quinta-feira, setembro 01, 2011

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

História e Literatura
Publicado em 11.06.2006

Mário Márcio de Almeida Santos, inegavelmente, é um escritor pernambucano que vem nos brindando, nos últimos tempos, com livros de excelente nível e de grande interesse. O seu último trabalho, O livro dos meus livros, lançado recentemente, é um testemunho que confirma a nossa afirmativa, nele o autor faz uma espécie de retrospectiva literária e filosófica, reunindo pensamentos e opiniões expressas nos livros anteriores, ora sociológicos, ora históricos, ora literários. Alguns de seus verbetes são primorosos, como o sobre amor, acaso, arrependimento, cangaço, casamento, cegueira, convulsão social, dialética, elite social, felicidade, frio, historiador, história, estalinismo, etc., dentre os muitos que o livro contém. 

Ele dá uma grande ênfase ao verbete Garanhuns, cidade onde viveu na juventude e que visita sempre, escrevendo ali alguns dos seus livros, nas temporadas de férias. Garanhuns foi teatro de um acontecimento que o levou a escrever um livro celebre, A anatomia de uma tragédia, a hecatombe de Garanhuns, no qual, com uma paciência impressionante, debruçou-se sobre os papéis ligados à investigação dos fatos, aprofundou pesquisas em órgãos de imprensa e em entrevistas, que levaram o historiados Potiguar Matos a compará-lo com o grande Michelet.

Durante certo período, como professor de história da UFPE, Mário Márcio dedicou muito tempo ao estudo da Revolução Russa e produziu um livro denso, O Stalinismo, no qual trata em profundidade a grande luta travada entre Stalin e Trotsky, para sucederem a Lênin e transformar o antigo império russo em União Soviética. Com muita calma e isenção, analisou os métodos utilizados pelo líder georgiano, para eliminar os seus possíveis contestadores, sobretudo no processo contra Bukharin. Esse livro, ainda de grande atualidade, foi usado como tese para o concurso de livre-docente e, conseqüentemente, do doutorado na nossa universidade.

Na área histórica, ele ainda produziu duas grandes obras, uma sobre Nascimento Feitosa e a Revolução de 1848, e outra sobre o grande jornalista Antonio Borges da Fonseca, em livro que intitulou de Um homem contra um império. Vê-se, assim, que em certo período, este autor esteve muito preocupado com os acontecimentos de 1848, que provocaram a chamada Revolução Praieira. Mas a sua grande vocação não é a história nem a ciência política, embora tenha escrito, na área, textos marcantes, é sim, como salienta Alvacir Raposo, a literatura, o romance, embora o romancista, segundo o grande poeta, tardasse a chegar.

Desse modo, podemos salientar as incursões, pela literatura, do nosso historiador, produzindo textos de teatro, de ficção literária, como em Dário de um hipocondríaco, de O aprendiz de alquimia, Quarentena, e Sob o signo de Albadará, além de textos de poesia e sobre poetas. Na verdade, quem conhece Mário Márcio há vários anos e com ele convive conclui que o literato já estava presente em seus estudos históricos e o historiador continua presente em seus trabalhos literários.

A sua obra demonstra, em seu conjunto, que sua formação de historiador, de cientista social, se fez tanto através da leitura de livros específicos, como através da leitura da boa literatura. Convém lembrar que Marx já dizia, no século 19, que se aprendia melhor a formação da sociedade burguesa da França, lendo-se Balzac do que lendo os historiadores profissionais. Isso porque, em nossa opinião, a história é um ramo do conhecimento científico, mas não deixa de ser literatura. Leiam-se as obras de Euclides da Cunha e de Gilberto Freyre e se verá como uma e outra se completam, ou melhor, se interpretam.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
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História e Literatura
Publicado em 11.06.2006

Mário Márcio de Almeida Santos, inegavelmente, é um escritor pernambucano que vem nos brindando, nos últimos tempos, com livros de excelente nível e de grande interesse. O seu último trabalho, O livro dos meus livros, lançado recentemente, é um testemunho que confirma a nossa afirmativa, nele o autor faz uma espécie de retrospectiva literária e filosófica, reunindo pensamentos e opiniões expressas nos livros anteriores, ora sociológicos, ora históricos, ora literários. Alguns de seus verbetes são primorosos, como o sobre amor, acaso, arrependimento, cangaço, casamento, cegueira, convulsão social, dialética, elite social, felicidade, frio, historiador, história, estalinismo, etc., dentre os muitos que o livro contém. 

Ele dá uma grande ênfase ao verbete Garanhuns, cidade onde viveu na juventude e que visita sempre, escrevendo ali alguns dos seus livros, nas temporadas de férias. Garanhuns foi teatro de um acontecimento que o levou a escrever um livro celebre, A anatomia de uma tragédia, a hecatombe de Garanhuns, no qual, com uma paciência impressionante, debruçou-se sobre os papéis ligados à investigação dos fatos, aprofundou pesquisas em órgãos de imprensa e em entrevistas, que levaram o historiados Potiguar Matos a compará-lo com o grande Michelet.

Durante certo período, como professor de história da UFPE, Mário Márcio dedicou muito tempo ao estudo da Revolução Russa e produziu um livro denso, O Stalinismo, no qual trata em profundidade a grande luta travada entre Stalin e Trotsky, para sucederem a Lênin e transformar o antigo império russo em União Soviética. Com muita calma e isenção, analisou os métodos utilizados pelo líder georgiano, para eliminar os seus possíveis contestadores, sobretudo no processo contra Bukharin. Esse livro, ainda de grande atualidade, foi usado como tese para o concurso de livre-docente e, conseqüentemente, do doutorado na nossa universidade.

Na área histórica, ele ainda produziu duas grandes obras, uma sobre Nascimento Feitosa e a Revolução de 1848, e outra sobre o grande jornalista Antonio Borges da Fonseca, em livro que intitulou de Um homem contra um império. Vê-se, assim, que em certo período, este autor esteve muito preocupado com os acontecimentos de 1848, que provocaram a chamada Revolução Praieira. Mas a sua grande vocação não é a história nem a ciência política, embora tenha escrito, na área, textos marcantes, é sim, como salienta Alvacir Raposo, a literatura, o romance, embora o romancista, segundo o grande poeta, tardasse a chegar.

Desse modo, podemos salientar as incursões, pela literatura, do nosso historiador, produzindo textos de teatro, de ficção literária, como em Dário de um hipocondríaco, de O aprendiz de alquimia, Quarentena, e Sob o signo de Albadará, além de textos de poesia e sobre poetas. Na verdade, quem conhece Mário Márcio há vários anos e com ele convive conclui que o literato já estava presente em seus estudos históricos e o historiador continua presente em seus trabalhos literários.

A sua obra demonstra, em seu conjunto, que sua formação de historiador, de cientista social, se fez tanto através da leitura de livros específicos, como através da leitura da boa literatura. Convém lembrar que Marx já dizia, no século 19, que se aprendia melhor a formação da sociedade burguesa da França, lendo-se Balzac do que lendo os historiadores profissionais. Isso porque, em nossa opinião, a história é um ramo do conhecimento científico, mas não deixa de ser literatura. Leiam-se as obras de Euclides da Cunha e de Gilberto Freyre e se verá como uma e outra se completam, ou melhor, se interpretam.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
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