sábado, dezembro 15, 2012

Afinal, Quem Manda no Brasil?



O Instituto Mais Democracia e a Cooperativa EITA – Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão lançaram ontem, dia 13 de dezembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o ranking “Quem são os proprietários do Brasil?”. O material, que está todo disponível na internet de forma interativa, consiste na listagem de 397 empresas ordenadas pelo poder que concentram. Mas como quantificar este poder?

Segundo Alan Tygel, engenheiro cooperado da EITA, aí é que está o diferencial desta pesquisa. Outros rankings que organizam empresas pelo seu tamanho são conhecidos. Este, porém, foi atrás das relações de dominação entre as empresas, através da análise de propriedade das ações e demais dados disponibilizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As empresas que aparecem no ranking são “controladoras últimas”, empresas que não necessariamente produzem alguma coisa, têm uma marca ou um nome forte no mercado. Ou seja, essas empresas, muitas vezes, servem apenas para controlar outras que, essas sim, temos uma relação “próxima”. O exemplo mais citado, sem dúvida, é o da Blessed Holdings, a sétima empresa mais poderosa do Brasil. Alan brinca que nem mesmo o Google, que sabe de todas as coisas, conhece esta empresa – ninguém sabe de onde ela é, o que faz ou quem são seus proprietários. Sabemos, no entanto, que ela é a maior controladora da JBS SA – a maior empresa em processamento de proteína animal do mundo – e da Vigor Alimentos SA.

Outra informação curiosa é sobre a participação de controladoras externas em empresas que consideramos nacionais. Há casos de empresas que funcionam no Brasil, em todos os níveis da cadeia produtiva, mas são controladas por outra empresa que tem sede no exterior, ou seja, uma empresa internacional concentra mais de 50% de suas ações. É o caso da Stichting Gerdau Johannpeter, controladora do Grupo Gerdau.

A metodologia usada na pesquisa não foi criada aqui. Ela foi criada na Universidade ETH de Zurique/Suíça, para quantificação de poder econômico em grupos empresariais. Não foram considerados, no ranking, empresas estatais, mas, nas redes de propriedade, percebe-se a presença do Estado em vários níveis de participação em grandes empresas, especialmente através do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que, caso fosse considerada no ranking, a União Federal ocuparia o primeiro lugar, sendo seu poder acumulado a soma dos quatro primeiros lugares da listagem. João Roberto Lopes, coordenador do Instituto Mais Democracia, afirma que o lançamento do ranking é um momento histórico e prova definitivamente que existe sim oligopólio no Brasil.

Participação do Estado e Próximos Passos:

O poder acumulado das 12 primeiras empresas da lista equivale a mais de 50% do valor total, evidenciando uma concentração de poder, através da interligação de propriedade das empresas. Esse poder está intrinsecamente ligado ao Estado, em diversos casos, quando essas grandes empresas têm relação de participação em estatais ou são financiadas pelo BNDES. Analisando a rede de propriedade da Andrade Gutierrez S/A, que ocupa o 11º lugar na lista, percebemos que a empresa tem relação com a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) e com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).

O objetivo dos pesquisadores não é parar por aqui. Até agora só foram consideradas na pesquisa empresas de capital aberto com ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Essas são obrigadas a disponibilizar dados pela CVM, o que possibilita a pesquisa. Alan explica que empresas de capital fechado como a Globo, por exemplo, não disponibilizam dados, dificultando muito o controle social democrático. A campanha Quem são os proprietários do Brasil? foi lançada em outubro no Rio de Janeiro e, recentemente, foi lançado também uma campanha pelo Catarse – plataforma virtual de financiamento colaborativo – para que a pesquisa continue e a plataforma de disponibilização dos dados seja aprimorada. Por enquanto, qualquer um pode acessar o ranking das 397 empresas e analisar todas as suas relações de propriedade e seu capital acumulado. Para João Roberto, esta será uma importante ferramenta de controle para os movimentos sociais.


 



Por Marília Gonçalves.
FONTE: Canal Ibase.

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O Instituto Mais Democracia e a Cooperativa EITA – Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão lançaram ontem, dia 13 de dezembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o ranking “Quem são os proprietários do Brasil?”. O material, que está todo disponível na internet de forma interativa, consiste na listagem de 397 empresas ordenadas pelo poder que concentram. Mas como quantificar este poder?

Segundo Alan Tygel, engenheiro cooperado da EITA, aí é que está o diferencial desta pesquisa. Outros rankings que organizam empresas pelo seu tamanho são conhecidos. Este, porém, foi atrás das relações de dominação entre as empresas, através da análise de propriedade das ações e demais dados disponibilizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As empresas que aparecem no ranking são “controladoras últimas”, empresas que não necessariamente produzem alguma coisa, têm uma marca ou um nome forte no mercado. Ou seja, essas empresas, muitas vezes, servem apenas para controlar outras que, essas sim, temos uma relação “próxima”. O exemplo mais citado, sem dúvida, é o da Blessed Holdings, a sétima empresa mais poderosa do Brasil. Alan brinca que nem mesmo o Google, que sabe de todas as coisas, conhece esta empresa – ninguém sabe de onde ela é, o que faz ou quem são seus proprietários. Sabemos, no entanto, que ela é a maior controladora da JBS SA – a maior empresa em processamento de proteína animal do mundo – e da Vigor Alimentos SA.

Outra informação curiosa é sobre a participação de controladoras externas em empresas que consideramos nacionais. Há casos de empresas que funcionam no Brasil, em todos os níveis da cadeia produtiva, mas são controladas por outra empresa que tem sede no exterior, ou seja, uma empresa internacional concentra mais de 50% de suas ações. É o caso da Stichting Gerdau Johannpeter, controladora do Grupo Gerdau.

A metodologia usada na pesquisa não foi criada aqui. Ela foi criada na Universidade ETH de Zurique/Suíça, para quantificação de poder econômico em grupos empresariais. Não foram considerados, no ranking, empresas estatais, mas, nas redes de propriedade, percebe-se a presença do Estado em vários níveis de participação em grandes empresas, especialmente através do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que, caso fosse considerada no ranking, a União Federal ocuparia o primeiro lugar, sendo seu poder acumulado a soma dos quatro primeiros lugares da listagem. João Roberto Lopes, coordenador do Instituto Mais Democracia, afirma que o lançamento do ranking é um momento histórico e prova definitivamente que existe sim oligopólio no Brasil.

Participação do Estado e Próximos Passos:

O poder acumulado das 12 primeiras empresas da lista equivale a mais de 50% do valor total, evidenciando uma concentração de poder, através da interligação de propriedade das empresas. Esse poder está intrinsecamente ligado ao Estado, em diversos casos, quando essas grandes empresas têm relação de participação em estatais ou são financiadas pelo BNDES. Analisando a rede de propriedade da Andrade Gutierrez S/A, que ocupa o 11º lugar na lista, percebemos que a empresa tem relação com a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) e com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).

O objetivo dos pesquisadores não é parar por aqui. Até agora só foram consideradas na pesquisa empresas de capital aberto com ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Essas são obrigadas a disponibilizar dados pela CVM, o que possibilita a pesquisa. Alan explica que empresas de capital fechado como a Globo, por exemplo, não disponibilizam dados, dificultando muito o controle social democrático. A campanha Quem são os proprietários do Brasil? foi lançada em outubro no Rio de Janeiro e, recentemente, foi lançado também uma campanha pelo Catarse – plataforma virtual de financiamento colaborativo – para que a pesquisa continue e a plataforma de disponibilização dos dados seja aprimorada. Por enquanto, qualquer um pode acessar o ranking das 397 empresas e analisar todas as suas relações de propriedade e seu capital acumulado. Para João Roberto, esta será uma importante ferramenta de controle para os movimentos sociais.


 



Por Marília Gonçalves.
FONTE: Canal Ibase.

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