No centro do salão nobre do Clube Português, nas Graças, o olhar do comunicador Ribas Neto mira o vazio. Cinco décadas depois, tudo é diferente. Estava acostumado à lotação máxima da casa. Ali, no lar luso, entre os anos de 1960 e 1966, um fenômeno de público e televisão tomava de assalto as segundas feiras recifenses. Seu nome, TV Ringue Torre. O precursor do que nos dias atuais chamamos de artes marciais mistas (MMA), mas que na época carregava o nome de luta-livre americana. Se hoje o Ultimate Fighting Champioship (UFC) é a menina dos olhos das lutas, com embates memoráveis que rendem cifras milionárias, o visionário TV Ringue escreveu com o sangue de bravos nordestinos, num tablado quadrado de boxe, o início de uma história de paixão e pancadaria.
A televisão era novidade no Brasil daquela época. E a concorrência com o rádio, mesmo o novo instrumento carregando a aura de mídia revolucionária, motivava a busca pelo novo. O Cotonifício da Torre tinha um novo produto que prometia revolucionar o mercado das camisas sociais: “São seis tamanhos de manga para cada número de colarinho”; a agência de propaganda Abaeté, a ideia; e o dono da TV Jornal, Paulo Pessoa de Queiroz, o amor pelas lutas. Assim nasceu a noite de combates que antecederia o que mais tarde foi chamado de vale-tudo e MMA. Os poucos televisores do Recife ligavam no canal 2, num programa que fez história, responsável pela primeira transmissão ao vivo no Estado.
“Foi a sopa no mel”, destaca Ribas Neto, o locutor oficial do evento, versão pernambucana do renomado Bruce Buffer, responsável por apresentar os heróis do UFC. “O público do TV Ringue Torre era eclético. Foi um sucesso de vendas. A audiência era fechada. Só dava o canal 2. A externa pegou o povo de jeito”, relembra. Paulista com ascendência grega, a chegada do ator e produtor Ribas Neto ao Recife confunde-se com a gênese do TV Ringue. No Recife, traduzia os boletins das Olimpíadas de Roma em 1960 e, com o nome ligado ao esporte, foi chamado para trabalhar nas transmissões de vale-tudo.
A noite no Português tinha de tudo. Desde apresentações de defesa pessoal, demonstrações de judô, passando pelo boxe. Mas era a lista de combates de luta-livre americana que fazia o maior sucesso. E nada tinha a ver com outra febre da época, o telecatch, coreografia corpo a corpo com personagens fantasiados. Tudo fictício. No TV Ringue, o bicho pegava mesmo. Só não valia mordida, dedo no olho e golpe baixo. No mais, tinha de ser corajoso para encarar o adversário, sem divisão de categoria. Era ganhar ou sair ensanguentado. Sem exagero. Ambulâncias ficavam de plantão, assim como dois médicos contratados.
A sociedade pernambucana comparecia em peso. A participação em nada se difere da atual. As pessoas se dirigiam para o salão lotado do Clube Português pensando em nocautes e rostos desfigurados. “Elas queriam ver sangue. A verdade é essa”, diz o pernambucano Diógenes Moraes, o árbitro mais famoso da época.
O sucesso do TV Ringue trouxe a reboque grandes nomes do vale-tudo. Figuras como Euclides Pereira, além de Ivan Gomes, José Gomes, Waldemar Santana, Hilário Silva e os irmãos ciganos Tairovich, gente que deixava sangue no Português e encantava o público. O vale-tudo já existia em lutas casadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente com os irmãos Gracie, mas como noite de circuito o TV Ringue foi o pioneiro. “Além do jiu-jítsu dos Gracie, alguns praticavam judô, boxe, luta-livre e capoeira. Era o embrião do que é conhecido como cross training, no qual o lutador se dedica a treinar várias modalidades”, diz o pesquisador paulista Fábio Quio Takao.
Após seis anos, aos poucos, as cortinas do TV Ringue Torre foram se fechando. Há uma série de versões para o declínio. Uma delas é a falta de renovação nas atrações. “Ivan, Euclides e os Tairovich não eram mais novidade”, comenta Ribas Neto. A competição entre as emissoras ficou mais agressiva. Não cabia mais, naquele momento, um programa de luta. Outra hipótese é a decadência do próprio Cotonifício da Torre, que patrocinava o evento. Nos idos de 1966, as luzes se apagaram de vez. “Os salões ficaram vazios. Mas deixaram histórias incríveis”, finaliza Ribas.
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No centro do salão nobre do Clube Português, nas Graças, o olhar do comunicador Ribas Neto mira o vazio. Cinco décadas depois, tudo é diferente. Estava acostumado à lotação máxima da casa. Ali, no lar luso, entre os anos de 1960 e 1966, um fenômeno de público e televisão tomava de assalto as segundas feiras recifenses. Seu nome, TV Ringue Torre. O precursor do que nos dias atuais chamamos de artes marciais mistas (MMA), mas que na época carregava o nome de luta-livre americana. Se hoje o Ultimate Fighting Champioship (UFC) é a menina dos olhos das lutas, com embates memoráveis que rendem cifras milionárias, o visionário TV Ringue escreveu com o sangue de bravos nordestinos, num tablado quadrado de boxe, o início de uma história de paixão e pancadaria.
A televisão era novidade no Brasil daquela época. E a concorrência com o rádio, mesmo o novo instrumento carregando a aura de mídia revolucionária, motivava a busca pelo novo. O Cotonifício da Torre tinha um novo produto que prometia revolucionar o mercado das camisas sociais: “São seis tamanhos de manga para cada número de colarinho”; a agência de propaganda Abaeté, a ideia; e o dono da TV Jornal, Paulo Pessoa de Queiroz, o amor pelas lutas. Assim nasceu a noite de combates que antecederia o que mais tarde foi chamado de vale-tudo e MMA. Os poucos televisores do Recife ligavam no canal 2, num programa que fez história, responsável pela primeira transmissão ao vivo no Estado.
“Foi a sopa no mel”, destaca Ribas Neto, o locutor oficial do evento, versão pernambucana do renomado Bruce Buffer, responsável por apresentar os heróis do UFC. “O público do TV Ringue Torre era eclético. Foi um sucesso de vendas. A audiência era fechada. Só dava o canal 2. A externa pegou o povo de jeito”, relembra. Paulista com ascendência grega, a chegada do ator e produtor Ribas Neto ao Recife confunde-se com a gênese do TV Ringue. No Recife, traduzia os boletins das Olimpíadas de Roma em 1960 e, com o nome ligado ao esporte, foi chamado para trabalhar nas transmissões de vale-tudo.
A noite no Português tinha de tudo. Desde apresentações de defesa pessoal, demonstrações de judô, passando pelo boxe. Mas era a lista de combates de luta-livre americana que fazia o maior sucesso. E nada tinha a ver com outra febre da época, o telecatch, coreografia corpo a corpo com personagens fantasiados. Tudo fictício. No TV Ringue, o bicho pegava mesmo. Só não valia mordida, dedo no olho e golpe baixo. No mais, tinha de ser corajoso para encarar o adversário, sem divisão de categoria. Era ganhar ou sair ensanguentado. Sem exagero. Ambulâncias ficavam de plantão, assim como dois médicos contratados.
A sociedade pernambucana comparecia em peso. A participação em nada se difere da atual. As pessoas se dirigiam para o salão lotado do Clube Português pensando em nocautes e rostos desfigurados. “Elas queriam ver sangue. A verdade é essa”, diz o pernambucano Diógenes Moraes, o árbitro mais famoso da época.
O sucesso do TV Ringue trouxe a reboque grandes nomes do vale-tudo. Figuras como Euclides Pereira, além de Ivan Gomes, José Gomes, Waldemar Santana, Hilário Silva e os irmãos ciganos Tairovich, gente que deixava sangue no Português e encantava o público. O vale-tudo já existia em lutas casadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente com os irmãos Gracie, mas como noite de circuito o TV Ringue foi o pioneiro. “Além do jiu-jítsu dos Gracie, alguns praticavam judô, boxe, luta-livre e capoeira. Era o embrião do que é conhecido como cross training, no qual o lutador se dedica a treinar várias modalidades”, diz o pesquisador paulista Fábio Quio Takao.
Após seis anos, aos poucos, as cortinas do TV Ringue Torre foram se fechando. Há uma série de versões para o declínio. Uma delas é a falta de renovação nas atrações. “Ivan, Euclides e os Tairovich não eram mais novidade”, comenta Ribas Neto. A competição entre as emissoras ficou mais agressiva. Não cabia mais, naquele momento, um programa de luta. Outra hipótese é a decadência do próprio Cotonifício da Torre, que patrocinava o evento. Nos idos de 1966, as luzes se apagaram de vez. “Os salões ficaram vazios. Mas deixaram histórias incríveis”, finaliza Ribas.
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