quinta-feira, março 01, 2012

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

A Geografia Científica no Brasil
Publicado em 25.02.2007

O desenvolvimento dos estudos científicos da geografia no Brasil ganharam grande impulso com a criação das universidades (sobretudo a Universidade de São Paulo), que passaram a ministrar cursos em nível superior, o surgimento da Associação dos Geógrafos Brasileiros, por iniciativa de Pierre Deffontaines, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este com a missão de realizar, em 1940, o recenseamento da população e o levantamento do mapa do Brasil ao milionésimo. Essas instituições, aglutinando especialistas em geografia, procuraram, ao mesmo tempo, formar geógrafos e fazer pesquisas em várias regiões do País, para que melhor se conhecesse o espaço geográfico de regiões ainda pouco exploradas e se consolidasse o conhecimento do território, permitindo que as áreas marginais, fronteiriças, se integrassem às porções já ocupadas.

Daí a grande campanha feita pelo governo Vargas de ocupação do Oeste, com a chamada Marcha para o Oeste, e o desmembramento de grandes Estados, como o Pará, o Amazonas e Mato Grosso, com a criação de territórios federais, como ocorreu como os atuais Estados do Amapá, de Roraima, então denominado de Rio Branco, de Rondônia, inicialmente denominado de Guaporé, e dos extintos territórios de Ponta Porã e de Iguaçu, este desmembrado do Paraná e de Santa Catarina.

Esse tipo de geografia, profundamente descritivo e interpretativo, baseava-se, sobretudo, nos moldes importados da França por mestres que aqui se fixaram por anos, como o já citado Deffontaines, Pierre Mombeig e Francis Ruellan. Ao mesmo tempo, vários jovens geógrafos foram enviados para fazer cursos de pós-graduação em universidades européias e norte-americanas, modernizando a geografia brasileira, professores também foram convidados a ministrar cursos de curta duração no Brasil, como correu por ocasião da realização do Congresso Internacional de Geografia, no Rio de Janeiro, em 1956. Ao mesmo tempo que ocorriam esses fatos no ensino secundário, a geografia, dominada pelos especialistas na apologia das nomenclaturas, foi sendo substituída pela geografia moderna, descritiva e interpretativa. Assistimos, na utilização de livros didáticos, à substituição dos elaborados por Mário da Veiga Cabral, pelos de Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo.

Nos anos 60, durante a ditadura militar, ocorreu a penetração, na geografia brasileira, da chamada corrente quantitativista ou teorética, sobretudo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Unesp, câmpus de Rio Claro, procurando introduzir tecnologias suecas e saxônicas no nesta disciplina, eliminando a influência humanista. Procurava-se libertar a geografia da influência da história, substituindo-a pela matemática e pela estatística. A teorética fez grande proselitismo, conquistou adeptos, mas foi combatida por fortes grupos de geógrafos, liderados por Milton Santos, Orlando Valverde e Aziz Ab’Saber.

Com a perda de força do regime militar, houve uma reação contra a matematização da geografia e alguns autores passaram a desenvolver a chamada geografia crítica, com influência marxista. Ocasião em que se desenvolveram áreas afins, como a geopolítica e a geoeconomia, e se passou a ter uma preocupação com a expansão brasileira no exterior, América do Sul, África Meridional e, até certo ponto, Caribe.

Hoje, com a expansão dos cursos de pós-graduação em geografia, e com cursos afins do mesmo nível, na área do planejamento urbano e rural e de política ambiental, observa-se o surgimento de várias tendências, como a geografia da percepção, desenvolvida principalmente em Belo Horizonte, a moderna geografia agrária, preocupada com a ação dos movimentos populares na organização da produção agrícola, a geografia física ambiental, que cresce estimulada pelo processo de degradação do meio ambiente, a geografia física, ligada à utilização de novas tecnologias, como a o uso do geoprocessamento, muito divulgada a partir da UFRJ, a geopolítica, voltada tanto para os processos de territorialização como de reterritorialização, a geo-economia, voltada para a análise do processo mundial de globalização e também da expansão da influência brasileira no exterior, sobre territórios vizinhos, etc.
A Geografia Científica no Brasil
Publicado em 25.02.2007

O desenvolvimento dos estudos científicos da geografia no Brasil ganharam grande impulso com a criação das universidades (sobretudo a Universidade de São Paulo), que passaram a ministrar cursos em nível superior, o surgimento da Associação dos Geógrafos Brasileiros, por iniciativa de Pierre Deffontaines, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este com a missão de realizar, em 1940, o recenseamento da população e o levantamento do mapa do Brasil ao milionésimo. Essas instituições, aglutinando especialistas em geografia, procuraram, ao mesmo tempo, formar geógrafos e fazer pesquisas em várias regiões do País, para que melhor se conhecesse o espaço geográfico de regiões ainda pouco exploradas e se consolidasse o conhecimento do território, permitindo que as áreas marginais, fronteiriças, se integrassem às porções já ocupadas.

Daí a grande campanha feita pelo governo Vargas de ocupação do Oeste, com a chamada Marcha para o Oeste, e o desmembramento de grandes Estados, como o Pará, o Amazonas e Mato Grosso, com a criação de territórios federais, como ocorreu como os atuais Estados do Amapá, de Roraima, então denominado de Rio Branco, de Rondônia, inicialmente denominado de Guaporé, e dos extintos territórios de Ponta Porã e de Iguaçu, este desmembrado do Paraná e de Santa Catarina.

Esse tipo de geografia, profundamente descritivo e interpretativo, baseava-se, sobretudo, nos moldes importados da França por mestres que aqui se fixaram por anos, como o já citado Deffontaines, Pierre Mombeig e Francis Ruellan. Ao mesmo tempo, vários jovens geógrafos foram enviados para fazer cursos de pós-graduação em universidades européias e norte-americanas, modernizando a geografia brasileira, professores também foram convidados a ministrar cursos de curta duração no Brasil, como correu por ocasião da realização do Congresso Internacional de Geografia, no Rio de Janeiro, em 1956. Ao mesmo tempo que ocorriam esses fatos no ensino secundário, a geografia, dominada pelos especialistas na apologia das nomenclaturas, foi sendo substituída pela geografia moderna, descritiva e interpretativa. Assistimos, na utilização de livros didáticos, à substituição dos elaborados por Mário da Veiga Cabral, pelos de Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo.

Nos anos 60, durante a ditadura militar, ocorreu a penetração, na geografia brasileira, da chamada corrente quantitativista ou teorética, sobretudo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Unesp, câmpus de Rio Claro, procurando introduzir tecnologias suecas e saxônicas no nesta disciplina, eliminando a influência humanista. Procurava-se libertar a geografia da influência da história, substituindo-a pela matemática e pela estatística. A teorética fez grande proselitismo, conquistou adeptos, mas foi combatida por fortes grupos de geógrafos, liderados por Milton Santos, Orlando Valverde e Aziz Ab’Saber.

Com a perda de força do regime militar, houve uma reação contra a matematização da geografia e alguns autores passaram a desenvolver a chamada geografia crítica, com influência marxista. Ocasião em que se desenvolveram áreas afins, como a geopolítica e a geoeconomia, e se passou a ter uma preocupação com a expansão brasileira no exterior, América do Sul, África Meridional e, até certo ponto, Caribe.

Hoje, com a expansão dos cursos de pós-graduação em geografia, e com cursos afins do mesmo nível, na área do planejamento urbano e rural e de política ambiental, observa-se o surgimento de várias tendências, como a geografia da percepção, desenvolvida principalmente em Belo Horizonte, a moderna geografia agrária, preocupada com a ação dos movimentos populares na organização da produção agrícola, a geografia física ambiental, que cresce estimulada pelo processo de degradação do meio ambiente, a geografia física, ligada à utilização de novas tecnologias, como a o uso do geoprocessamento, muito divulgada a partir da UFRJ, a geopolítica, voltada tanto para os processos de territorialização como de reterritorialização, a geo-economia, voltada para a análise do processo mundial de globalização e também da expansão da influência brasileira no exterior, sobre territórios vizinhos, etc.

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