CPV mantém em seus arquivos milhares de registros
históricos da classe trabalhadora brasileira
São estantes preenchidas por
caixas cheias de fotos, livros,
revistas, vídeos que contam
uma trajetória de luta e suor que
resultou em grandes conquistas
para homens e mulheres,
trabalhadores brasileiros.
É assim o acervo do Centro de
Documentação e Pesquisa Vergueiro
(CPV), um importante reflexo da
história recente do Brasil, com
quase 40 anos das lutas da classe
trabalhadora e o registro do trabalho
de grandes entidades sindicais
defensoras da pauta trabalhista.
A iniciativa se deu quando
no Brasil reinava a repressão
da ditadura, com suas torturas,
prisões, espancamentos, ao mesmo
tempo em que a classe trabalhadora
se movimentava, de forma
silenciosa e se encontrando de
forma clandestina em porões e salas
fechadas a sete chaves.
O Brasil atravessava um
tempo bicudo. Trabalhadores
perseguidos, sindicatos sendo
fechados, dirigentes e todos aqueles que se revoltavam contra
o sistema acabavam nas celas do
Departamento de Ordem Política e
Social (Dops).
As greves e manifestações
começaram a estourar e eram
reprimidas violentamente pelo
governo. Contudo, apesar da
intervenção nos sindicatos, da
proibição das greves e de todas as
leis restritivas, somados aos ritmos
brutais de produção, isso acabou
resultando em um fenômeno novo:
o ressurgimento da organização
dos trabalhadores. As comissões
de fábrica clandestinas, que
coordenavam a ação dos operários
com boicotes da produção,
fortaleceram o movimento e
favoreceram a onda de greves que
teve início em 1978.
A etapa que então se desenrolou
no período de 78 a 80 foi marcada
por greves políticas massivas,
sustentadas pela precariedade das
condições de salário e trabalho,
que favoreceram a recuperação dos
sindicatos, preparando o terreno
para o período que se sucedeu –
caracterizado pela consolidação
de significativas conquistas para
a classe trabalhadora. E é essa
historia que está contida dentro das
caixas cuidadas por voluntários e
militantes que se desdobram para
manter intacta a preciosidade que é o
acervo do Centro de Documentação
e Pesquisa Vergueiro.
É o que revela o presidente da
entidade, o torneiro mecânico
aposentado, Anísio Batista de
Oliveira. “O acervo construído
pelo CPV é um registro da luta dos
trabalhadores e trabalhadoras, pois
é composto por várias categorias.
É uma riqueza que contribui para
a identidade nacional, para que os
jovens conheçam a história do país
e possam conhecer a diversidade
e a riqueza que foi o período e a
importância da resistência. Dentro
dessas caixas há um valioso
material que conta a trajetória de
químicos, metalúrgicos, empregadas
domésticas, quase todas as
categorias”, afirmou um dos
fundadores do CPV, que iniciou sua
militância na Pastoral Operária.
Ditadura, memória e luta:
A ideia de criar o Centro de
Documentação surgiu no final da
década de 60. O projeto foi uma
iniciativa do frei Giorgio Callegari,
da paróquia Sagrada Família, na
região da Rua Vergueiro, localizada
na zona sul da cidade de São Paulo.
Em tempos de ditadura, para
não colocarem as suas vidas em
risco, as pessoas não conservavam
documentação em casa. Veio daí a
ideia do religioso – que já atuava
nos movimentos de bairro e na
alfabetização de adultos – de criar
um arquivo que reunisse todo esse
material.
A proposta foi reunir em um
único espaço a documentação
oriunda dos próprios movimentos
e também acompanhar pela grande
imprensa e pelos veículos alternativos
o que circulava sobre as lutas e a
organização que existia à época.
Aglutinados em torno do projeto
de criação do CPV, dominicanos,
seminaristas, estudantes
universitários, professores,
profissionais liberais e militantes de
organizações de esquerda se reuniam
na comunidade dominicana situada
à Rua Vergueiro.
Assim nasceu o CPV, por meio da
vontade de pessoas engajadas para
os quais a ação pastoral, social e
política deveriam estar a serviço da
transformação e da liberdade. Hoje,
o Centro está sediado à Rua São
Domingos, 224, na Bela Vista, mas
nasceu junto à Capela Cristo Operário.
Apesar de começar a ser
articulado em 68 pelo frei e por
professores que participavam da
Pastoral Operária, o CPV surgiu
oficialmente em 1973, com o nome
de “Centro Pastoral Vergueiro”.
Só em 1989 passou a ser chamado
de “Centro de Documentação e
Pesquisa Vergueiro”.
Com apoio às lutas sindicais
e populares, e com a oferta de
cursos de documentação, o centro,
que serviu de referência nacional
para a documentação da classe
trabalhadora no Brasil e na América
Latina, já teve gráfica, livraria e
equipe de assessoria voltada para
a questão da memória. “Os cursos
serviam para orientar centros e
trabalhadores sobre a importância
de documentar essas lutas e como
fazer a comunicação com as bases”,
destaca o presidente da entidade.
No início foi montada a pequena
gráfica, que possuía apenas um
mimeógrafo a tinta, para rodar materiais de formação e de
divulgação dos trabalhadores e
trabalhadoras.
Resistência operária:
Nas décadas de 1970 e 1980,
o CPV apoiou a organização de
movimentos independentes de
governos, Estado, partidos políticos,
entidades religiosas, que buscassem
a construção da consciência de
classe e uma sociedade igualitária,
sem exploração.
Especialmente na década de 70,
com a retomada do movimento
operário, o centro acabou se
tornando um local de encontro,
no qual os trabalhadores recebiam
assessoria jurídica para as greves
e cursos de formação, por meio de
um convênio firmado com o Centro
Acadêmico 22 de Agosto, da PUC de
São Paulo.
Foi ali também, dentro das salas
da Rua Vergueiro, que muitos
oposicionistas que se organizavam
nas fábricas encontraram um espaço
para se reunir. Pode-se dizer que o
CPV foi um importante aliado nessa
luta travada há tempos dentro das
fábricas.
“Tínhamos que ter um canal
para aglutinar os trabalhadores
para discutir a questão sindical
e popular. Porque na época
aconteciam muitas prisões e
precisamos de advogados para
auxiliar nessas questões”, revelou
Anísio Batista, que foi o primeiro
nome da chapa da Oposição
Operária dos Metalúrgicos ao lado
de Santos Dias.
Segundo Batista, foi uma época
muito dura para os sindicalistas.
“Organizávamos os trabalhadores
por região em São Paulo, por
fábrica e interfabrica. Foi uma
época muito dura, mas uma
experiência bem rica”, relembra o
ex-metalúrgico.
O Centro foi impulsionador,
ao lado de outras entidades, da
realização de vários encontros
regionais e nacionais entre centros
de documentação popular. Durante
as atividades eram promovidas
as trocas de experiências de
organização de acervo e de apoio
às lutas populares. Além disso,
eram realizados regularmente
intercâmbios com diversas
entidades da América Latina. Tais
encontros serviam para desenvolver
atividades de documentação e
comunicação popular.
“Inclusive, uma das fontes
de renda do Centro eram
agências internacionais de
financiamento, em especial da
Europa. Existiam vários centros
espalhados pelo Brasil com um
material diferenciado, produzido
pelos próprios movimentos,
diferenciado das publicações
acadêmicas. Por isso a ideia
de reunir todos em encontros
regionais”, afirmou a sócia
e voluntária do CPV, Luiza
Mafalda Peixoto, que iniciou sua
militância por meio de uma visita
quando cursava história na USP
(Universidade de São Paulo).
Outra inciativa que marcou
época foi a criação de um grupo
voluntário que passou a produzir o
jornal “Hora Extra”, um periódico
pequeno, com linguagem popular,
que circulou dentro das fábricas e
ajudou também na organização dos
trabalhadores.
Em uma época em que o
computador era inacessível,
a coordenação do CPV criou
ainda um serviço chamado
Núcleo de Correspondência, para
realizar envios mensais, pelo
correio, de informações préselecionadas
na documentação
e livraria disponível, de acordo
com a temática de interesse do
assinante.
No entanto, a partir dos
anos 80 o CPV percorreu um
ciclo de ascensão e decadência,
paradoxalmente com a evolução dos
movimentos populares e sindicais.
Nesse período, a entidade deu sua
contribuição para a criação e a
organização de oposições sindicais
na cidade e no campo, deixando seu
nome marcado no fortalecimento
das organizações classistas. “O
CPV foi um instrumento de luta
muito forte, que colaborou com a
organização de muitas categorias”,
destacou Waldemar Rossi, da
Pastoral Operária de SP, em
depoimento.
Campanha de Valorização pela
Memória da Luta:
O enfraquecimento dos
movimentos sociais no final da
década de 1990, a instalação do
neoliberalismo, a dificuldade de
readequação do papel da entidade
às mudanças da conjuntura,
ao lado das dificuldades de
financiamento de seu trabalho,
levou o CPV à diminuição de
suas atividades, reduzindo o seu
orçamento e, consequentemente,
sua equipe.
Chegou-se ao ponto de não
existir nenhum funcionário
contratado e sobrevivendo graças
ao trabalho de um corpo de
voluntários. “Hoje não há mais
assessoria, nem funcionários. O que
existe são voluntários e militantes
que se dedicam conscientes da
importância desse material para a
sociedade”, observa Mafalda.
Mafalda revela que a situação
tem se agravado. O Centro passou
a funcionar de forma frágil,
contando apenas com o trabalho
voluntário de pessoas que se
disponibilizam a abrir as portas
para os pesquisadores. “São
estudantes, especialistas, entre
outros, que contribuem para o
funcionamento do Centro. Das
décadas de 1970 a 1990, o acervo
é bastante completo, catalogado.
Mas de lá para cá, apesar de haver
um esforço de recolhimento, é feito
de maneira aleatória”, revelou a
coordenadora.
Segundo ela, os mais de 100 mil
volumes da memória das lutas da
classe trabalhadora correm perigo
físico e político. “Gostaríamos
que todos reconhecessem a
importância do acervo, porque
ele é a memória da classe
trabalhadora. Ele espelha toda
uma movimentação, uma luta de
resistência e organização na época
da ditadura”, diz.
“Todo este registro está
guardado hoje nas prateleiras
do CPV. E ao contrário do que
se pode pensar, grande parte
dessa história está armazenada
de forma precária em um prédio
do centro de São Paulo, na forma
de cartilhas, cartazes, livros,
panfletos e jornais vigiados por
voluntários preocupados com a
preservação da memória do país”,
salienta Mafalda.
Na tentativa de manter vivo
e manter o conjunto em sua
integridade, os coordenadores e
direção do Centro lançaram, em
novembro de 2010, a Campanha
Valorização pela Memória da Luta
dos Trabalhadores. O objetivo
é angariar verba para manter o
centro e conseguir digitalizar todo
o material para disponibilizá-lo via
online. Uma pequena parte já está
digitalizada e disponível para a
consulta.
A Campanha consiste na
arrecadação financeira junto às
organizações dos trabalhadores
e militantes. Para a militância
oriunda dos movimentos sociais
(mulheres, juventude, negros, semterra
e sem teto), partidos políticos
e sindicalistas, são vendidos
bônus nos valores de 5, 10, 20 e 50
“classistas” (ou reais). Já entidades
e pessoas (físicas ou jurídicas)
interessadas contribuir podem fazêlo
via depósito bancário (confira no
box abaixo).
Outro objetivo que compreende
a campanha é conquistar o apoio
de entidades públicas e privadas
conscientes do valor do acervo para
a história da classe trabalhadora, e
acima disso, para o país. “Estamos
sempre em busca de apoio e
parcerias com entidades sindicais
ou centrais preocupadas com a
memória e histórico de luta da
classe trabalhadora”, destaca a
coordenadora e cuidadora do acervo.
“Nosso desejo é que essa
campanha não sirva somente ao
CPV, mas que ela seja assumida
por todos os acervos privados
que correm riscos de morte por
ação do tempo. Esse acervo é para
deixar na historia do movimento
uma nova organização que possa
surgir daqui para frente. Isso é
fundamental para nós”, concluiu o
Anísio Batista, presidente do CPV.
Conta bancária do CPV:
Caixa Econômica Federal
Agência 0240
Conta Corrente 003 15634-5
Escrito por Cinthia Ribas.
Texto extraído da Revista Visão Classista - Junho/2012.
############################################################################################################
CPV mantém em seus arquivos milhares de registros
históricos da classe trabalhadora brasileira
São estantes preenchidas por
caixas cheias de fotos, livros,
revistas, vídeos que contam
uma trajetória de luta e suor que
resultou em grandes conquistas
para homens e mulheres,
trabalhadores brasileiros.
É assim o acervo do Centro de
Documentação e Pesquisa Vergueiro
(CPV), um importante reflexo da
história recente do Brasil, com
quase 40 anos das lutas da classe
trabalhadora e o registro do trabalho
de grandes entidades sindicais
defensoras da pauta trabalhista.
A iniciativa se deu quando
no Brasil reinava a repressão
da ditadura, com suas torturas,
prisões, espancamentos, ao mesmo
tempo em que a classe trabalhadora
se movimentava, de forma
silenciosa e se encontrando de
forma clandestina em porões e salas
fechadas a sete chaves.
O Brasil atravessava um
tempo bicudo. Trabalhadores
perseguidos, sindicatos sendo
fechados, dirigentes e todos aqueles que se revoltavam contra
o sistema acabavam nas celas do
Departamento de Ordem Política e
Social (Dops).
As greves e manifestações
começaram a estourar e eram
reprimidas violentamente pelo
governo. Contudo, apesar da
intervenção nos sindicatos, da
proibição das greves e de todas as
leis restritivas, somados aos ritmos
brutais de produção, isso acabou
resultando em um fenômeno novo:
o ressurgimento da organização
dos trabalhadores. As comissões
de fábrica clandestinas, que
coordenavam a ação dos operários
com boicotes da produção,
fortaleceram o movimento e
favoreceram a onda de greves que
teve início em 1978.
A etapa que então se desenrolou
no período de 78 a 80 foi marcada
por greves políticas massivas,
sustentadas pela precariedade das
condições de salário e trabalho,
que favoreceram a recuperação dos
sindicatos, preparando o terreno
para o período que se sucedeu –
caracterizado pela consolidação
de significativas conquistas para
a classe trabalhadora. E é essa
historia que está contida dentro das
caixas cuidadas por voluntários e
militantes que se desdobram para
manter intacta a preciosidade que é o
acervo do Centro de Documentação
e Pesquisa Vergueiro.
É o que revela o presidente da
entidade, o torneiro mecânico
aposentado, Anísio Batista de
Oliveira. “O acervo construído
pelo CPV é um registro da luta dos
trabalhadores e trabalhadoras, pois
é composto por várias categorias.
É uma riqueza que contribui para
a identidade nacional, para que os
jovens conheçam a história do país
e possam conhecer a diversidade
e a riqueza que foi o período e a
importância da resistência. Dentro
dessas caixas há um valioso
material que conta a trajetória de
químicos, metalúrgicos, empregadas
domésticas, quase todas as
categorias”, afirmou um dos
fundadores do CPV, que iniciou sua
militância na Pastoral Operária.
Ditadura, memória e luta:
A ideia de criar o Centro de
Documentação surgiu no final da
década de 60. O projeto foi uma
iniciativa do frei Giorgio Callegari,
da paróquia Sagrada Família, na
região da Rua Vergueiro, localizada
na zona sul da cidade de São Paulo.
Em tempos de ditadura, para
não colocarem as suas vidas em
risco, as pessoas não conservavam
documentação em casa. Veio daí a
ideia do religioso – que já atuava
nos movimentos de bairro e na
alfabetização de adultos – de criar
um arquivo que reunisse todo esse
material.
A proposta foi reunir em um
único espaço a documentação
oriunda dos próprios movimentos
e também acompanhar pela grande
imprensa e pelos veículos alternativos
o que circulava sobre as lutas e a
organização que existia à época.
Aglutinados em torno do projeto
de criação do CPV, dominicanos,
seminaristas, estudantes
universitários, professores,
profissionais liberais e militantes de
organizações de esquerda se reuniam
na comunidade dominicana situada
à Rua Vergueiro.
Assim nasceu o CPV, por meio da
vontade de pessoas engajadas para
os quais a ação pastoral, social e
política deveriam estar a serviço da
transformação e da liberdade. Hoje,
o Centro está sediado à Rua São
Domingos, 224, na Bela Vista, mas
nasceu junto à Capela Cristo Operário.
Apesar de começar a ser
articulado em 68 pelo frei e por
professores que participavam da
Pastoral Operária, o CPV surgiu
oficialmente em 1973, com o nome
de “Centro Pastoral Vergueiro”.
Só em 1989 passou a ser chamado
de “Centro de Documentação e
Pesquisa Vergueiro”.
Com apoio às lutas sindicais
e populares, e com a oferta de
cursos de documentação, o centro,
que serviu de referência nacional
para a documentação da classe
trabalhadora no Brasil e na América
Latina, já teve gráfica, livraria e
equipe de assessoria voltada para
a questão da memória. “Os cursos
serviam para orientar centros e
trabalhadores sobre a importância
de documentar essas lutas e como
fazer a comunicação com as bases”,
destaca o presidente da entidade.
No início foi montada a pequena
gráfica, que possuía apenas um
mimeógrafo a tinta, para rodar materiais de formação e de
divulgação dos trabalhadores e
trabalhadoras.
Resistência operária:
Nas décadas de 1970 e 1980,
o CPV apoiou a organização de
movimentos independentes de
governos, Estado, partidos políticos,
entidades religiosas, que buscassem
a construção da consciência de
classe e uma sociedade igualitária,
sem exploração.
Especialmente na década de 70,
com a retomada do movimento
operário, o centro acabou se
tornando um local de encontro,
no qual os trabalhadores recebiam
assessoria jurídica para as greves
e cursos de formação, por meio de
um convênio firmado com o Centro
Acadêmico 22 de Agosto, da PUC de
São Paulo.
Foi ali também, dentro das salas
da Rua Vergueiro, que muitos
oposicionistas que se organizavam
nas fábricas encontraram um espaço
para se reunir. Pode-se dizer que o
CPV foi um importante aliado nessa
luta travada há tempos dentro das
fábricas.
“Tínhamos que ter um canal
para aglutinar os trabalhadores
para discutir a questão sindical
e popular. Porque na época
aconteciam muitas prisões e
precisamos de advogados para
auxiliar nessas questões”, revelou
Anísio Batista, que foi o primeiro
nome da chapa da Oposição
Operária dos Metalúrgicos ao lado
de Santos Dias.
Segundo Batista, foi uma época
muito dura para os sindicalistas.
“Organizávamos os trabalhadores
por região em São Paulo, por
fábrica e interfabrica. Foi uma
época muito dura, mas uma
experiência bem rica”, relembra o
ex-metalúrgico.
O Centro foi impulsionador,
ao lado de outras entidades, da
realização de vários encontros
regionais e nacionais entre centros
de documentação popular. Durante
as atividades eram promovidas
as trocas de experiências de
organização de acervo e de apoio
às lutas populares. Além disso,
eram realizados regularmente
intercâmbios com diversas
entidades da América Latina. Tais
encontros serviam para desenvolver
atividades de documentação e
comunicação popular.
“Inclusive, uma das fontes
de renda do Centro eram
agências internacionais de
financiamento, em especial da
Europa. Existiam vários centros
espalhados pelo Brasil com um
material diferenciado, produzido
pelos próprios movimentos,
diferenciado das publicações
acadêmicas. Por isso a ideia
de reunir todos em encontros
regionais”, afirmou a sócia
e voluntária do CPV, Luiza
Mafalda Peixoto, que iniciou sua
militância por meio de uma visita
quando cursava história na USP
(Universidade de São Paulo).
Outra inciativa que marcou
época foi a criação de um grupo
voluntário que passou a produzir o
jornal “Hora Extra”, um periódico
pequeno, com linguagem popular,
que circulou dentro das fábricas e
ajudou também na organização dos
trabalhadores.
Em uma época em que o
computador era inacessível,
a coordenação do CPV criou
ainda um serviço chamado
Núcleo de Correspondência, para
realizar envios mensais, pelo
correio, de informações préselecionadas
na documentação
e livraria disponível, de acordo
com a temática de interesse do
assinante.
No entanto, a partir dos
anos 80 o CPV percorreu um
ciclo de ascensão e decadência,
paradoxalmente com a evolução dos
movimentos populares e sindicais.
Nesse período, a entidade deu sua
contribuição para a criação e a
organização de oposições sindicais
na cidade e no campo, deixando seu
nome marcado no fortalecimento
das organizações classistas. “O
CPV foi um instrumento de luta
muito forte, que colaborou com a
organização de muitas categorias”,
destacou Waldemar Rossi, da
Pastoral Operária de SP, em
depoimento.
Campanha de Valorização pela
Memória da Luta:
O enfraquecimento dos
movimentos sociais no final da
década de 1990, a instalação do
neoliberalismo, a dificuldade de
readequação do papel da entidade
às mudanças da conjuntura,
ao lado das dificuldades de
financiamento de seu trabalho,
levou o CPV à diminuição de
suas atividades, reduzindo o seu
orçamento e, consequentemente,
sua equipe.
Chegou-se ao ponto de não
existir nenhum funcionário
contratado e sobrevivendo graças
ao trabalho de um corpo de
voluntários. “Hoje não há mais
assessoria, nem funcionários. O que
existe são voluntários e militantes
que se dedicam conscientes da
importância desse material para a
sociedade”, observa Mafalda.
Mafalda revela que a situação
tem se agravado. O Centro passou
a funcionar de forma frágil,
contando apenas com o trabalho
voluntário de pessoas que se
disponibilizam a abrir as portas
para os pesquisadores. “São
estudantes, especialistas, entre
outros, que contribuem para o
funcionamento do Centro. Das
décadas de 1970 a 1990, o acervo
é bastante completo, catalogado.
Mas de lá para cá, apesar de haver
um esforço de recolhimento, é feito
de maneira aleatória”, revelou a
coordenadora.
Segundo ela, os mais de 100 mil
volumes da memória das lutas da
classe trabalhadora correm perigo
físico e político. “Gostaríamos
que todos reconhecessem a
importância do acervo, porque
ele é a memória da classe
trabalhadora. Ele espelha toda
uma movimentação, uma luta de
resistência e organização na época
da ditadura”, diz.
“Todo este registro está
guardado hoje nas prateleiras
do CPV. E ao contrário do que
se pode pensar, grande parte
dessa história está armazenada
de forma precária em um prédio
do centro de São Paulo, na forma
de cartilhas, cartazes, livros,
panfletos e jornais vigiados por
voluntários preocupados com a
preservação da memória do país”,
salienta Mafalda.
Na tentativa de manter vivo
e manter o conjunto em sua
integridade, os coordenadores e
direção do Centro lançaram, em
novembro de 2010, a Campanha
Valorização pela Memória da Luta
dos Trabalhadores. O objetivo
é angariar verba para manter o
centro e conseguir digitalizar todo
o material para disponibilizá-lo via
online. Uma pequena parte já está
digitalizada e disponível para a
consulta.
A Campanha consiste na
arrecadação financeira junto às
organizações dos trabalhadores
e militantes. Para a militância
oriunda dos movimentos sociais
(mulheres, juventude, negros, semterra
e sem teto), partidos políticos
e sindicalistas, são vendidos
bônus nos valores de 5, 10, 20 e 50
“classistas” (ou reais). Já entidades
e pessoas (físicas ou jurídicas)
interessadas contribuir podem fazêlo
via depósito bancário (confira no
box abaixo).
Outro objetivo que compreende
a campanha é conquistar o apoio
de entidades públicas e privadas
conscientes do valor do acervo para
a história da classe trabalhadora, e
acima disso, para o país. “Estamos
sempre em busca de apoio e
parcerias com entidades sindicais
ou centrais preocupadas com a
memória e histórico de luta da
classe trabalhadora”, destaca a
coordenadora e cuidadora do acervo.
“Nosso desejo é que essa
campanha não sirva somente ao
CPV, mas que ela seja assumida
por todos os acervos privados
que correm riscos de morte por
ação do tempo. Esse acervo é para
deixar na historia do movimento
uma nova organização que possa
surgir daqui para frente. Isso é
fundamental para nós”, concluiu o
Anísio Batista, presidente do CPV.
Conta bancária do CPV:
Caixa Econômica Federal
Agência 0240
Conta Corrente 003 15634-5
Escrito por Cinthia Ribas.
Texto extraído da Revista Visão Classista - Junho/2012.
############################################################################################################
0 comentários:
Postar um comentário