sábado, julho 02, 2011

Coluna: Manuel Correia de Andrade


A Questão Agrária no Brasil
Publicado em 17.07.2005

O Brasil hoje possui uma expressiva população camponesa, formada por trabalhadores assalariados, nas áreas agrícolas mais modernizadas e produtoras para o mercado externo de soja, cacau, açúcar, café, etc e uma grande quantidade de produtores não assalariados, formados por ocupantes de terra, posseiros, parceiros, meeiros, arrendatários, indígenas, remanescentes de antigos quilombos, etc. Alguns necessitam apenas do reconhecimento de suas terras, que estão em grande parte ocupadas por intrusos – como os indígenas e os quilombolas, e outros necessitam alcançar a propriedade de terras a serem desapropriadas pelo governo. Também os novos proprietários, pequenos proprietários, necessitam se organizar em cooperativas para enfrentar a concorrência do mercado e a ação dos grileiros. Há exemplos interessantes que vêm sendo levantados por jornalistas e estudados por universitários em pesquisas para órgão públicos e para teses de mestrado e de doutorado em universidades. Há também experiências de grande importância, como a da administração da Usina Catende por sindicatos rurais e cooperativas em formação, que substituíram empresa capitalista falida e sob intervenção do poder público. 

Nos últimos anos, os estudos antropológicos e a ação política vêm fazendo renascer grupos indígenas em vias de extinção, restaurando hábitos e costumes e fortalecendo línguas quase desaparecidas em todo o País. Isso já ocorre nos estados do Sul com os guaranis e no Nordeste com os fulniôs, de Águas Belas, que mantiveram a sua língua, o iaté, em uso entre eles até os dias de hoje. E isto sem falar em grupos maiores na Amazônia e no Centro Oeste, como os ianomanis do Rio Branco, os tucanos, do Amazonas, e os cintas-largas, de Rondônia. E com a restauração antropológica e a valorização da cultura indígena, se faz renascer toda uma cultura que foi esmagada pelos brancos, pelos colonizadores, e que poderia ter sido de grande importância para o Brasil, país em elaboração. 

Também convém salientar que o Brasil não é um país europeu, branco, mas um país mestiço, em grande parte africano e que a cultura negra impregnou a casa grande de hábitos e costumes da senzala. É grande a influência negra na alimentação e na medicina popular, nos hábitos e costumes, nos folguedos, na música, na dança e no linguajar. Assim, o Brasil não é uma Europa tropical, mas um país afro-europeu, no qual o negro teve uma forte influência em nossa formação. 

O negro em todo o período escravista foi um elemento de trabalho e de luta, ora apoiando o português na luta contra invasores, ora apoiando invasores na luta contra os portugueses, mas sempre procurando obter uma certa independência, de produção para o consumo. 

Áreas difíceis de intervenção são aquelas em que posseiros e garimpeiros penetram na floresta e derrubam a mata à procura de terras para plantar e de minerais para extrair. Os garimpeiros que exploram a margem e o leito dos rios vêm fazendo um grande trabalho de destruição da floresta e de poluição do leito dos rios, problema de difícil solução, além de entrarem em contato com populações indígenas, associando-se a elas, algumas vezes, e entrado em choque com as mesmas e outras, provocando tragédias como a que aconteceu com os cinta-largas, em Rondônia. Também os agricultores, ao destruir a floresta, criam sérios problemas com a população nativa e abrem espaço para os grileiros, que a princípio usam os mesmos como desbravadores e desmatadores e em seguida passam a explorá-los como escravos, gerando conflitos de grandes proporções, como o de Eldorado dos Carajás, no Pará.

Os grileiros são grandes proprietários de terra ou grandes empresas industriais que utilizando a influência política e os recursos de capitais, invadem áreas públicas, às vezes com apoio oficial, e procedem o desmatamento visando a exploração de madeiras duras sobretudo o mogno. Em seguida, liberam as terras desmatadas para outras atividades agrícolas, como a cultura da soja, a pecuária e a cana de açúcar. Um rastro de sangue acompanha a marcha dos grandes grileiros, que matam o homem da Amazônia – indígenas, homens da floresta e primitivos posseiros – e o território, que desprovido da mata, fica empobrecido para a produção agrícola. Necessário se faz que se organizem sistemas de exploração extrativista conservacionista e que se poupem vidas como a do legendário seringueiro Chico Mendes.

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A Questão Agrária no Brasil
Publicado em 17.07.2005

O Brasil hoje possui uma expressiva população camponesa, formada por trabalhadores assalariados, nas áreas agrícolas mais modernizadas e produtoras para o mercado externo de soja, cacau, açúcar, café, etc e uma grande quantidade de produtores não assalariados, formados por ocupantes de terra, posseiros, parceiros, meeiros, arrendatários, indígenas, remanescentes de antigos quilombos, etc. Alguns necessitam apenas do reconhecimento de suas terras, que estão em grande parte ocupadas por intrusos – como os indígenas e os quilombolas, e outros necessitam alcançar a propriedade de terras a serem desapropriadas pelo governo. Também os novos proprietários, pequenos proprietários, necessitam se organizar em cooperativas para enfrentar a concorrência do mercado e a ação dos grileiros. Há exemplos interessantes que vêm sendo levantados por jornalistas e estudados por universitários em pesquisas para órgão públicos e para teses de mestrado e de doutorado em universidades. Há também experiências de grande importância, como a da administração da Usina Catende por sindicatos rurais e cooperativas em formação, que substituíram empresa capitalista falida e sob intervenção do poder público. 

Nos últimos anos, os estudos antropológicos e a ação política vêm fazendo renascer grupos indígenas em vias de extinção, restaurando hábitos e costumes e fortalecendo línguas quase desaparecidas em todo o País. Isso já ocorre nos estados do Sul com os guaranis e no Nordeste com os fulniôs, de Águas Belas, que mantiveram a sua língua, o iaté, em uso entre eles até os dias de hoje. E isto sem falar em grupos maiores na Amazônia e no Centro Oeste, como os ianomanis do Rio Branco, os tucanos, do Amazonas, e os cintas-largas, de Rondônia. E com a restauração antropológica e a valorização da cultura indígena, se faz renascer toda uma cultura que foi esmagada pelos brancos, pelos colonizadores, e que poderia ter sido de grande importância para o Brasil, país em elaboração. 

Também convém salientar que o Brasil não é um país europeu, branco, mas um país mestiço, em grande parte africano e que a cultura negra impregnou a casa grande de hábitos e costumes da senzala. É grande a influência negra na alimentação e na medicina popular, nos hábitos e costumes, nos folguedos, na música, na dança e no linguajar. Assim, o Brasil não é uma Europa tropical, mas um país afro-europeu, no qual o negro teve uma forte influência em nossa formação. 

O negro em todo o período escravista foi um elemento de trabalho e de luta, ora apoiando o português na luta contra invasores, ora apoiando invasores na luta contra os portugueses, mas sempre procurando obter uma certa independência, de produção para o consumo. 

Áreas difíceis de intervenção são aquelas em que posseiros e garimpeiros penetram na floresta e derrubam a mata à procura de terras para plantar e de minerais para extrair. Os garimpeiros que exploram a margem e o leito dos rios vêm fazendo um grande trabalho de destruição da floresta e de poluição do leito dos rios, problema de difícil solução, além de entrarem em contato com populações indígenas, associando-se a elas, algumas vezes, e entrado em choque com as mesmas e outras, provocando tragédias como a que aconteceu com os cinta-largas, em Rondônia. Também os agricultores, ao destruir a floresta, criam sérios problemas com a população nativa e abrem espaço para os grileiros, que a princípio usam os mesmos como desbravadores e desmatadores e em seguida passam a explorá-los como escravos, gerando conflitos de grandes proporções, como o de Eldorado dos Carajás, no Pará.

Os grileiros são grandes proprietários de terra ou grandes empresas industriais que utilizando a influência política e os recursos de capitais, invadem áreas públicas, às vezes com apoio oficial, e procedem o desmatamento visando a exploração de madeiras duras sobretudo o mogno. Em seguida, liberam as terras desmatadas para outras atividades agrícolas, como a cultura da soja, a pecuária e a cana de açúcar. Um rastro de sangue acompanha a marcha dos grandes grileiros, que matam o homem da Amazônia – indígenas, homens da floresta e primitivos posseiros – e o território, que desprovido da mata, fica empobrecido para a produção agrícola. Necessário se faz que se organizem sistemas de exploração extrativista conservacionista e que se poupem vidas como a do legendário seringueiro Chico Mendes.

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