domingo, abril 01, 2012

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

UFPE – A Fundação
Publicado em 10.12.2006

A Universidade Federal de Pernambuco não saiu do nada, como uma ocorrência inesperada, ela foi resultado de uma longa gestação e da existência, na cidade do Recife, de uma intensa vida cultural e de uma massa critica de alto nível, nos vários setores do conhecimento humano. Assim, nas ciências humanas e filosofia, a Faculdade de Direito gerara grupos de estudiosos que debatiam problemas filosóficos ligados às várias correntes ideológicas européias, desde o século 19. Nela se debatiam não só linhas ideológicas eclesiásticas, herdadas da cultura portuguesa, como também o pensamento positivista e o evolucionista, combatendo-se os princípios eclesiásticos e até anunciando a morte da metafísica. Ali pontificaram juristas como Paula Batista, Adolfo Cirne, Clóvis Bevilácqua e Goldim Filho. Foi cenário de pregações inquietas e inovadoras de Tobias Barreto, de Sílvio Romero, de Fausto Cardoso, de Phaelante da Câmara, de Martins Júnior e de Artur Orlando. 

O seu reconhecimento como grande centro de estudos e de pesquisas, de reflexões filosóficas e literárias, seria continuado, na primeira metade do século 20, por figuras como Hercílio de Sousa, Andrade Bezerra, Luiz Delgado, J. J. de Almeida, Aníbal Bruno, Goldim Neto, Mário de Souza e tantos outros, que se associaram a Joaquim Amazonas na construção da universidade. 

Com o afluxo da Faculdade de Medicina, recebeu a universidade uma grande equipe de professores-pesquisadores das várias áreas das ciências biológicas, sobretudo do setor de fisiologia e nutrição, com figuras exponenciais como Nelson Chaves e Naíde Teodósio. Nessa área, já dera grande contribuição, na Faculdade de Medicina, o médico e geógrafo Josué de Castro, que revolucionou os estudos sobre a fome e a alimentação no Brasil, regionalizando o problema e indicando quando o flagelo da fome era provocado por fatores de ordem física e quando da imposição de uma ordem social injusta e expoliativa. Merecem destaque, ainda, Bezerra Coutinho, biólogo e parasitologista, os Marques, Arnaldo, clínico, e Romero, cirurgião, que continuavam a tradição herdada de outros Marques, os irmãos Arnóbio e João, e do grande cirurgião Barros Lima, do sanitarista Octavio de Freitas e dos antigos médicos do período colonial, Rosa, Mourão e Pimenta.

É conveniente lembrar que a Faculdade de Medicina, que estava ligada às de Odontologia e Farmácia, ligava-se, também em Pernambuco, a tradições como a da homeopatia do Dr. Sabino Pinho, e a pesquisas de forte influência química, como as dirigidas no Instituto de Antibióticos – áreas de química –, por Oswaldo Lima, que internacionalizou suas pesquisas no México e no Instituto de Micologia, que realizou, já no seu período da UFPE, grandes pesquisas na Amazônia Maranhense. Estudos de Química e de Bioquímica seriam aprofundados e continuados por trabalhos dos professores Ricardo Ferreira, Marcionilo Lins e tantos outros. 

A Escola de Engenharia traria para a UFPE grandes nomes das ciências físicas e matemáticas, como o físico Luis Freyre, um dos fundadores do CNPq, do matemático Newton Maia, do astrônomo João Holmes, do matemático Luiz Siqueira e de muitos outros que transformaram a Escola de Engenharia em uma verdadeira casa de formação de físicos e matemáticos. Assim, podemos afirmar que aquela escola, por anos sediada à Rua do Hospício, e famosa pela seriedade dos seus cursos de engenharia, específicos, hoje fornecidos pela universidade, como de outros cursos, hoje de grande importância, como o de física, de matemática, de química, etc. 

No campo das letras e das ciências humanas, inicialmente ligados à Faculdade de Direito e a instituições culturais, como o Instituto Arqueológico e à Academia de Letras, a universidade herdou as tradições de historiadores, como Pereira da Costa, Alfredo de Carvalho, do major Codeceira, de Artur Orlando e de Mário Melo, como de uma literatura regionalista de autores como Mário Sette, Vitoriano Palhares, Joaquim Pessoa Guerra, etc. 

Ligados a essa linha estariam também entre os fundadores da universidade antropólogos como Estevão Pinto, com estudos sobre indígenas, Waldemar Valente, com estudos sobre a influência africana na formação nordestina, Olívio Montenegro, misto de historiador e crítico literário, Amaro Quintas, estudioso das revoluções de 1817 e 1848/9, Mário Lacerda de Melo, estudioso da geografia agrária pernambucana, Gilberto Osório de Andrade, misto de publicista e geomorfólogo, Sá Barreto, latinista emérito e tantos outros. 

Passado o período da fundação e instalação, quando a universidade incorporou novos cursos e houve a substituição paulatina de professores, admitimos que este período tenha se encerado em 1960, e um novo período tenha sido iniciado com a gestão de um novo reitor, o professor João Alfredo. Iríamos viver, então, período de fortes mudanças estruturais e de forte agitação cultural e política.
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UFPE – A Fundação
Publicado em 10.12.2006

A Universidade Federal de Pernambuco não saiu do nada, como uma ocorrência inesperada, ela foi resultado de uma longa gestação e da existência, na cidade do Recife, de uma intensa vida cultural e de uma massa critica de alto nível, nos vários setores do conhecimento humano. Assim, nas ciências humanas e filosofia, a Faculdade de Direito gerara grupos de estudiosos que debatiam problemas filosóficos ligados às várias correntes ideológicas européias, desde o século 19. Nela se debatiam não só linhas ideológicas eclesiásticas, herdadas da cultura portuguesa, como também o pensamento positivista e o evolucionista, combatendo-se os princípios eclesiásticos e até anunciando a morte da metafísica. Ali pontificaram juristas como Paula Batista, Adolfo Cirne, Clóvis Bevilácqua e Goldim Filho. Foi cenário de pregações inquietas e inovadoras de Tobias Barreto, de Sílvio Romero, de Fausto Cardoso, de Phaelante da Câmara, de Martins Júnior e de Artur Orlando. 

O seu reconhecimento como grande centro de estudos e de pesquisas, de reflexões filosóficas e literárias, seria continuado, na primeira metade do século 20, por figuras como Hercílio de Sousa, Andrade Bezerra, Luiz Delgado, J. J. de Almeida, Aníbal Bruno, Goldim Neto, Mário de Souza e tantos outros, que se associaram a Joaquim Amazonas na construção da universidade. 

Com o afluxo da Faculdade de Medicina, recebeu a universidade uma grande equipe de professores-pesquisadores das várias áreas das ciências biológicas, sobretudo do setor de fisiologia e nutrição, com figuras exponenciais como Nelson Chaves e Naíde Teodósio. Nessa área, já dera grande contribuição, na Faculdade de Medicina, o médico e geógrafo Josué de Castro, que revolucionou os estudos sobre a fome e a alimentação no Brasil, regionalizando o problema e indicando quando o flagelo da fome era provocado por fatores de ordem física e quando da imposição de uma ordem social injusta e expoliativa. Merecem destaque, ainda, Bezerra Coutinho, biólogo e parasitologista, os Marques, Arnaldo, clínico, e Romero, cirurgião, que continuavam a tradição herdada de outros Marques, os irmãos Arnóbio e João, e do grande cirurgião Barros Lima, do sanitarista Octavio de Freitas e dos antigos médicos do período colonial, Rosa, Mourão e Pimenta.

É conveniente lembrar que a Faculdade de Medicina, que estava ligada às de Odontologia e Farmácia, ligava-se, também em Pernambuco, a tradições como a da homeopatia do Dr. Sabino Pinho, e a pesquisas de forte influência química, como as dirigidas no Instituto de Antibióticos – áreas de química –, por Oswaldo Lima, que internacionalizou suas pesquisas no México e no Instituto de Micologia, que realizou, já no seu período da UFPE, grandes pesquisas na Amazônia Maranhense. Estudos de Química e de Bioquímica seriam aprofundados e continuados por trabalhos dos professores Ricardo Ferreira, Marcionilo Lins e tantos outros. 

A Escola de Engenharia traria para a UFPE grandes nomes das ciências físicas e matemáticas, como o físico Luis Freyre, um dos fundadores do CNPq, do matemático Newton Maia, do astrônomo João Holmes, do matemático Luiz Siqueira e de muitos outros que transformaram a Escola de Engenharia em uma verdadeira casa de formação de físicos e matemáticos. Assim, podemos afirmar que aquela escola, por anos sediada à Rua do Hospício, e famosa pela seriedade dos seus cursos de engenharia, específicos, hoje fornecidos pela universidade, como de outros cursos, hoje de grande importância, como o de física, de matemática, de química, etc. 

No campo das letras e das ciências humanas, inicialmente ligados à Faculdade de Direito e a instituições culturais, como o Instituto Arqueológico e à Academia de Letras, a universidade herdou as tradições de historiadores, como Pereira da Costa, Alfredo de Carvalho, do major Codeceira, de Artur Orlando e de Mário Melo, como de uma literatura regionalista de autores como Mário Sette, Vitoriano Palhares, Joaquim Pessoa Guerra, etc. 

Ligados a essa linha estariam também entre os fundadores da universidade antropólogos como Estevão Pinto, com estudos sobre indígenas, Waldemar Valente, com estudos sobre a influência africana na formação nordestina, Olívio Montenegro, misto de historiador e crítico literário, Amaro Quintas, estudioso das revoluções de 1817 e 1848/9, Mário Lacerda de Melo, estudioso da geografia agrária pernambucana, Gilberto Osório de Andrade, misto de publicista e geomorfólogo, Sá Barreto, latinista emérito e tantos outros. 

Passado o período da fundação e instalação, quando a universidade incorporou novos cursos e houve a substituição paulatina de professores, admitimos que este período tenha se encerado em 1960, e um novo período tenha sido iniciado com a gestão de um novo reitor, o professor João Alfredo. Iríamos viver, então, período de fortes mudanças estruturais e de forte agitação cultural e política.
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