sexta-feira, julho 13, 2012

Memórias Classistas.

CPV mantém em seus arquivos milhares de registros históricos da classe trabalhadora brasileira


São estantes preenchidas por caixas cheias de fotos, livros, revistas, vídeos que contam uma trajetória de luta e suor que resultou em grandes conquistas para homens e mulheres, trabalhadores brasileiros. 

É assim o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro (CPV), um importante reflexo da história recente do Brasil, com quase 40 anos das lutas da classe trabalhadora e o registro do trabalho de grandes entidades sindicais defensoras da pauta trabalhista. 

A iniciativa se deu quando no Brasil reinava a repressão da ditadura, com suas torturas, prisões, espancamentos, ao mesmo tempo em que a classe trabalhadora se movimentava, de forma silenciosa e se encontrando de forma clandestina em porões e salas fechadas a sete chaves. 

O Brasil atravessava um tempo bicudo. Trabalhadores perseguidos, sindicatos sendo fechados, dirigentes e todos aqueles que se revoltavam contra o sistema acabavam nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). 

As greves e manifestações começaram a estourar e eram reprimidas violentamente pelo governo. Contudo, apesar da intervenção nos sindicatos, da proibição das greves e de todas as leis restritivas, somados aos ritmos brutais de produção, isso acabou resultando em um fenômeno novo: o ressurgimento da organização dos trabalhadores. As comissões de fábrica clandestinas, que coordenavam a ação dos operários com boicotes da produção, fortaleceram o movimento e favoreceram a onda de greves que teve início em 1978. 

A etapa que então se desenrolou no período de 78 a 80 foi marcada por greves políticas massivas, sustentadas pela precariedade das condições de salário e trabalho, que favoreceram a recuperação dos sindicatos, preparando o terreno para o período que se sucedeu – caracterizado pela consolidação de significativas conquistas para a classe trabalhadora. E é essa historia que está contida dentro das caixas cuidadas por voluntários e militantes que se desdobram para manter intacta a preciosidade que é o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. 

É o que revela o presidente da entidade, o torneiro mecânico aposentado, Anísio Batista de Oliveira. “O acervo construído pelo CPV é um registro da luta dos trabalhadores e trabalhadoras, pois é composto por várias categorias. É uma riqueza que contribui para a identidade nacional, para que os jovens conheçam a história do país e possam conhecer a diversidade e a riqueza que foi o período e a importância da resistência. Dentro dessas caixas há um valioso material que conta a trajetória de químicos, metalúrgicos, empregadas domésticas, quase todas as categorias”, afirmou um dos fundadores do CPV, que iniciou sua militância na Pastoral Operária. 

Ditadura, memória e luta:

A ideia de criar o Centro de Documentação surgiu no final da década de 60. O projeto foi uma iniciativa do frei Giorgio Callegari, da paróquia Sagrada Família, na região da Rua Vergueiro, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. 

Em tempos de ditadura, para não colocarem as suas vidas em risco, as pessoas não conservavam documentação em casa. Veio daí a ideia do religioso – que já atuava nos movimentos de bairro e na alfabetização de adultos – de criar um arquivo que reunisse todo esse material. 

A proposta foi reunir em um único espaço a documentação oriunda dos próprios movimentos e também acompanhar pela grande imprensa e pelos veículos alternativos o que circulava sobre as lutas e a organização que existia à época. 

Aglutinados em torno do projeto de criação do CPV, dominicanos, seminaristas, estudantes universitários, professores, profissionais liberais e militantes de organizações de esquerda se reuniam na comunidade dominicana situada à Rua Vergueiro. 

Assim nasceu o CPV, por meio da vontade de pessoas engajadas para os quais a ação pastoral, social e política deveriam estar a serviço da transformação e da liberdade. Hoje, o Centro está sediado à Rua São Domingos, 224, na Bela Vista, mas nasceu junto à Capela Cristo Operário. 

Apesar de começar a ser articulado em 68 pelo frei e por professores que participavam da Pastoral Operária, o CPV surgiu oficialmente em 1973, com o nome de “Centro Pastoral Vergueiro”. Só em 1989 passou a ser chamado de “Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro”. 

Com apoio às lutas sindicais e populares, e com a oferta de cursos de documentação, o centro, que serviu de referência nacional para a documentação da classe trabalhadora no Brasil e na América Latina, já teve gráfica, livraria e equipe de assessoria voltada para a questão da memória. “Os cursos serviam para orientar centros e trabalhadores sobre a importância de documentar essas lutas e como fazer a comunicação com as bases”, destaca o presidente da entidade. 

No início foi montada a pequena gráfica, que possuía apenas um mimeógrafo a tinta, para rodar materiais de formação e de divulgação dos trabalhadores e trabalhadoras. 


Resistência operária:

Nas décadas de 1970 e 1980, o CPV apoiou a organização de movimentos independentes de governos, Estado, partidos políticos, entidades religiosas, que buscassem a construção da consciência de classe e uma sociedade igualitária, sem exploração. 

Especialmente na década de 70, com a retomada do movimento operário, o centro acabou se tornando um local de encontro, no qual os trabalhadores recebiam assessoria jurídica para as greves e cursos de formação, por meio de um convênio firmado com o Centro Acadêmico 22 de Agosto, da PUC de São Paulo. 

Foi ali também, dentro das salas da Rua Vergueiro, que muitos oposicionistas que se organizavam nas fábricas encontraram um espaço para se reunir. Pode-se dizer que o CPV foi um importante aliado nessa luta travada há tempos dentro das fábricas. 

“Tínhamos que ter um canal para aglutinar os trabalhadores para discutir a questão sindical e popular. Porque na época aconteciam muitas prisões e precisamos de advogados para auxiliar nessas questões”, revelou Anísio Batista, que foi o primeiro nome da chapa da Oposição Operária dos Metalúrgicos ao lado de Santos Dias. 

Segundo Batista, foi uma época muito dura para os sindicalistas. “Organizávamos os trabalhadores por região em São Paulo, por fábrica e interfabrica. Foi uma época muito dura, mas uma experiência bem rica”, relembra o ex-metalúrgico. 

O Centro foi impulsionador, ao lado de outras entidades, da realização de vários encontros regionais e nacionais entre centros de documentação popular. Durante as atividades eram promovidas as trocas de experiências de organização de acervo e de apoio às lutas populares. Além disso, eram realizados regularmente intercâmbios com diversas entidades da América Latina. Tais encontros serviam para desenvolver atividades de documentação e comunicação popular. 

“Inclusive, uma das fontes de renda do Centro eram agências internacionais de financiamento, em especial da Europa. Existiam vários centros espalhados pelo Brasil com um material diferenciado, produzido pelos próprios movimentos, diferenciado das publicações acadêmicas. Por isso a ideia de reunir todos em encontros regionais”, afirmou a sócia e voluntária do CPV, Luiza Mafalda Peixoto, que iniciou sua militância por meio de uma visita quando cursava história na USP (Universidade de São Paulo). 

Outra inciativa que marcou época foi a criação de um grupo voluntário que passou a produzir o jornal “Hora Extra”, um periódico pequeno, com linguagem popular, que circulou dentro das fábricas e ajudou também na organização dos trabalhadores. 

Em uma época em que o computador era inacessível, a coordenação do CPV criou ainda um serviço chamado Núcleo de Correspondência, para realizar envios mensais, pelo correio, de informações préselecionadas na documentação e livraria disponível, de acordo com a temática de interesse do assinante. 

No entanto, a partir dos anos 80 o CPV percorreu um ciclo de ascensão e decadência, paradoxalmente com a evolução dos movimentos populares e sindicais. Nesse período, a entidade deu sua contribuição para a criação e a organização de oposições sindicais na cidade e no campo, deixando seu nome marcado no fortalecimento das organizações classistas. “O CPV foi um instrumento de luta muito forte, que colaborou com a organização de muitas categorias”, destacou Waldemar Rossi, da Pastoral Operária de SP, em depoimento.


Campanha de Valorização pela Memória da Luta:

O enfraquecimento dos movimentos sociais no final da década de 1990, a instalação do neoliberalismo, a dificuldade de readequação do papel da entidade às mudanças da conjuntura, ao lado das dificuldades de financiamento de seu trabalho, levou o CPV à diminuição de suas atividades, reduzindo o seu orçamento e, consequentemente, sua equipe. 

Chegou-se ao ponto de não existir nenhum funcionário contratado e sobrevivendo graças ao trabalho de um corpo de voluntários. “Hoje não há mais assessoria, nem funcionários. O que existe são voluntários e militantes que se dedicam conscientes da importância desse material para a sociedade”, observa Mafalda. 

Mafalda revela que a situação tem se agravado. O Centro passou a funcionar de forma frágil, contando apenas com o trabalho voluntário de pessoas que se disponibilizam a abrir as portas para os pesquisadores. “São estudantes, especialistas, entre outros, que contribuem para o funcionamento do Centro. Das décadas de 1970 a 1990, o acervo é bastante completo, catalogado. Mas de lá para cá, apesar de haver um esforço de recolhimento, é feito de maneira aleatória”, revelou a coordenadora. 

Segundo ela, os mais de 100 mil volumes da memória das lutas da classe trabalhadora correm perigo físico e político. “Gostaríamos que todos reconhecessem a importância do acervo, porque ele é a memória da classe trabalhadora. Ele espelha toda uma movimentação, uma luta de resistência e organização na época da ditadura”, diz. 

“Todo este registro está guardado hoje nas prateleiras do CPV. E ao contrário do que se pode pensar, grande parte dessa história está armazenada de forma precária em um prédio do centro de São Paulo, na forma de cartilhas, cartazes, livros, panfletos e jornais vigiados por voluntários preocupados com a preservação da memória do país”, salienta Mafalda. 


Na tentativa de manter vivo e manter o conjunto em sua integridade, os coordenadores e direção do Centro lançaram, em novembro de 2010, a Campanha Valorização pela Memória da Luta dos Trabalhadores. O objetivo é angariar verba para manter o centro e conseguir digitalizar todo o material para disponibilizá-lo via online. Uma pequena parte já está digitalizada e disponível para a consulta. 

A Campanha consiste na arrecadação financeira junto às organizações dos trabalhadores e militantes. Para a militância oriunda dos movimentos sociais (mulheres, juventude, negros, semterra e sem teto), partidos políticos e sindicalistas, são vendidos bônus nos valores de 5, 10, 20 e 50 “classistas” (ou reais). Já entidades e pessoas (físicas ou jurídicas) interessadas contribuir podem fazêlo via depósito bancário (confira no box abaixo). 

Outro objetivo que compreende a campanha é conquistar o apoio de entidades públicas e privadas conscientes do valor do acervo para a história da classe trabalhadora, e acima disso, para o país. “Estamos sempre em busca de apoio e parcerias com entidades sindicais ou centrais preocupadas com a memória e histórico de luta da classe trabalhadora”, destaca a coordenadora e cuidadora do acervo. 

“Nosso desejo é que essa campanha não sirva somente ao CPV, mas que ela seja assumida por todos os acervos privados que correm riscos de morte por ação do tempo. Esse acervo é para deixar na historia do movimento uma nova organização que possa surgir daqui para frente. Isso é fundamental para nós”, concluiu o Anísio Batista, presidente do CPV. 

Conta bancária do CPV:
Caixa Econômica Federal 
Agência 0240 
Conta Corrente 003 15634-5

Escrito por Cinthia Ribas.
Texto extraído da Revista Visão Classista - Junho/2012.
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CPV mantém em seus arquivos milhares de registros históricos da classe trabalhadora brasileira


São estantes preenchidas por caixas cheias de fotos, livros, revistas, vídeos que contam uma trajetória de luta e suor que resultou em grandes conquistas para homens e mulheres, trabalhadores brasileiros. 

É assim o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro (CPV), um importante reflexo da história recente do Brasil, com quase 40 anos das lutas da classe trabalhadora e o registro do trabalho de grandes entidades sindicais defensoras da pauta trabalhista. 

A iniciativa se deu quando no Brasil reinava a repressão da ditadura, com suas torturas, prisões, espancamentos, ao mesmo tempo em que a classe trabalhadora se movimentava, de forma silenciosa e se encontrando de forma clandestina em porões e salas fechadas a sete chaves. 

O Brasil atravessava um tempo bicudo. Trabalhadores perseguidos, sindicatos sendo fechados, dirigentes e todos aqueles que se revoltavam contra o sistema acabavam nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). 

As greves e manifestações começaram a estourar e eram reprimidas violentamente pelo governo. Contudo, apesar da intervenção nos sindicatos, da proibição das greves e de todas as leis restritivas, somados aos ritmos brutais de produção, isso acabou resultando em um fenômeno novo: o ressurgimento da organização dos trabalhadores. As comissões de fábrica clandestinas, que coordenavam a ação dos operários com boicotes da produção, fortaleceram o movimento e favoreceram a onda de greves que teve início em 1978. 

A etapa que então se desenrolou no período de 78 a 80 foi marcada por greves políticas massivas, sustentadas pela precariedade das condições de salário e trabalho, que favoreceram a recuperação dos sindicatos, preparando o terreno para o período que se sucedeu – caracterizado pela consolidação de significativas conquistas para a classe trabalhadora. E é essa historia que está contida dentro das caixas cuidadas por voluntários e militantes que se desdobram para manter intacta a preciosidade que é o acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. 

É o que revela o presidente da entidade, o torneiro mecânico aposentado, Anísio Batista de Oliveira. “O acervo construído pelo CPV é um registro da luta dos trabalhadores e trabalhadoras, pois é composto por várias categorias. É uma riqueza que contribui para a identidade nacional, para que os jovens conheçam a história do país e possam conhecer a diversidade e a riqueza que foi o período e a importância da resistência. Dentro dessas caixas há um valioso material que conta a trajetória de químicos, metalúrgicos, empregadas domésticas, quase todas as categorias”, afirmou um dos fundadores do CPV, que iniciou sua militância na Pastoral Operária. 

Ditadura, memória e luta:

A ideia de criar o Centro de Documentação surgiu no final da década de 60. O projeto foi uma iniciativa do frei Giorgio Callegari, da paróquia Sagrada Família, na região da Rua Vergueiro, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. 

Em tempos de ditadura, para não colocarem as suas vidas em risco, as pessoas não conservavam documentação em casa. Veio daí a ideia do religioso – que já atuava nos movimentos de bairro e na alfabetização de adultos – de criar um arquivo que reunisse todo esse material. 

A proposta foi reunir em um único espaço a documentação oriunda dos próprios movimentos e também acompanhar pela grande imprensa e pelos veículos alternativos o que circulava sobre as lutas e a organização que existia à época. 

Aglutinados em torno do projeto de criação do CPV, dominicanos, seminaristas, estudantes universitários, professores, profissionais liberais e militantes de organizações de esquerda se reuniam na comunidade dominicana situada à Rua Vergueiro. 

Assim nasceu o CPV, por meio da vontade de pessoas engajadas para os quais a ação pastoral, social e política deveriam estar a serviço da transformação e da liberdade. Hoje, o Centro está sediado à Rua São Domingos, 224, na Bela Vista, mas nasceu junto à Capela Cristo Operário. 

Apesar de começar a ser articulado em 68 pelo frei e por professores que participavam da Pastoral Operária, o CPV surgiu oficialmente em 1973, com o nome de “Centro Pastoral Vergueiro”. Só em 1989 passou a ser chamado de “Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro”. 

Com apoio às lutas sindicais e populares, e com a oferta de cursos de documentação, o centro, que serviu de referência nacional para a documentação da classe trabalhadora no Brasil e na América Latina, já teve gráfica, livraria e equipe de assessoria voltada para a questão da memória. “Os cursos serviam para orientar centros e trabalhadores sobre a importância de documentar essas lutas e como fazer a comunicação com as bases”, destaca o presidente da entidade. 

No início foi montada a pequena gráfica, que possuía apenas um mimeógrafo a tinta, para rodar materiais de formação e de divulgação dos trabalhadores e trabalhadoras. 


Resistência operária:

Nas décadas de 1970 e 1980, o CPV apoiou a organização de movimentos independentes de governos, Estado, partidos políticos, entidades religiosas, que buscassem a construção da consciência de classe e uma sociedade igualitária, sem exploração. 

Especialmente na década de 70, com a retomada do movimento operário, o centro acabou se tornando um local de encontro, no qual os trabalhadores recebiam assessoria jurídica para as greves e cursos de formação, por meio de um convênio firmado com o Centro Acadêmico 22 de Agosto, da PUC de São Paulo. 

Foi ali também, dentro das salas da Rua Vergueiro, que muitos oposicionistas que se organizavam nas fábricas encontraram um espaço para se reunir. Pode-se dizer que o CPV foi um importante aliado nessa luta travada há tempos dentro das fábricas. 

“Tínhamos que ter um canal para aglutinar os trabalhadores para discutir a questão sindical e popular. Porque na época aconteciam muitas prisões e precisamos de advogados para auxiliar nessas questões”, revelou Anísio Batista, que foi o primeiro nome da chapa da Oposição Operária dos Metalúrgicos ao lado de Santos Dias. 

Segundo Batista, foi uma época muito dura para os sindicalistas. “Organizávamos os trabalhadores por região em São Paulo, por fábrica e interfabrica. Foi uma época muito dura, mas uma experiência bem rica”, relembra o ex-metalúrgico. 

O Centro foi impulsionador, ao lado de outras entidades, da realização de vários encontros regionais e nacionais entre centros de documentação popular. Durante as atividades eram promovidas as trocas de experiências de organização de acervo e de apoio às lutas populares. Além disso, eram realizados regularmente intercâmbios com diversas entidades da América Latina. Tais encontros serviam para desenvolver atividades de documentação e comunicação popular. 

“Inclusive, uma das fontes de renda do Centro eram agências internacionais de financiamento, em especial da Europa. Existiam vários centros espalhados pelo Brasil com um material diferenciado, produzido pelos próprios movimentos, diferenciado das publicações acadêmicas. Por isso a ideia de reunir todos em encontros regionais”, afirmou a sócia e voluntária do CPV, Luiza Mafalda Peixoto, que iniciou sua militância por meio de uma visita quando cursava história na USP (Universidade de São Paulo). 

Outra inciativa que marcou época foi a criação de um grupo voluntário que passou a produzir o jornal “Hora Extra”, um periódico pequeno, com linguagem popular, que circulou dentro das fábricas e ajudou também na organização dos trabalhadores. 

Em uma época em que o computador era inacessível, a coordenação do CPV criou ainda um serviço chamado Núcleo de Correspondência, para realizar envios mensais, pelo correio, de informações préselecionadas na documentação e livraria disponível, de acordo com a temática de interesse do assinante. 

No entanto, a partir dos anos 80 o CPV percorreu um ciclo de ascensão e decadência, paradoxalmente com a evolução dos movimentos populares e sindicais. Nesse período, a entidade deu sua contribuição para a criação e a organização de oposições sindicais na cidade e no campo, deixando seu nome marcado no fortalecimento das organizações classistas. “O CPV foi um instrumento de luta muito forte, que colaborou com a organização de muitas categorias”, destacou Waldemar Rossi, da Pastoral Operária de SP, em depoimento.


Campanha de Valorização pela Memória da Luta:

O enfraquecimento dos movimentos sociais no final da década de 1990, a instalação do neoliberalismo, a dificuldade de readequação do papel da entidade às mudanças da conjuntura, ao lado das dificuldades de financiamento de seu trabalho, levou o CPV à diminuição de suas atividades, reduzindo o seu orçamento e, consequentemente, sua equipe. 

Chegou-se ao ponto de não existir nenhum funcionário contratado e sobrevivendo graças ao trabalho de um corpo de voluntários. “Hoje não há mais assessoria, nem funcionários. O que existe são voluntários e militantes que se dedicam conscientes da importância desse material para a sociedade”, observa Mafalda. 

Mafalda revela que a situação tem se agravado. O Centro passou a funcionar de forma frágil, contando apenas com o trabalho voluntário de pessoas que se disponibilizam a abrir as portas para os pesquisadores. “São estudantes, especialistas, entre outros, que contribuem para o funcionamento do Centro. Das décadas de 1970 a 1990, o acervo é bastante completo, catalogado. Mas de lá para cá, apesar de haver um esforço de recolhimento, é feito de maneira aleatória”, revelou a coordenadora. 

Segundo ela, os mais de 100 mil volumes da memória das lutas da classe trabalhadora correm perigo físico e político. “Gostaríamos que todos reconhecessem a importância do acervo, porque ele é a memória da classe trabalhadora. Ele espelha toda uma movimentação, uma luta de resistência e organização na época da ditadura”, diz. 

“Todo este registro está guardado hoje nas prateleiras do CPV. E ao contrário do que se pode pensar, grande parte dessa história está armazenada de forma precária em um prédio do centro de São Paulo, na forma de cartilhas, cartazes, livros, panfletos e jornais vigiados por voluntários preocupados com a preservação da memória do país”, salienta Mafalda. 


Na tentativa de manter vivo e manter o conjunto em sua integridade, os coordenadores e direção do Centro lançaram, em novembro de 2010, a Campanha Valorização pela Memória da Luta dos Trabalhadores. O objetivo é angariar verba para manter o centro e conseguir digitalizar todo o material para disponibilizá-lo via online. Uma pequena parte já está digitalizada e disponível para a consulta. 

A Campanha consiste na arrecadação financeira junto às organizações dos trabalhadores e militantes. Para a militância oriunda dos movimentos sociais (mulheres, juventude, negros, semterra e sem teto), partidos políticos e sindicalistas, são vendidos bônus nos valores de 5, 10, 20 e 50 “classistas” (ou reais). Já entidades e pessoas (físicas ou jurídicas) interessadas contribuir podem fazêlo via depósito bancário (confira no box abaixo). 

Outro objetivo que compreende a campanha é conquistar o apoio de entidades públicas e privadas conscientes do valor do acervo para a história da classe trabalhadora, e acima disso, para o país. “Estamos sempre em busca de apoio e parcerias com entidades sindicais ou centrais preocupadas com a memória e histórico de luta da classe trabalhadora”, destaca a coordenadora e cuidadora do acervo. 

“Nosso desejo é que essa campanha não sirva somente ao CPV, mas que ela seja assumida por todos os acervos privados que correm riscos de morte por ação do tempo. Esse acervo é para deixar na historia do movimento uma nova organização que possa surgir daqui para frente. Isso é fundamental para nós”, concluiu o Anísio Batista, presidente do CPV. 

Conta bancária do CPV:
Caixa Econômica Federal 
Agência 0240 
Conta Corrente 003 15634-5

Escrito por Cinthia Ribas.
Texto extraído da Revista Visão Classista - Junho/2012.
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