sábado, abril 02, 2011

Coluna: Manuel Correia de Andrade

Indígenas de Pernambuco
Publicado em 21.05.2006

Ficamos surpresos com o noticiário dos jornais do Recife dando conta de que uma índia de Tacaratu havia defendido uma tese na área de lingüística, na Universidade Federal de Alagoas, e de que ela, Maria das Dores Oliveira, uma pancararu, era pernambucana, fizera o seu curso de graduação em Arcoverde e seria a primeira indígena, no Brasil, a atingir o doutorado em uma das nossas universidades. Antes dela, apenas um índio obtivera, no País, este título. 

Na verdade, o Brasil é um país mestiço, tem uma população branca expressiva, mas também tem uma população negra e indígena bastante numerosa. Assim, os negros formam o maior contingente eleitoral do País, inferior apenas ao da Nigéria, e os indígenas somam mais de 300 mil habitantes. A nossa geografia e a nossa história, porém, são muito excludentes, procuram esquecer negros e índios no conjunto populacional, só mais recentemente está havendo uma certa reação e já se vem procurando resgatar a importância desses grupos étnicos na nossa formação e na nossa convivência. 

Ao nosso ver, ainda são poucas as universidades onde são estudadas a língua e cultura africanas, como a Federal da Bahia, a maior parte da população não sabe que em grandes áreas do Brasil não se fala apenas o português, mas também línguas indígenas, como o ianomami, em Roraima, o tucano, no Amazonas, ou o iaté, este em Pernambuco. 

Para tentar suprir esta deficiência é que escrevemos o livro Pernambuco, quatro séculos de colonização, onde, sem deixar de enaltecer os heróis oficiais de nossa história, destacamos a contribuição negra e indígena, dando ênfase, entre outros, a Zumbi dos Palmares, a Ganga Zumba, a Antonio Ferreira de Paula, o quilombola Malunguinho e muitos outros: É necessário demonstrar que a nossa história não é apanágio dos brancos, mas de brancos, negros e indígenas que, juntos, ora ajudando uns aos outros, ora lutando entre si, construíram o Brasil. 

O noticiário traz informações substanciais que necessitam ser divulgadas nas escolas, menciona os principais grupos indígenas do Estado e a localização geográfica dos mesmos. Assim, os aicuns vivem no Sertão, nos municípios de Penha e Salgueiro, formando um grupo de 5 mil habitantes, os fulni-ôs um grupo de 3.500 pessoas, são muito importantes por terem mantido o uso de sua língua, o iatê, vivendo em Águas Belas, conservando sua aldeia ao lado da cidade, os cambiuás estão localizados no Sertão do São Francisco, nos municípios de Inajá, Ibimirim e Floresta, compreendendo cerca de 2.200 habitantes, os pancarás, formando um grupo de 3 mil habitantes, localizam-se em Carnaubeira da Penha, no Sertão Central, os pancararus, que habitam Tacaratu, Jatobá e Petrolância, constituem o maior grupo pernambucano, com 5.200 pessoas, e se destacam pelos seus trabalhos de tecelagem, o pequeno grupo pipipá, com 1.200 índios, vive me Floresta, os tuchás de Cabrobó, que ocupam a ilha de Assunção, são agricultores e pescadores e formam um contingente populacional de mais de 4 mil habitantes, e os famosos Xucurus, que ocupam a Serra de Ororobá, têm o controle de Vila de Cimbres, são numerosos, como mais de 9 mil habitantes, têm fortes litígios tanto com os proprietários que ocuparam suas terras, como entre os próprios membros do grupo. Além desses ainda há grupos, como os pancaiucás, que ainda se encontram em processo de reconhecimento pela Funai.

Devemos reconhecer que uma população indígena de 30 mil pessoas, que tem em torno de si um grande número de mestiços, os chamados caboclos, necessita receber uma maior atenção do poder público e da população, a fim de que o Brasil prospere e se desenvolva, o que só acontecerá quando brancos, negros, indígenas, mulatos, caboclos e cafusos se irmanarem em um mesmo povo e o brasileiro eliminar os estigmas da colonização e do escravismo.
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Indígenas de Pernambuco
Publicado em 21.05.2006

Ficamos surpresos com o noticiário dos jornais do Recife dando conta de que uma índia de Tacaratu havia defendido uma tese na área de lingüística, na Universidade Federal de Alagoas, e de que ela, Maria das Dores Oliveira, uma pancararu, era pernambucana, fizera o seu curso de graduação em Arcoverde e seria a primeira indígena, no Brasil, a atingir o doutorado em uma das nossas universidades. Antes dela, apenas um índio obtivera, no País, este título. 

Na verdade, o Brasil é um país mestiço, tem uma população branca expressiva, mas também tem uma população negra e indígena bastante numerosa. Assim, os negros formam o maior contingente eleitoral do País, inferior apenas ao da Nigéria, e os indígenas somam mais de 300 mil habitantes. A nossa geografia e a nossa história, porém, são muito excludentes, procuram esquecer negros e índios no conjunto populacional, só mais recentemente está havendo uma certa reação e já se vem procurando resgatar a importância desses grupos étnicos na nossa formação e na nossa convivência. 

Ao nosso ver, ainda são poucas as universidades onde são estudadas a língua e cultura africanas, como a Federal da Bahia, a maior parte da população não sabe que em grandes áreas do Brasil não se fala apenas o português, mas também línguas indígenas, como o ianomami, em Roraima, o tucano, no Amazonas, ou o iaté, este em Pernambuco. 

Para tentar suprir esta deficiência é que escrevemos o livro Pernambuco, quatro séculos de colonização, onde, sem deixar de enaltecer os heróis oficiais de nossa história, destacamos a contribuição negra e indígena, dando ênfase, entre outros, a Zumbi dos Palmares, a Ganga Zumba, a Antonio Ferreira de Paula, o quilombola Malunguinho e muitos outros: É necessário demonstrar que a nossa história não é apanágio dos brancos, mas de brancos, negros e indígenas que, juntos, ora ajudando uns aos outros, ora lutando entre si, construíram o Brasil. 

O noticiário traz informações substanciais que necessitam ser divulgadas nas escolas, menciona os principais grupos indígenas do Estado e a localização geográfica dos mesmos. Assim, os aicuns vivem no Sertão, nos municípios de Penha e Salgueiro, formando um grupo de 5 mil habitantes, os fulni-ôs um grupo de 3.500 pessoas, são muito importantes por terem mantido o uso de sua língua, o iatê, vivendo em Águas Belas, conservando sua aldeia ao lado da cidade, os cambiuás estão localizados no Sertão do São Francisco, nos municípios de Inajá, Ibimirim e Floresta, compreendendo cerca de 2.200 habitantes, os pancarás, formando um grupo de 3 mil habitantes, localizam-se em Carnaubeira da Penha, no Sertão Central, os pancararus, que habitam Tacaratu, Jatobá e Petrolância, constituem o maior grupo pernambucano, com 5.200 pessoas, e se destacam pelos seus trabalhos de tecelagem, o pequeno grupo pipipá, com 1.200 índios, vive me Floresta, os tuchás de Cabrobó, que ocupam a ilha de Assunção, são agricultores e pescadores e formam um contingente populacional de mais de 4 mil habitantes, e os famosos Xucurus, que ocupam a Serra de Ororobá, têm o controle de Vila de Cimbres, são numerosos, como mais de 9 mil habitantes, têm fortes litígios tanto com os proprietários que ocuparam suas terras, como entre os próprios membros do grupo. Além desses ainda há grupos, como os pancaiucás, que ainda se encontram em processo de reconhecimento pela Funai.

Devemos reconhecer que uma população indígena de 30 mil pessoas, que tem em torno de si um grande número de mestiços, os chamados caboclos, necessita receber uma maior atenção do poder público e da população, a fim de que o Brasil prospere e se desenvolva, o que só acontecerá quando brancos, negros, indígenas, mulatos, caboclos e cafusos se irmanarem em um mesmo povo e o brasileiro eliminar os estigmas da colonização e do escravismo.
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