A Nossa Cachaça
Publicado em 15.10.2006
Publicado em 15.10.2006
É muito oportuna a publicação do livro de Octávio Pinto Carvalheiro A nossa cachaça, primeira bebida destilada na América Latina, editado pela Editora Massangana, tanto face à importância que esta bebida tem no gosto da população, como porque o autor, muito sensível à sua análise, e conhecendo-a profundamente, soube conciliar, no livro, os conhecimentos científicos com as informações sobre a importância histórica, econômica e social da bebida.
Com sua sólida formação universitária, o autor aborda o tema de forma a agradar às pessoas das mais diversas formações, caracterizando as mais diversas idéias que desperta e as denominações que toma nas diferentes regiões do País, e indica as formas pelas quais é consumida. Isto porque, em termos nordestinos, a cachaça é, a um só tempo, bebida da casa-grande e da senzala, sendo apreciada das mais diversas formas e conforme as atrações que se apresentam ao consumidor. Assim, ela é tomada de forma pitoresca, injetada no caju ou colocada dentro do fruto do coqueiro, para ser bebida com a água-de-coco. Nos restaurantes de luxo assim como nos mais populares, o seu consumo é feito com limão e açúcar, a chamada “caipirinha”, bebida que os mais sofisticados costumam modificar, substituindo a autêntica cachaça pela vodca, aí denominada “caipirosca”. Na história da cana-de-açúcar no Brasil, a cachaça teve grande importância, vez que os chamados engenhos bangüês, além de fabricar o açúcar mascavo, geralmente fabricavam também aguardente, que da área produtora, a região da Mata, era levada para o Agreste e o Sertão no lombo de animais ou em caminhões, que se dirigiam aos engarrafamentos nas cidades de maior expressão populacional, como o Recife, Campina Grande, Caruaru, etc. Nessas, muitas vezes o líquido era engarrafado para distribuição e venda no mercado local, a varejo.
Nas engenhocas dos brejos do Agreste e das chamadas serras frescas do Sertão, a cachaça, muitas vezes, era o produto único, apenas acompanhado pelas rapaduras e pelas batidas, muito apreciadas nas região semi-árida. O brejo paraibano, a serra de Triunfo, pernambucana, o Araripe cearense eram importantes produtores de cachaça, da mesma forma que as ilhas do São Francisco, com os seus engenhos movidos a tração animal, que sobreviveram até a primeira metade do século 20.
A importância da cachaça chegou a tal ponto que teve uma grande influência no folclore, na poesia e na música popular, tornando-se famosos versos que a elogiam, por parte de poetas como Ascenço Ferreira e Tom Jobim. A sua importância em certas áreas é de tal ordem que ela é associada à toponímia. Assim, no Rio de Janeiro, a expressão Parati, nome de formosa cidade histórica, é utilizada também para definir a bebida oriunda da cana-de-açúcar.
Como químico, Octávio Carvalheira utiliza o seu livro para informar ao grande público o processo de industrialização da cana-de-açúcar até a cachaça, a evolução histórica do mesmo e as restrições que essa importante indústria sofreu, sobretudo no período colonial, de vez que a metrópole temia a sua concorrência, entre os consumidores, como o vinho oriundo de Portugal. O processo de industrialização é descrito, analisado e ilustrado com gravuras, a fim de que o leitor se abebere do mesmo. E a descrição é tão bem-feita que o leitor se transforma, psicologicamente, em consumidor, quase sentido na boca o gosto e o cheiro da cachaça.
Octácvio Carvalheira procura dar uma visão em profundidade do processo de produção e comercialização da cachaça, mostrando como hoje, ao contrário do que ocorria no período colonial, ela é também, como os outros produtos da cana – o açúcar e o álcool –, um produto de exportação, conseqüentemente, um produto nobre dentro dos conceito de um país como o Brasil que, apesar de seu crescimento econômico, ainda é um país colonial ou de descolonização.
Concluindo, admitimos que o seu livro, pelo desenvolvimento do assunto que enfoca, pelo interesse que desperta, pelo estilo primoroso com que trata o tema e pela ilustração que possui, é um texto a ser lido com o maior interesse pelo público mais diversificado do Brasil, país grande consumidor de cachaça.
############################################################################################################
A Nossa Cachaça
Publicado em 15.10.2006
Publicado em 15.10.2006
É muito oportuna a publicação do livro de Octávio Pinto Carvalheiro A nossa cachaça, primeira bebida destilada na América Latina, editado pela Editora Massangana, tanto face à importância que esta bebida tem no gosto da população, como porque o autor, muito sensível à sua análise, e conhecendo-a profundamente, soube conciliar, no livro, os conhecimentos científicos com as informações sobre a importância histórica, econômica e social da bebida.
Com sua sólida formação universitária, o autor aborda o tema de forma a agradar às pessoas das mais diversas formações, caracterizando as mais diversas idéias que desperta e as denominações que toma nas diferentes regiões do País, e indica as formas pelas quais é consumida. Isto porque, em termos nordestinos, a cachaça é, a um só tempo, bebida da casa-grande e da senzala, sendo apreciada das mais diversas formas e conforme as atrações que se apresentam ao consumidor. Assim, ela é tomada de forma pitoresca, injetada no caju ou colocada dentro do fruto do coqueiro, para ser bebida com a água-de-coco. Nos restaurantes de luxo assim como nos mais populares, o seu consumo é feito com limão e açúcar, a chamada “caipirinha”, bebida que os mais sofisticados costumam modificar, substituindo a autêntica cachaça pela vodca, aí denominada “caipirosca”. Na história da cana-de-açúcar no Brasil, a cachaça teve grande importância, vez que os chamados engenhos bangüês, além de fabricar o açúcar mascavo, geralmente fabricavam também aguardente, que da área produtora, a região da Mata, era levada para o Agreste e o Sertão no lombo de animais ou em caminhões, que se dirigiam aos engarrafamentos nas cidades de maior expressão populacional, como o Recife, Campina Grande, Caruaru, etc. Nessas, muitas vezes o líquido era engarrafado para distribuição e venda no mercado local, a varejo.
Nas engenhocas dos brejos do Agreste e das chamadas serras frescas do Sertão, a cachaça, muitas vezes, era o produto único, apenas acompanhado pelas rapaduras e pelas batidas, muito apreciadas nas região semi-árida. O brejo paraibano, a serra de Triunfo, pernambucana, o Araripe cearense eram importantes produtores de cachaça, da mesma forma que as ilhas do São Francisco, com os seus engenhos movidos a tração animal, que sobreviveram até a primeira metade do século 20.
A importância da cachaça chegou a tal ponto que teve uma grande influência no folclore, na poesia e na música popular, tornando-se famosos versos que a elogiam, por parte de poetas como Ascenço Ferreira e Tom Jobim. A sua importância em certas áreas é de tal ordem que ela é associada à toponímia. Assim, no Rio de Janeiro, a expressão Parati, nome de formosa cidade histórica, é utilizada também para definir a bebida oriunda da cana-de-açúcar.
Como químico, Octávio Carvalheira utiliza o seu livro para informar ao grande público o processo de industrialização da cana-de-açúcar até a cachaça, a evolução histórica do mesmo e as restrições que essa importante indústria sofreu, sobretudo no período colonial, de vez que a metrópole temia a sua concorrência, entre os consumidores, como o vinho oriundo de Portugal. O processo de industrialização é descrito, analisado e ilustrado com gravuras, a fim de que o leitor se abebere do mesmo. E a descrição é tão bem-feita que o leitor se transforma, psicologicamente, em consumidor, quase sentido na boca o gosto e o cheiro da cachaça.
Octácvio Carvalheira procura dar uma visão em profundidade do processo de produção e comercialização da cachaça, mostrando como hoje, ao contrário do que ocorria no período colonial, ela é também, como os outros produtos da cana – o açúcar e o álcool –, um produto de exportação, conseqüentemente, um produto nobre dentro dos conceito de um país como o Brasil que, apesar de seu crescimento econômico, ainda é um país colonial ou de descolonização.
Concluindo, admitimos que o seu livro, pelo desenvolvimento do assunto que enfoca, pelo interesse que desperta, pelo estilo primoroso com que trata o tema e pela ilustração que possui, é um texto a ser lido com o maior interesse pelo público mais diversificado do Brasil, país grande consumidor de cachaça.
############################################################################################################
0 comentários:
Postar um comentário