Turismo no São Francisco (1)
Publicado em 28.05.2006
Não somos entusiastas do turismo como atividade econômica, mas não podemos negar que, nos dias de hoje, ele tem grande importância, podendo trazer para o Nordeste, região de clima quente e seco e de belas paisagens, uma grande oportunidade para o seu desenvolvimento, sobretudo sustentável. E o Rio São Francisco corta uma área muito propícia a essa atividade econômica.
Assim, se subirmos o rio, a partir da foz, nos deparamos, a uns 30 quilômetros dali, com a cidade colonial de Penedo, onde, segundo os historiadores, Duarte Coelho, ao iniciar a colonização de Pernambuco, construiu um forte, reconstruído no século seguinte por Maurício de Nassau, quando estendeu o domínio flamengo até o São Francisco. Penedo seria, no século 19, um porto exportador do algodão e de couros e peles que vinham do Sertão. Mais tarde, quando se tornou inviável a exportação do algodão não beneficiado, a cidade consolidou-se como um centro de indústria têxtil, controlada por duas famílias tradicionais na área: os Peixotos e os Gonçalves.
Subindo o rio, navegável até Piranhas, a jusante de Xingó, existem pequenas e bucólicas cidades, dentre as quais destacam-se Propriá e Pão-de-Açúcar, mas é Piranhas o ponto central, por ter sido o último porto navegável naquela área e estação terminal da estrada de ferro de Paulo Afonso, que a ligava a então cidade de Jatobá, hoje Itaparica. Piranhas, como centro urbano, cresceu como porto fluvial e estação terminal da estrada de ferro, que cortava uma área de expressão econômica, onde se situava Água Branca, um brejo de altitude, e onde houve, no passado, numerosos engenhos a tração animal, e Pedra, hoje Delmiro Gouveia, onde este industrial pioneiro que lhe deu o nome montou, no início do século 20, uma fábrica de linhas que competia com as que eram produzidas na Inglaterra. Ele seria assassinado e sua indústria entrou em decadência, posteriormente restabelecida pelo grupo pernambucano Menezes e, em seguida, pelo grupo alagoano Carlos Lyra, que mantém na cidade uma indústria têxtil ultra-moderna. Este grupo, também dedicado à indústria sucroalcooleira, hoje se expande pelo Sudeste do País e, por seu dinamismo e sua competência, mereceria um estudo especial.
Convém salientar ainda que a estrada de ferro Paulo Afonso teve seu período de esplendor na primeira metade do século 20, quando foi dirigida pelo inspetor Misael Sales Menezes. Após o golpe militar de 1964, no governo Castelo Branco, ela foi extinta e seus trilhos, para que ela não fosse recuperada, arrancados.
Piranhas, com o seu casario antigo, conservado hoje graças à ação da Chesf, que explora ali a Usina Hidrelétrica de Xingó, forma um conjunto histórico e turístico que merece a maior atenção do poder público. Ela poderia formar, com Delmiro Gouveia, uma área turística que se estenderia até Paulo Afonso, sua área, no passado, foi muito frequentada por cangaceiros e Lampião foi morto nas suas imediações, por uma emboscada da polícia alagoana. Nesta região há múltiplas atrações turísticas, como as reminiscências da navegação fluvial no São Francisco, o ciclo do algodão e a lembrança do grande Delmiro Gouveia, o ciclo do açúcar, com os engenhos de Água Branca, a epopeia dos cangaceiros e a velha história dos coronéis do Sertão, que viviam uma vida com força e prestígio locais, mandavam e desmandavam, como o famoso coronel Luna, a saga dos escravos negros que até montaram quilombos, e das casas grandes que, no império, tiveram o seu Barão.
Turismo no São Francisco (2)
Publicado em 04.06.2006
Se é importante o turismo no baixo São Francisco, Sobretudo em torno de Penedo e, em menor escala, de Propriá, ele não perde importância no chamado submédio São Francisco, sobretudo no trecho Petrolina–Juazeiro/ Itaparica, face às ilhas existentes no seu leito, como a de Assunção, situada em Cabrobó, e das corredeiras que acompanham todo o seu curso naquela área. A ilha referida tem um charme especial, porque nela vive um grupo indígena que, apesar de manter contato com o branco desde o século 16, guarda fortes características. É conveniente salientar que Pernambuco, apesar de ter sido uma das capitanias primeiramente povoadas, ainda tem, em relação a outros Estados do Brasil, uma população indígena expressiva, formada por fulniôs, pancararus e que o primeiro ainda conserva a sua língua.
A área em torno das cidades de Petrolina e Juazeiro tem um grande interesse econômico e turístico, face ao desenvolvimento da agricultura irrigada e por ter sido transformada, como já salientamos em artigo anterior, em pólo de exportação de frutas tropicais. Os parreirais de Santa Maria da Boa Vista apresentam grande atração e possibilitam aos visitantes degustar vinhos de qualidade.
À jusante, o turista se defrontará com o grande lago de Sobradinho, onde é possível praticar esportes aquáticos e que apresenta em Xiquexique uma interessante muralha, que impede, nas grandes cheias, a água do rio inundar as ruas da velha cidade sertaneja. Nesta região, que foi outrora terra de poderosos coronéis e que foi percorrida, nas primeiras décadas do século 20, pela famosa coluna Prestes, ainda se guardam costumes tradicionais, como o de populares se flagelarem durante a Semana Santa, visando purgar os pecados. Em Bom Jesus da Lapa, há uma grande igreja talhada numa gruta calcária, que se tornou centro de peregrinação de fiéis e atração turística. É um santuário onde, segundo os crentes, se operam milagres e para onde convergem milhares de peregrinos em ônibus, automóveis e caminhões.
Em território mineiro encontramos a histórica cidade de Januária, à margem esquerda do rio, com numerosas praças, São Francisco, em zona de cerrado e mais próxima à nascente, Pirapora, ao lado de uma cachoeira e que apresenta, no alto curso do Velho Chico, paisagem mais de cerrado do que de caatinga, daí poder-se ir de navio até Juazeiro. Viagem que foi feita por numerosos escritores que retratam a vida são franciscana dos séculos 19 e 20 e foi objeto de estudo de Vicente Licínio Cardoso, Carlos de Lacerda e Wilson Lins, palco de esplendor e decadência de várias cidades, como Barra do Rio Grande e Carinhanha.
A margem esquerda do rio foi, até 1824, território pernambucano, tendo sido desmembrado de Pernambuco como punição por ter esta então província proclamado a Confederação do Equador. Foi anexada, provisoriamente, a Minas Gerais e depois, em 1827, transferida, ainda provisoriamente, para a Bahia. O provisório porém virou permanente, e Pernambuco até hoje é punido por ser republicano, apesar de a república ter sido proclamada em 1889. Certa vez, em uma reunião em Santa Maria das Vitórias, perguntamos se eles preferiam continuar baianos ou voltar a ser pernambucanos, e a resposta foi incisiva: “Nós estamos muito longe geograficamente da Bahia e muito distantes historicamente de Pernambuco. Por isso preferimos não ser baianos nem pernambucanos. Nós desejamos ser são-franciscanos.” A afirmativa consagra o desejo da população de formar uma nova unidade da federação, como já ocorreu com Tocantins e Mato Grosso do Sul, é também aspiração de outras regiões do País.
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Turismo no São Francisco (1)
Publicado em 28.05.2006
Não somos entusiastas do turismo como atividade econômica, mas não podemos negar que, nos dias de hoje, ele tem grande importância, podendo trazer para o Nordeste, região de clima quente e seco e de belas paisagens, uma grande oportunidade para o seu desenvolvimento, sobretudo sustentável. E o Rio São Francisco corta uma área muito propícia a essa atividade econômica.
Assim, se subirmos o rio, a partir da foz, nos deparamos, a uns 30 quilômetros dali, com a cidade colonial de Penedo, onde, segundo os historiadores, Duarte Coelho, ao iniciar a colonização de Pernambuco, construiu um forte, reconstruído no século seguinte por Maurício de Nassau, quando estendeu o domínio flamengo até o São Francisco. Penedo seria, no século 19, um porto exportador do algodão e de couros e peles que vinham do Sertão. Mais tarde, quando se tornou inviável a exportação do algodão não beneficiado, a cidade consolidou-se como um centro de indústria têxtil, controlada por duas famílias tradicionais na área: os Peixotos e os Gonçalves.
Subindo o rio, navegável até Piranhas, a jusante de Xingó, existem pequenas e bucólicas cidades, dentre as quais destacam-se Propriá e Pão-de-Açúcar, mas é Piranhas o ponto central, por ter sido o último porto navegável naquela área e estação terminal da estrada de ferro de Paulo Afonso, que a ligava a então cidade de Jatobá, hoje Itaparica. Piranhas, como centro urbano, cresceu como porto fluvial e estação terminal da estrada de ferro, que cortava uma área de expressão econômica, onde se situava Água Branca, um brejo de altitude, e onde houve, no passado, numerosos engenhos a tração animal, e Pedra, hoje Delmiro Gouveia, onde este industrial pioneiro que lhe deu o nome montou, no início do século 20, uma fábrica de linhas que competia com as que eram produzidas na Inglaterra. Ele seria assassinado e sua indústria entrou em decadência, posteriormente restabelecida pelo grupo pernambucano Menezes e, em seguida, pelo grupo alagoano Carlos Lyra, que mantém na cidade uma indústria têxtil ultra-moderna. Este grupo, também dedicado à indústria sucroalcooleira, hoje se expande pelo Sudeste do País e, por seu dinamismo e sua competência, mereceria um estudo especial.
Convém salientar ainda que a estrada de ferro Paulo Afonso teve seu período de esplendor na primeira metade do século 20, quando foi dirigida pelo inspetor Misael Sales Menezes. Após o golpe militar de 1964, no governo Castelo Branco, ela foi extinta e seus trilhos, para que ela não fosse recuperada, arrancados.
Piranhas, com o seu casario antigo, conservado hoje graças à ação da Chesf, que explora ali a Usina Hidrelétrica de Xingó, forma um conjunto histórico e turístico que merece a maior atenção do poder público. Ela poderia formar, com Delmiro Gouveia, uma área turística que se estenderia até Paulo Afonso, sua área, no passado, foi muito frequentada por cangaceiros e Lampião foi morto nas suas imediações, por uma emboscada da polícia alagoana. Nesta região há múltiplas atrações turísticas, como as reminiscências da navegação fluvial no São Francisco, o ciclo do algodão e a lembrança do grande Delmiro Gouveia, o ciclo do açúcar, com os engenhos de Água Branca, a epopeia dos cangaceiros e a velha história dos coronéis do Sertão, que viviam uma vida com força e prestígio locais, mandavam e desmandavam, como o famoso coronel Luna, a saga dos escravos negros que até montaram quilombos, e das casas grandes que, no império, tiveram o seu Barão.
Turismo no São Francisco (2)
Publicado em 04.06.2006
Se é importante o turismo no baixo São Francisco, Sobretudo em torno de Penedo e, em menor escala, de Propriá, ele não perde importância no chamado submédio São Francisco, sobretudo no trecho Petrolina–Juazeiro/ Itaparica, face às ilhas existentes no seu leito, como a de Assunção, situada em Cabrobó, e das corredeiras que acompanham todo o seu curso naquela área. A ilha referida tem um charme especial, porque nela vive um grupo indígena que, apesar de manter contato com o branco desde o século 16, guarda fortes características. É conveniente salientar que Pernambuco, apesar de ter sido uma das capitanias primeiramente povoadas, ainda tem, em relação a outros Estados do Brasil, uma população indígena expressiva, formada por fulniôs, pancararus e que o primeiro ainda conserva a sua língua.
A área em torno das cidades de Petrolina e Juazeiro tem um grande interesse econômico e turístico, face ao desenvolvimento da agricultura irrigada e por ter sido transformada, como já salientamos em artigo anterior, em pólo de exportação de frutas tropicais. Os parreirais de Santa Maria da Boa Vista apresentam grande atração e possibilitam aos visitantes degustar vinhos de qualidade.
À jusante, o turista se defrontará com o grande lago de Sobradinho, onde é possível praticar esportes aquáticos e que apresenta em Xiquexique uma interessante muralha, que impede, nas grandes cheias, a água do rio inundar as ruas da velha cidade sertaneja. Nesta região, que foi outrora terra de poderosos coronéis e que foi percorrida, nas primeiras décadas do século 20, pela famosa coluna Prestes, ainda se guardam costumes tradicionais, como o de populares se flagelarem durante a Semana Santa, visando purgar os pecados. Em Bom Jesus da Lapa, há uma grande igreja talhada numa gruta calcária, que se tornou centro de peregrinação de fiéis e atração turística. É um santuário onde, segundo os crentes, se operam milagres e para onde convergem milhares de peregrinos em ônibus, automóveis e caminhões.
Em território mineiro encontramos a histórica cidade de Januária, à margem esquerda do rio, com numerosas praças, São Francisco, em zona de cerrado e mais próxima à nascente, Pirapora, ao lado de uma cachoeira e que apresenta, no alto curso do Velho Chico, paisagem mais de cerrado do que de caatinga, daí poder-se ir de navio até Juazeiro. Viagem que foi feita por numerosos escritores que retratam a vida são franciscana dos séculos 19 e 20 e foi objeto de estudo de Vicente Licínio Cardoso, Carlos de Lacerda e Wilson Lins, palco de esplendor e decadência de várias cidades, como Barra do Rio Grande e Carinhanha.
A margem esquerda do rio foi, até 1824, território pernambucano, tendo sido desmembrado de Pernambuco como punição por ter esta então província proclamado a Confederação do Equador. Foi anexada, provisoriamente, a Minas Gerais e depois, em 1827, transferida, ainda provisoriamente, para a Bahia. O provisório porém virou permanente, e Pernambuco até hoje é punido por ser republicano, apesar de a república ter sido proclamada em 1889. Certa vez, em uma reunião em Santa Maria das Vitórias, perguntamos se eles preferiam continuar baianos ou voltar a ser pernambucanos, e a resposta foi incisiva: “Nós estamos muito longe geograficamente da Bahia e muito distantes historicamente de Pernambuco. Por isso preferimos não ser baianos nem pernambucanos. Nós desejamos ser são-franciscanos.” A afirmativa consagra o desejo da população de formar uma nova unidade da federação, como já ocorreu com Tocantins e Mato Grosso do Sul, é também aspiração de outras regiões do País.
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