segunda-feira, outubro 25, 2010

Coluna: Manuel Correia de Andrade

Esquerdismo na América Latina
Publicado em 06.08.2006

Faz meses a mídia vem anunciando mudanças políticas na América Latina, com a tendência para uma virada à esquerda. Será verdadeira esta virada? Ou uma observação apressada? Na verdade, a aproximação de Chávez, o inquieto presidente venezuelano, com Fidel Castro indica uma tendência à esquerdização ou uma mera atitude de fuga à intensificação do controle norte-americano sobre a Venezuela, maior produtor de petróleo da América Latina e país rico, mas dependente no que diz respeito ao abastecimento de outros produtos? Chávez seria um esquerdista ou apenas um líder populista latino-americano, à procura de sobrevivência como potência média e em disputa de influência sobre o Caribe, onde, além dos Estados Unidos, o México e o Brasil procuram também conquistar áreas de influência? E ainda há resquícios de a Venezuela ter parte considerável de seu território contestado pela República Cooperativa da Guiana, até recentemente colônia inglesa.

Na Colômbia, onde o governo está nas mãos de Uribe, recentemente reeleito presidente da República, e o mais fiel aliado de Bush, sabe-se que o país continua dividido em dois governos, o legal e o dos traficantes de coca, que com muitos recursos financeiros têm influência considerável nos países vizinhos. E a instabilidade política colombiana coloca em choque o terceiro país mais populoso da América Latina, inferior em população absoluta ao Brasil e ao México.

O Peru teve eleições presidenciais mais recentemente e viu ser eleito Alan Garcia, que foi presidente faz alguns anos e fez um governo desastroso. Neste governo, ele foi eleito pelo Apra, velho partido político com grande influência no país e que seguia a chamada doutrina aprista, defendida desde a terceira década do século 20 por Victor Raul Haya de la Torre. O Apra defendia uma ideologia com forte base marxista, mas afastava-se do filósofo alemão por dar um sentido étnico aos princípios do marxismo, associando à chamada luta de classes, a luta de raça e defendendo a existência de uma Indoamérica no Novo Continente. O apoio popular à nova ideologia foi muito forte, com influência nos países vizinhos que tinham grande população indígena, como o Equador e a Bolívia. Mas a influência marxista, apesar de afastada do Partido Comunista Peruano, afastou-o das forças armadas. O opositor de Haya de la Torre no Peru foi o grande teórico José Carlos Mariategui. Escorraçado do poder, Haya de la Torre passou a maior parte de sua vida no exílio, sobretudo na Colômbia, mas o seu partido foi forte o bastante para levar Alan Garcia à suprema magistratura de Lima. Agora, bem mais moderado, ele foi candidato apoiado pelos Estados Unidos e entrou em choque aberto com Chávez. Aproxima-se, porém, fortemente, de Lula, no Brasil que por certo período apoiou Chávez – haja vista a refinaria a ser implantada em Pernambuco com capital venezuelano. Até que ponto, porém, essa aliança Brasil–Peru poderá ser mantida? Tudo depende, certamente, de o Brasil conseguir manter uma certa influência sobre o Mercosul e impedir a expansão do Apra. Em resumo, a relação dos países andinos entre si e com o Brasil vai depender consideravelmente de uma maior ou menor abertura do comércio dos mesmos com os Estados Unidos.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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Esquerdismo na América Latina
Publicado em 06.08.2006

Faz meses a mídia vem anunciando mudanças políticas na América Latina, com a tendência para uma virada à esquerda. Será verdadeira esta virada? Ou uma observação apressada? Na verdade, a aproximação de Chávez, o inquieto presidente venezuelano, com Fidel Castro indica uma tendência à esquerdização ou uma mera atitude de fuga à intensificação do controle norte-americano sobre a Venezuela, maior produtor de petróleo da América Latina e país rico, mas dependente no que diz respeito ao abastecimento de outros produtos? Chávez seria um esquerdista ou apenas um líder populista latino-americano, à procura de sobrevivência como potência média e em disputa de influência sobre o Caribe, onde, além dos Estados Unidos, o México e o Brasil procuram também conquistar áreas de influência? E ainda há resquícios de a Venezuela ter parte considerável de seu território contestado pela República Cooperativa da Guiana, até recentemente colônia inglesa.

Na Colômbia, onde o governo está nas mãos de Uribe, recentemente reeleito presidente da República, e o mais fiel aliado de Bush, sabe-se que o país continua dividido em dois governos, o legal e o dos traficantes de coca, que com muitos recursos financeiros têm influência considerável nos países vizinhos. E a instabilidade política colombiana coloca em choque o terceiro país mais populoso da América Latina, inferior em população absoluta ao Brasil e ao México.

O Peru teve eleições presidenciais mais recentemente e viu ser eleito Alan Garcia, que foi presidente faz alguns anos e fez um governo desastroso. Neste governo, ele foi eleito pelo Apra, velho partido político com grande influência no país e que seguia a chamada doutrina aprista, defendida desde a terceira década do século 20 por Victor Raul Haya de la Torre. O Apra defendia uma ideologia com forte base marxista, mas afastava-se do filósofo alemão por dar um sentido étnico aos princípios do marxismo, associando à chamada luta de classes, a luta de raça e defendendo a existência de uma Indoamérica no Novo Continente. O apoio popular à nova ideologia foi muito forte, com influência nos países vizinhos que tinham grande população indígena, como o Equador e a Bolívia. Mas a influência marxista, apesar de afastada do Partido Comunista Peruano, afastou-o das forças armadas. O opositor de Haya de la Torre no Peru foi o grande teórico José Carlos Mariategui. Escorraçado do poder, Haya de la Torre passou a maior parte de sua vida no exílio, sobretudo na Colômbia, mas o seu partido foi forte o bastante para levar Alan Garcia à suprema magistratura de Lima. Agora, bem mais moderado, ele foi candidato apoiado pelos Estados Unidos e entrou em choque aberto com Chávez. Aproxima-se, porém, fortemente, de Lula, no Brasil que por certo período apoiou Chávez – haja vista a refinaria a ser implantada em Pernambuco com capital venezuelano. Até que ponto, porém, essa aliança Brasil–Peru poderá ser mantida? Tudo depende, certamente, de o Brasil conseguir manter uma certa influência sobre o Mercosul e impedir a expansão do Apra. Em resumo, a relação dos países andinos entre si e com o Brasil vai depender consideravelmente de uma maior ou menor abertura do comércio dos mesmos com os Estados Unidos.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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