ao longo do livro em relacionar ao contexto ambiental o conteúdo político, ressaltando assim o paralelo entre política e meio ambiente, contextualizando o discurso ambientalista não de uma forma isolada, e sim mostrando a alta complexidade que a temática envolve no contexto social.
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