Volta ao Passado
Publicado em 25.03.2007
Dizia o ensaísta inglês Chesterton, que havia duas formas de viajar, uma era tomando um navio e fazendo a viagem, outra era usando a imaginação e andando horas seguidas em torno de uma mesa. Isso indica a importância do uso da imaginação e lembra a frase popular, “recordar é viver”. Sendo assim, podemos viajar usando a imaginação, tanto no tempo quanto no espaço, se quisermos ir a um determinado lugar e rever o que já vimos ali, podemos ir lá realmente ou relembrar viagens anteriores que já fizemos.
É comum, após certa idade, relembrar o passado, e foi isso o que nos levou a rever Goiana, cidade da nossa infância, para recordar fatos passados e vividos quando criança. Mas não lembramos apenas estes fatos, também os mais antigos, ouvidos ou lidos, em velhos livros.
Por isso, fomos com a filha geógrafa, Thaís Andrade, e o seu marido, Flávio Sampaio, até a praia de Carne de Vaca, em Goiana, e de lá até o ponto em que o Rio Goiana lança suas águas escuras nas águas verdes do mar, depois de percorrer extensa várzea ocupada, na parte seca, por solos de massapê e de turfa, pela cana-de-açúcar e no próprio leito do rio, pelos manguezais. Da praia arenosa da beira-rio avista-se o litoral paraibano, situado ao norte. E imaginamos: foi por aí que deve ter entrado, nos inícios do século 18, José do Carmo Correia de Oliveira, o pioneiro da família, que se estabeleceria em Goiana, importante cidade-porto da Capitania de Itamaracá, onde se casaria com a moça de família radicada à terra, uma Berenguer de Andrade, dando origem à família Correia de Oliveira e Andrade, que se dedicaria à cultura da cana-de-açúcar, à instalação de engenhos, movidos inicialmente à tração animal, os chamados engenhos de bestas, ou movidos a água.
Os descendentes de José do Carmo se multiplicaram, sempre dedicados às atividades agrícolas e à política, ocupando cargos em nível municipal, em Goiana e no Estado de Pernambuco, tendo alguns deles se destacado, como Morgado de Mariúna, o Barão de Goiana e o conselheiro João Alfredo, o ministro da Abolição, o libertador dos escravos.
Surgiram daí numerosas famílias, como os Correia de Oliveira Andrade, os Andrade Lima, os Xavier de Andrade Vasconcelos, os Costa Azevedo, os Correia Gondim, os Mello Cavalcanti, os Rabelo e numerosas outras, que descendem diretamente do velho pioneiro, ou que se ligaram pelo casamento dos seus descendentes. Nossa memória porém está limitada às décadas do século 20 e dos primeiros anos deste século, por isto lembramos que, quando menino, nascido no Engenho Jundiá, em Vicência, ainda distrito de Nazaré da Mata, éramos levados, no verão, para a praia de Ponta de Pedras, onde veraneava a avó paterna. Na época, Ponta de Pedras era um arruado construído na restinga em frente à mesma caiçara onde os veranistas armavam redes e tomavam a fresca, sobretudo nas tardes quentes. Hoje, Ponta de Pedras é uma próspera vila, com pretensões a se tornar cidade, desmembrada do velho município de Goiana, onde se chega por estrada asfaltada que parte da BR-101.
De lá regressamos, passando pela terra das heroínas da guerra holandesa, Tejucupapo, povoação bem conservada e com ruas calçadas, em seguida fomos para goiana, visitando o velho Convento do Carmo onde viveu o inesquecível frei Caneca, e o pequeno Convento do Livramento, hoje abrigo de idosos. E nesse pequeno trecho de estrada observamos como a paisagem dos coqueirais foi substituída pela dos canaviais, sempre ávidos de terra. A poucos quilômetros do litoral chega-se ao que Gilberto Freyre chamou de terras do açúcar.
Terras do açúcar onde outrora se erguiam engenhos bangüês, como o Uruaé, o Miranda, o Patrimônio, o Retiro, já nas imediações de Condado, em pleno Vale do Siriji.
No engenho Miranda, pertencente aos Correia de Oliveira Andrade faz mais de 200 anos, encontra-se uma igrejinha onde foram sepultadas pessoas da família, inclusive uma, falecida aos 15 anos e conhecida como a santinha Chaninha. Nesta igreja reza-se missa todos os meses em homenagem a “santa” patrocinada pelo advogado, seu sobrinho, José Machado Correia de Oliveira Filho. Esperam os seus familiares que ela um dia seja beatificada pela Santa Sé.
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Volta ao Passado
Publicado em 25.03.2007
Dizia o ensaísta inglês Chesterton, que havia duas formas de viajar, uma era tomando um navio e fazendo a viagem, outra era usando a imaginação e andando horas seguidas em torno de uma mesa. Isso indica a importância do uso da imaginação e lembra a frase popular, “recordar é viver”. Sendo assim, podemos viajar usando a imaginação, tanto no tempo quanto no espaço, se quisermos ir a um determinado lugar e rever o que já vimos ali, podemos ir lá realmente ou relembrar viagens anteriores que já fizemos.
É comum, após certa idade, relembrar o passado, e foi isso o que nos levou a rever Goiana, cidade da nossa infância, para recordar fatos passados e vividos quando criança. Mas não lembramos apenas estes fatos, também os mais antigos, ouvidos ou lidos, em velhos livros.
Por isso, fomos com a filha geógrafa, Thaís Andrade, e o seu marido, Flávio Sampaio, até a praia de Carne de Vaca, em Goiana, e de lá até o ponto em que o Rio Goiana lança suas águas escuras nas águas verdes do mar, depois de percorrer extensa várzea ocupada, na parte seca, por solos de massapê e de turfa, pela cana-de-açúcar e no próprio leito do rio, pelos manguezais. Da praia arenosa da beira-rio avista-se o litoral paraibano, situado ao norte. E imaginamos: foi por aí que deve ter entrado, nos inícios do século 18, José do Carmo Correia de Oliveira, o pioneiro da família, que se estabeleceria em Goiana, importante cidade-porto da Capitania de Itamaracá, onde se casaria com a moça de família radicada à terra, uma Berenguer de Andrade, dando origem à família Correia de Oliveira e Andrade, que se dedicaria à cultura da cana-de-açúcar, à instalação de engenhos, movidos inicialmente à tração animal, os chamados engenhos de bestas, ou movidos a água.
Os descendentes de José do Carmo se multiplicaram, sempre dedicados às atividades agrícolas e à política, ocupando cargos em nível municipal, em Goiana e no Estado de Pernambuco, tendo alguns deles se destacado, como Morgado de Mariúna, o Barão de Goiana e o conselheiro João Alfredo, o ministro da Abolição, o libertador dos escravos.
Surgiram daí numerosas famílias, como os Correia de Oliveira Andrade, os Andrade Lima, os Xavier de Andrade Vasconcelos, os Costa Azevedo, os Correia Gondim, os Mello Cavalcanti, os Rabelo e numerosas outras, que descendem diretamente do velho pioneiro, ou que se ligaram pelo casamento dos seus descendentes. Nossa memória porém está limitada às décadas do século 20 e dos primeiros anos deste século, por isto lembramos que, quando menino, nascido no Engenho Jundiá, em Vicência, ainda distrito de Nazaré da Mata, éramos levados, no verão, para a praia de Ponta de Pedras, onde veraneava a avó paterna. Na época, Ponta de Pedras era um arruado construído na restinga em frente à mesma caiçara onde os veranistas armavam redes e tomavam a fresca, sobretudo nas tardes quentes. Hoje, Ponta de Pedras é uma próspera vila, com pretensões a se tornar cidade, desmembrada do velho município de Goiana, onde se chega por estrada asfaltada que parte da BR-101.
De lá regressamos, passando pela terra das heroínas da guerra holandesa, Tejucupapo, povoação bem conservada e com ruas calçadas, em seguida fomos para goiana, visitando o velho Convento do Carmo onde viveu o inesquecível frei Caneca, e o pequeno Convento do Livramento, hoje abrigo de idosos. E nesse pequeno trecho de estrada observamos como a paisagem dos coqueirais foi substituída pela dos canaviais, sempre ávidos de terra. A poucos quilômetros do litoral chega-se ao que Gilberto Freyre chamou de terras do açúcar.
Terras do açúcar onde outrora se erguiam engenhos bangüês, como o Uruaé, o Miranda, o Patrimônio, o Retiro, já nas imediações de Condado, em pleno Vale do Siriji.
No engenho Miranda, pertencente aos Correia de Oliveira Andrade faz mais de 200 anos, encontra-se uma igrejinha onde foram sepultadas pessoas da família, inclusive uma, falecida aos 15 anos e conhecida como a santinha Chaninha. Nesta igreja reza-se missa todos os meses em homenagem a “santa” patrocinada pelo advogado, seu sobrinho, José Machado Correia de Oliveira Filho. Esperam os seus familiares que ela um dia seja beatificada pela Santa Sé.
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