domingo, fevereiro 23, 2014

Escola, Exclusão, Desigualdades e Diferenças: Como O Ambiente Pedagógico Pode Abordar As Diferenças?


Introdução

As diferenças entre os indivíduos são características inevitáveis em qualquer sociedade, contudo, ao serem alicerçadas sobre um sistema de poder, onde determinados grupos ou classes ocupam determinado papel hegemônico, os valores passam a se consolidar como um fator importante para a manutenção de determinadas formas de dominação. Com o apogeu da sociedade capitalista erigida pelos princípios da burguesia, as ideias de constitucionalismo e isonomia implantaram no meio social uma cultura de igualdade jurídica e social uniformizando as pessoas em prol a um projeto de sociedade individualista. No entanto, a problemática se encontra nos critérios que solidificam essa uniformização posta sob a égide da cidadania. Quais os valores que balizam essa concepção de igualdade formal?

Sabemos que a explosão das diferenças significa uma crise aos padrões gerais, que ao mesmo tempo em que universaliza as maiorias, esmagam todas as diferenças, reduzindo-as ao campo das minorias, gerando assim maior desigualdade e um processo de inclusão que é tão excludente, quanto qualquer episódio de segregação social ou racial.Os padrões estéticos, do corpo, comportamentais ao se tornarem comum a todos, relega às margens todas as diferenças culturais, raciais e ideológicas. Em nome do universal e da isonomia, a sociedade capitalista excluí mais que inclui.

E dentre as instituições sociais existentes, a escola não se configura como um espaço isento a esses valores culturalmente hegemônicos. Temos aqui um ambiente que, a partir da educação, prepara as gerações mais jovens para o mundo do trabalho, a prática da cidadania e a ampliação dos conhecimentos por meio da ciência. Por outro lado, promove a incorporação dos valores vigentes, se tornando um propício campo para a propagação da ideologia dominante, como também para a violência simbólica. Não há na escola espaço para o particularismo ou crítica sistemática às desigualdades, já que ela é um dos principais aparelhos legitimadores da ideologia do Estado. E isso implica em prejuízo para os alunos oriundos das classes sociais mais pobres e para os que que se encontram em certo grau de exclusão, já que o espaço pedagógico não consegue ser significativo para os mesmos.

O fracasso escolar da juventude negra e dos homossexuais é um problema que vai além da debilidade das estruturas físicas adequadas ou de professores motivados nas escolas. Não são os principais fatores que excluem esses jovens, gerando evasão ou reprovação. O problema dessa exclusão vai além do material, sendo assim, muito mais ligado ao valores culturais historicamente impostos, como também aos diversos mecanismo geradores de discriminações.

O Ambiente Escolar E As Ciladas Das Diferenças

Nas sábias explicações de Antônio Flávio Pierucci, ao iniciar um debate sobre as diferenças através de um de seus textos, o autor afirma que “as diferenças coletivas ou grupais são componentes inevitáveis das sociedades humanas(1997)1” , trazendo para esse debate as proposições de Dahrendorf (1968) e Bourdieu (1979), ao tratar todo processo de estratificação como um campo marcado pela diferenciação e avaliação. Diante tal perspectiva, os valores construídos socialmente, ao hierarquizar os indivíduos transformam as diferenças em um dado concreto das sociedades que, ora servem para criar ênfase em certos grupos de “diferentes”, ora servem para excluí-los da dinâmica social.

Essa diferenciação, além de ser uma construção compartilhada de maneira coletiva, também é fruto de um processo hegemônico de dominação, por parte de determinada classe ou grupo. Nessa perspectiva, não se deve deixar de avaliar que todo esse sistema de diferenças é fruto da emergência de certos valores dominantes, que ao se impor, por meio de um processo, sobre uma determinada dinâmica e ordem social, torna-se parâmetro avaliativo das demais práticas e representações existentes.

A escola por sua vez, enquanto aparelho ideológico do Estado e como um espaço propício para o exercício da violência simbólica, não fica ilesa a esse processo de diferenciação e avaliação. E nessa quadra, as desigualdades socioeconômicas impactam diretamente no cotidiano e nas práticas pedagógicas desenvolvidas, naturalizando as diferenças em certos casos ou também enfatizando exageradamente as diferenças, criando implicações em que o geral é posto em crise em virtude da emergência de uma cultura de valorização do peculiar que rejeita a universalidade, Ora, trazendo novamente as palavras de Pierucci: “se igualdade tem problemas, a diferença me parece que os tem mais”.

Nessa conjuntura, não há como trabalhar sobre as diferenças, sem adentrar no campo complexo dos valores, e dentro de uma sociedade pautada por uma visão capitalista, tal problemática, ao mesmo tempo em que pode ser um caminho para a resistência aos grilhões socialmente impostos, também podem ampliar ainda mais o quadro de diferenças e exclusão. Pierucci a partir da expressão política do corpo, construída a partir de análises sobre os movimentos feministas e de gays, reconhece que existem ciladas nesse jogo das diferenças, pois ela nunca é única, pelo contrário, é múltipla e assim o apelo à igualdade formal em uma sociedade plural é algo deveramente complexo, pois além da ordem política estabelecida, também se configura como um aspecto da quadra ideológica.

Nessa conjuntura, trazendo a baila o objeto central da questão do presente estudo, como podemos enxergar os impactos que as desigualdades socioeconômicas e as diferenças culturais no ambiente escolar? Dito isso, o roteiro a qual se pretende seguir parra desenvolver essa reflexão se constrói a partir de uma breve discussão teórica a partir das concepções sobre a educação, enquanto violência simbólica, como também, ressaltando a escola como aparelho ideológico de Estado. E feito tais análises, objetiva-se pelo menos apontar alguns caminhos que tragam subsídios para contribuir com o debate de uma proposta educacional mais avançada no que diz respeito a relação entre escola, desigualdades e diferenças.

Nessa perspectiva, questões se estabelecem para que novas explanações apontem horizontes mais lúcidos e que, diante da complexidade do estudo sobre as desigualdades e diferenças sociais, a escola torne-se um espaço estratégico para o debate e a construção de novos paradigmas sociais. Ignorar as diferenças e jogá-las na mediocridade da igualdade formal ou explicitar as diferenças, ampliando uma cultura do fragmento e dos microdiscursos em detrimento do universal? Como a escola deve responder a esses questionamentos, sabendo que quando nos referimos às diferenças, estamos em um campo, cujo os limites estão para além das desigualdades econômicas provenientes de uma sociedade de classes distintas?

O ambiente escolar, mesmo sendo um campo em que as relações de poder se estabelece, tem a potencialidade de não somente prestigiar os dominantes, mas também, trazer a baila importantes contradições, implicando um exercício de reflexão intelectual, onde a sociedade, ao contrário de ser concebida como um cenário de hegemonia de um grupo ou classe, torne-se palco de ação para os mais frágeis. Trazendo as palavras de José Souza Martins, “não existe exclusão, existe contradição, existem vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes”, processos esses que atendem ao roteiro estabelecido pela ordem dominante e que são naturalizado a partir dos valores impostos. Ao ser um espaço onde também se manifestam a exclusão e as desigualdades, seja na ordem do acesso, como também no próprio aprendizado e significação, o ambiente escolar deve ter nos processos de exclusão, historicamente construídos na sociedade brasileira como um fecundo objeto de discussão e entendimento. Fomentar o debate sobre as contradições que se expressam dentro da própria desigualdade e exclusão seria um dos papeis mais virtuosos para a escola, em vista os novos paradigmas da contemporaneidade.

A Escola Como Aparelho Ideológico Do Estado

Nas concepções formuladas pelo filósofo Louis Althusser, a escola, assim como o exército, os tribunais ou as prisões, seria um dos aparelhos de reprodução ideológica dos valores vigentes no Estado. Essa ideologia se materializa através desses aparelhos, acomodando os indivíduos a determinado sistema de ordem social. Para Althusser apud Saviani2:

"O Aparelho Ideológico de Estado que foi colocado em posição dominante nas formações capitalistas maduram, após uma violenta luta de classes política e ideológica contra o antigo Aparelho Ideológico de Estado dominante, é o Aparelho Ideológico Escolar".

A escola, nesta concepção se configura como um instrumento estratégico para a reprodução das relações sociais dominantes. E os indivíduos, por sua vez, ao passarem uma grande parte de suas vidas nessas instituições incorporam e naturalizam valores hegemônicos. E diante disso, como se estabelece a problemática da diferença e da desigualdade nesses espaços? É ai que encontramos “a cilada” da igualdade formal estabelecida historicamente pelos instrumentos jurídicos da burguesia.

Os problemas sociais oriundos das desigualdade e das diferenças não deixam de passar pela escola, essa por sua vez, não esconde a exclusão, mas em nome de uma isonomia superficial evoca o respeito às diferenças e reproduz críticas as desigualdades, porém sem se aprofundar nos processos de exclusão que causam essas problemáticas. Nesse caso, desconsideram as causas e relegam às diferenças uma análise que as limitam apenas ao âmbito da igualdade formal. E tudo isso não é acidental, pelo contrário, essa abordagem feita nas escolas, em nome de uma cidadania abstrata é o limite estabelecido para os sistemas de ensino, ultrapassar isso e fomentar uma educação voltada a análise e crítica aos processos de inclusão estabelecidos pelo sistema capitalista que naturalmente é excludente.

Segundo José de Souza Martins, “o que gera a exclusão, na verdade o que é a exclusão, são as formas precárias de inclusão3”. E assim, a escola, enquanto aparelho ideológico do estado “em lugar de instrumento de equalização social, constitui um mecanismo construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses4”. Nesse contexto, mesmo com um “véu politicamente correto”, o respeito às diferenças (políticas, culturais, ideológicas etc) e as sensibilidades perante as desigualdades socioeconômicas abordadas dentro da escola servem mais para reforçar as disparidades do que construir o seu enfrentamento.

Os “excluídos” que frequentam as escolas, adentram em um espaço estratégico para o questionamento sobre certas problemáticas, mas que ideologicamente está paralisada e em serventia aos interesses hegemônicos. Os problemas relacionados à aprendizagem (reprovação, evasão, déficit cognitivo), por parte dos excluídos e dos mais pobres, não emergem dentro das instituições de ensino por mero acaso, são produtos de um processo contraditório e natural do sistema capitalista, que preza por uma igualdade de direito, mas que de fato, esmaga, exclui e gera muito mais diferenças e desigualdades.

A Escola Como Espaço Da Violência Simbólica

Em um país em que a sociedade foi forjada sob as bases da segregação social e racial e de uma cultura patrimonial que distinguia os proprietários dos não-proprietários, a exclusão, como diz Lúcio Kowarick apud Sposati, “é uma condição genérica da não-elite”. E as consequências dos processos de exclusão historicamente construídos passam diretamente pela escola, essa por sua vez, enquanto instrumento de socialização, reforça os valores que regem às contradições materiais e por meio de um sistema pedagógico legitimado pelos grupos ou classes dominantes, criam elementos que exercem uma violência simbólica contra os excluídos.

Nas concepções de P, Bourdieu e J. C. Passeron a violência simbólica exercida pelas instituições educacionais se manifestam de maneira em que a ação pedagógica torna-se uma “imposição arbitrária da cultura dos grupos ou classes dominantes aos grupos ou classes dominados. Essa imposição para se exercer, implica necessariamente a autoridade pedagógica.5”. E a ética das desigualdades se estabelece enquanto habitus dentro do próprio ambiente escolar. E dessa maneira, a mesma sociedade que relega os negros e negras, homossexuais e demais minorias sociais à periferia, também fazem com que essas contradições não façam da escola um local próspero para crítica ou desconstrução.

O problema das diferenças e das desigualdades socioeconômicas também se manifestam dentro dos ambientes escolares, o sistema educacional semelhante a uma correia de transmissão, reproduz a mesma violência material contra essas pessoas, na forma de violência simbólica. A escola, torna-se um ambiente apático, sem significados, não emancipador para todos que são incluídos na lógica da isonomia formal estabelecida como princípio constitucional. Isso se traduz nos índices de reprovação e evasão escolar, fatores esses que atingem principalmente essas populações. A escola, ao atender a uma sociedade materialmente desigual, agrega a função de unificar ideologicamente as pessoas em uma cultura massificante e legitimadora de um determinado status quo. Contudo, aos estudantes negros, homossexuais, pobres, fiéis de religiões de matrizes afro-indígena, entre outras minorias sociais, o ambiente escolar não consegue ser atrativo ou ser dotado de algum sentido positivo, já que os valores educacionais constituídos não incluem, ou melhor incluem excluindo. Fazem das diferenças, apenas um elemento de um discurso politicamente correto, mas em nenhuma circunstância como um elemento capaz de alimentar uma auto-estima cultural ou de rompimento com a isonomia formal, que historicamente foi estabelecida pela sociedade burguesa.

Impactos Das Diferenças No Fracasso Escolas: Raça e Gênero

Nesse momento, após o apanhado sobre a questão das diferenças, desigualdades e exclusão, enquanto consequências naturais do nosso atual modelo de sociedade, e como a escola consegue ser, ao mesmo tempo que um espaço de contestação teórica, também uma das ferramentas estratégicas para afirmar e fortalecer os valores excludentes de um Estado pautado por valores capitalistas, torna-se oportuno, trazer algumas reflexões sobre os impactos negativos que esse quadro de exclusão pode trazer à estudantes cuja a raça e a identidade de gênero não são valorizados pela cultura hegemônica.

Um dos pontos relevantes nesse debate é a reprovação. No Brasil, podemos assim afirmar que a reprovação escolar tem uma cor muito bem definida, a negra. Ao topar com um modelo educacional hegemônico instituído, dotado de valores de uma cultura branca e eurocêntrica, é impossível que o estudante negro ainda não se veja excluído do ambiente escolar. Normalmente, ele é tido como o feio e o burro. Nas escolas, o padrão de beleza vigente é o de uma sociedade branca, e diante disso, o estudante negro procura ou é educado a manifestar sua beleza por meio desses mesmos padrões brancos (é comum ouvirmos a frase: ele é negro mas com o cabelo bom) , reafirmando a normatividade da estética branca presente na indústria de comunicação de massa, nos livros didáticos, na relação professor-aluno e também nas relações sociais vividas entre os próprios estudantes6. Frente a essas questões estéticas, que o ambiente escolar incorpora da própria sociedade, também temos outra questão que é relevante no processo de análise dos estudantes de cor negra, a intelectualidade. Por não ser um ambiente agradável para esses estudantes, o entendimento e o aprendizado tornam-se mais dificultosos, a violência simbólica imposta pelos padrões culturais hegemônicos criam barreiras e esses mesmos estudantes, de acordo com Brito, passam a compartilhar uma valorização pela proeza e prática esportiva. “Os relatos levaram a crer opção pelo mundo da quadra, dos esportes, fornecia a esses jovens uma esperança de sucesso e status que nem sequer imaginavam ser possível obter em outras ocupações, diferente do narrado pelos estudantes brancos 7.

É triste conceber uma realidade escolar em que os impactos da exclusão e das desigualdades socioeconômicas, bem como o desrespeito ao direito as diferenças implicam para jovens negros uma realidade na qual, além de não construírem projetos de longevidade escolar, estão sobre representados entre aqueles que diziam ter como ambição profissional apenas a carreira futebolística8.

Por outro lado, também temos à escola como um espaço de propagação (direta ou indireta) de certos valores de uma cultura social machista. Jovens estudantes são educados em um ambiente onde a hegemonia da masculinidade é latente, principalmente no que tange a condição de autoridade. Além disso, a instituição escolar se configura como um o cenário perfeito para reprodução de práticas homofóbicas e misóginas (paralelo de misandria – ódio ao sexo masculino e contrário de filoginia), causando assim, um profundo grau de exclusão de garotas e homossexuais nesse ambiente.

E diante disso, é nítido que mesmo incluídos em um sistema alicerçados em uma igualdade abstrata, a escola enquanto um ambiente transformador e a educação enquanto ferramenta de emancipação e tomada de consciência política e social, também não são imunes aos valores excludentes e hegemônicos de uma sociedade capitalista. Dessa maneira, tudo aquilo que é avaliado ou valorado como diferente dos padrões, também vão ser vitimizados pelo próprio sistema educacional. Nesse jogo das diferenças, são muitas as ciladas e as consequências produzidas nos obrigam a conceber que nem todos os discursos e práticas pedagógicas são tão politicamente corretas como em muitos casos nos acostumamos a aceitar.

Considerações Finais

Em vista os fatos abordados, a pesquisa pode concluir que mesmo sendo formuladas inúmeras reflexões sobre a função social da escola, em vista as suas potencialidades de promover a emancipação social por meio de um ensino reflexivo e uma aprendizagem mais crítica, não podemos conceber a análise sobre tal instituição desvinculada aos padrões hegemônicos construídos historicamente na sociedade capitalista.. Nesse contexto, fatos ligados aos processos de desigualdades socioeconômicas e exclusão social também são reproduzidos dentro da escola, e o ambiente que, teoricamente seria propício a uma inclusão e respeito ao direito às diferença, torna-se mais uma ferramenta de reprodução e fortalecimento dos valores dominantes.

Nessa quadra, a violência simbólica se estabelece sobre jovens negros, homossexuais e mulheres principalmente, acarretando uma aversão ao ambiente escolar, por parte desses estudantes. A escola não oferece atrativos culturais ou ideológicos para esses jovens, pelo contrário, sua matriz curricular ainda é eurocêntrica, machista, patrimonialista e judaico-cristã. E justamente por esses fatores que outros espaços tornam-se mais atrativos para jovens pobres, negros e homossexuais, justificando de uma certa maneira os excessivos casos de reprovação e evasão escolar por parte dessa população culturalmente excluídas.

Existem muitas ciladas nesse jogo das diferenças, o respeito ou a isonomia não são elementos suficientes para promover a dignidade e autonomia das populações excluídas, já que no âmbito da igualdade formal, muitos aspectos da cultura negra, por exemplo são desconsiderados ou tipificados como anormais, frente aos padrões incorporados ao senso comum da maioria das pessoas. E dessa maneira, os impactos sobre o aprendizado e a continuidade dos estudos são profundos para aqueles que ao invés de se emanciparem culturalmente, se tornam vítimas do próprio sistema educacional.

Notas:
1. PIERUCCI, Ciladas da diferença. São Paulo: USP, Curso de Pós-gradudação em Sociologia. Ed. 34, p. 103
2. SAVIANI. Escola e Democracia. 4Ed, São Paulo: Cortez, p.24
3. MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, p. 21
4. SAVIANI. Escola e Democracia. 4Ed, São Paulo: Cortez, p.26
5. SAVIANI. Escola e Democracia. 4Ed, São Paulo: Cortez, p. 18
6. SPOSATI, Aldaíza. Exclusão social abaixo da linha do Equador. p.10
7. Idem, p. 11
8. SPOSATI, Aldaíza. Exclusão social abaixo da linha do Equador. p.12

Referências
BRITO, Rosemeire dos Santos. Gênero, raça e fracasso escolar: algumas articulações analíticas. In CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO, 3., 2011, Paraná. Anais... Paraná: UEPG, 2011.
MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.
PERUCCI, Antonio Flávio. Amanhã, a diferença? IN: PERUCCI, Antonio Flávio. Ciladas da diferença. São Paulo: USP, Curso de Pós-graudação em Sociologia. Ed. 34, 1999.
SAVIANI. Escola e Democracia. 4Ed, São Paulo: Cortez.
SPOSATI, Aldaíza. Exclusão social abaixo da linha do Equador. In: SEMINÁRIO DE EXCLUSÃO SOCIAL. São Paulo. Anais... São Paulo:PUC
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Porque os jovens profissionais da geração Y estão infelizes

Ana é parte da Geração Y, a geração de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990. Ela também faz parte da cultura Yuppie, que representa uma grande parte da geração Y.

“Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. - Wikipedia.

Eu dou um nome para yuppies da geração Y — costumo chamá-los de “Yuppies Especiais e Protagonistas da Geração Y”, ou “GYPSY” (Gen Y Protagonists & Special Yuppies). Um GYPSY é um tipo especial de yuppie, um tipo que se acha o personagem principal de uma história muito importante.

Então Ana está lá, curtindo sua vida de GYPSY, e ela gosta muito de ser a Ana. Só tem uma pequena coisinha atrapalhando:

Ana está meio infeliz.

Para entender a fundo o porquê de tal infelicidade, antes precisamos definir o que faz uma pessoa feliz, ou infeliz. É uma formula simples:

É muito simples — quando a realidade da vida de alguém está melhor do que essa pessoa estava esperando, ela está feliz. Quando a realidade acaba sendo pior do que as expectativas, essa pessoa está infeliz.

Para contextualizar melhor, vamos falar um pouco dos pais da Ana:



Os pais da Ana nasceram na década de 1950 — eles são “Baby Boomers“. Foram criados pelos avós da Ana, nascidos entre 1901 e 1924, e definitivamente não são GYPSYs.



Na época dos avós da Ana, eles eram obcecados com estabilidade econômica e criaram os pais dela para construir carreiras seguras e estáveis. Eles queriam que a grama dos pais dela crescesse mais verde e bonita do que eles as deles próprios. Algo assim:



Eles foram ensinados que nada podia os impedir de conseguir um gramado verde e exuberante em suas carreiras, mas que eles teriam que dedicar anos de trabalho duro para fazer isso acontecer.


Depois da fase de hippies insofríveis, os pais da Ana embarcaram em suas carreiras. Então nos anos 1970, 1980 e 1990, o mundo entrou numa era sem precedentes de prosperidade econômica. Os pais da Ana se saíram melhores do que esperavam, isso os deixou satisfeitos e otimistas.



Tendo uma vida mais suave e positiva do que seus próprios pais, os pais da Ana a criaram com um senso de otimismo e possibilidades infinitas. E eles não estavam sozinhos. Baby Boomers em todo o país e no mundo inteiro ensinaram seus filhos da geração Y que eles poderiam ser o que quisessem ser, induzindo assim a uma identidade de protagonista especial lá em seus sub-conscientes.

Isso deixou os GYPSYs se sentindo tremendamente esperançosos em relação à suas carreiras, ao ponto de aquele gramado verde de estabilidade e prosperidade, tão sonhado por seus pais, não ser mais suficiente. O gramado digno de um GYPSY também devia ter flores.



Isso nos leva ao primeiro fato sobre GYPSYs:

GYPSYs são ferozmente ambiciosos



O GYPSY precisa de muito mais de sua carreira do que somente um gramado verde de prosperidade e estabilidade. O fato é, só um gramado verde não é lá tão único e extraordinário para um GYPSY. Enquanto seus pais queriam viver o sonho da prosperidade, os GYPSYs agora querem viver seu próprio sonho.

Cal Newport aponta que “seguir seu sonho” é uma frase que só apareceu nos últimos 20 anos, de acordo com o Ngram Viewer, uma ferramenta do Google que mostra quanto uma determinada frase aparece em textos impressos num certo período de tempo. Essa mesma ferramenta mostra que a frase “carreira estável” saiu de moda, e também que a frase “realização profissional” está muito popular.





Para resumir, GYPSYs também querem prosperidade econômica assim como seus pais – eles só querem também se sentir realizados em suas carreiras, uma coisa que seus pais não pensavam muito.

Mas outra coisa está acontecendo. Enquanto os objetivos de carreira da geração Y se tornaram muito mais específicos e ambiciosos, uma segunda ideia foi ensinada à Ana durante toda sua infância:



Este é provavelmente uma boa hora para falar do nosso segundo fato sobre os GYPSYs:

GYPSYs vivem uma ilusão

Na cabeça de Ana passa o seguinte pensamento: “mas é claro… todo mundo vai ter uma boa carreira, mas como eu sou prodigiosamente magnífica, de um jeito fora do comum, minha vida profissional vai se destacar na multidão”. Então se uma geração inteira tem como objetivo um gramado verde e com flores, cada indivíduo GYPSY acaba pensando que está predestinado a ter algo ainda melhor:

Um unicórnio reluzente pairando sobre um gramado florido.



Mas por que isso é uma ilusão? Por que isso é o que cada GYPSY pensa, o que põe em xeque a definição de especial:

es-pe-ci-al | adjetivo melhor, maior, ou de algum modo diferente do que é comum

De acordo com esta definição, a maioria das pessoas não são especiais, ou então “especial” não significaria nada.

Mesmo depois disso, os GYPSYs lendo isto estão pensando, “bom argumento… mas eu realmente sou um desses poucos especiais” – e aí está o problema.

Uma outra ilusão é montada pelos GYPSYs quando eles adentram o mercado de trabalho. Enquanto os pais da Ana acreditavam que muitos anos de trabalho duro eventualmente os renderiam uma grande carreira, Ana acredita que uma grande carreira é um destino óbvio e natural para alguém tão excepcional como ela, e para ela é só questão de tempo e escolher qual caminho seguir. Suas expectativas pré-trabalho são mais ou menos assim:



Infelizmente, o mundo não é um lugar tão fácil assim, e curiosamente carreiras tendem a ser muito difíceis. Grandes carreiras consomem anos de sangue, suor e lágrimas para se construir – mesmo aquelas sem flores e unicórnios – e mesmo as pessoas mais bem sucedidas raramente vão estar fazendo algo grande e importante nos seus vinte e poucos anos.

Mas os GYPSYs não vão apenas aceitar isso tão facilmente.

Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, e expert em GYPSYs, fez uma pesquisa onde conclui que a geração Y tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. Ele diz que “uma grande fonte de frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não alcançadas. Elas geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”.

Para aqueles contratando membros da geração Y, Harvey sugere fazer a seguinte pergunta durante uma entrevista de emprego: “Você geralmente se sente superior aos seus colegas de trabalho/faculdade, e se sim, por quê?”. Ele diz que “se o candidato responde sim para a primeira parte mas se enrola com o porquê, talvez haja um senso inflado de grandeza. Isso é por que a percepção da grandeza é geralmente baseada num senso infundado de superioridade e merecimento. Eles são levados a acreditar, talvez por causa dos constantes e ávidos exercícios de construção de auto-estima durante a infância, que eles são de alguma maneira especiais, mas na maioria das vezes faltam justificativas reais para essa convicção”.

E como o mundo real considera o merecimento um fator importante, depois de alguns anos de formada, Ana se encontra aqui:



A extrema ambição de Ana, combinada com a arrogância, fruto da ilusão sobre quem ela realmente é, faz ela ter expectativas extremamente altas, mesmo sobre os primeiros anos após a saída da faculdade. Mas a realidade não condiz com suas expectativas, deixando o resultado da equação “realidade – expectativas = felicidade” no negativo.

E a coisa só piora. Além disso tudo, os GYPSYs tem um outro problema, que se aplica a toda sua geração:

GYPSYs estão sendo atormentados

Obviamente, alguns colegas de classe dos pais da Ana, da época do ensino médio ou da faculdade, acabaram sendo mais bem-sucedidos do que eles. E embora eles tenham ouvido falar algo sobre seus colegas de tempos em tempos, através de esporádicas conversas, na maior parte do tempo eles não sabiam realmente o que estava se passando na carreira das outras pessoas.

A Ana, por outro lado, se vê constantemente atormentada por um fenômeno moderno: Compartilhamento de Fotos no Facebook.

As redes sociais criam um mundo para a Ana onde: A) tudo o que as outras pessoas estão fazendo é público e visível à todos, B) a maioria das pessoas expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C) as pessoas que expôe mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem a não expor sua situação. Isso faz Ana achar, erroneamente, que todas as outras pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.



Então é por isso que Ana está infeliz, ou pelo menos, se sentindo um pouco frustrada e insatisfeita. Na verdade, seu início de carreira provavelmente está indo muito bem, mas mesmo assim, ela se sente desapontada.

Aqui vão meus conselhos para Ana:

1) Continue ferozmente ambiciosa. O mundo atual está borbulhando de oportunidades para pessoas ambiciosas conseguirem sucesso e realização profissional. O caminho específico ainda pode estar incerto, mas ele vai se acertar com o tempo, apenas entre de cabeça em algo que você goste.

2) Pare de pensar que você é especial. O fato é que, neste momento, você não é especial. Você é outro jovem profissional inexperiente que não tem muito para oferecer ainda. Você pode se tornar especial trabalhando duro por bastante tempo.

3) Ignore todas as outras pessoas. Essa impressão de que o gramado do vizinho sempre é mais verde não é de hoje, mas no mundo da auto-afirmação via redes sociais em que vivemos, o gramado do vizinho parece um campo florido maravilhoso. A verdade é que todas as outras pessoas estão igualmente indecisas, duvidando de si mesmas, e frustradas, assim como você, e se você apenas se dedicar às suas coisas, você nunca terá razão pra invejar os outros.

Fonte: Demografia Unicamp
Texto Original: Wait But Why
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quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Apontamentos Sobre Marx e o Marxismo

O presente texto se estabelece a partir da sistematização de alguns apontamentos extraídos a partir da leitura dos seguintes textos de Marx: 1. Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política (1859): Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação). 2. O Capital: Os Dois Factores da Mercadoria:Valor-de-Uso e Valor-de-Troca ou Valor Propriamente Dito (Substância do valor, Grandeza do Valor). 3. O Capital: Processo de Trabalho e Processo de Produção de Mais valia. Tendo como objetivo, contribuir com o debate e entendimento sobre alguns dos principais conceitos existentes, tanto na própria literatura marxiana, quanto nas diversificadas produções de tradição marxista.

Ao lançar um olhar crítico sobre a sociedade, Marx propôs um roteiro que avaliava a humanidade na sua perspectiva social (zoon politikon), ponderando a produção econômica como um aspecto de relevante destaque, para o entendimento a respeito do desenvolvimento social. E diante disso, o filósofo se coloca frente ao desafio de criar uma teoria social e histórica focando uma visão sobre as estruturas econômicas das sociedades. Ao avaliar o capital como um instrumento de produção, que vai além da esfera particular e é entendido, antes de mais nada como um corpo social, sendo assim, completamente alinhada com o seu tempo histórico. Nesse contexto, as sociedades ao produzirem, fazem com que os produtos da natureza tomem formas socialmente adequadas às necessidades humanas socialmente determinadas.

E para haver um entendimento sobre essa sua visão, Marx passa a trabalhar com os conceitos de produção, distribuição, troca e consumo, não como aspectos separados uns dos outros, mas como parte de um corpo social, estruturado sobre uma rígida base econômica. Para Marx “uma dada produção determina um dado consumo, uma dada distribuição e uma dada troca; determina ainda as relações recíprocas e bem determinadas entre esses diversos elementos. Existe uma interação de todos estes elementos: isto é próprio de um todo orgânico”.

Assim, Marx ao propor uma análise social, por meio das condições materiais de uma sociedade, para ele é nítido que essas condições, pautadas pela análise sobre a produção, consumo, distribuição e troca, traz em seu conjunto o entendimento de como a sociedade estudada se organiza e desenvolve seus sistemas políticos, suas instituições e as concepções de Estado e poder.

Seguindo essa avaliação, Marx avalia como a sociedade ao criar seus padrões de consumo, por meio dos valores de uso das mercadorias produzidas, criam também, em seu aspecto quantitativo os seus valores de troca. E esses são medidos, por meio do tempo de trabalho utilizado na produção.

Para o filósofo, "Como valores, as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho cristalizado". È por esse roteiro que em sua teoria, a mercadoria torna-se um aspecto importante para visualizarmos como surgem as relações de produção e como elas tornam-se as bases das relações sociais. O valor das mercadorias, que representam o trabalho acumulado, é uma realidade social. As mercadorias produzidas, quando incluídas no contexto social, passam a se relacionar com as diversas mercadorias existentes, sendo mensuradas dessa forma, não pelo seu valor relativo, e sim pelos valores equivalentes. Ou seja, uma mercadoria somente pode ser mensurada, quando posta em paralela com outra. Assim encontramos o seu valor, e consequentemente o valor do trabalho. Como o valor é uma produção social, as mercadorias ao serem valoradas, passam a regular as relações de trocas existentes na sociedade. Ou seja, somente pela troca é que os produtos do trabalho adquirem, como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta da sua existência material e multiforme como objetos úteis.

O trabalho aqui é medido pelo tempo e pela mercadoria, em seu aspecto qualitativo e quantitativo. Para atribuir valor à mercadoria, a moeda torna-se um valor equivalente universal. Sendo assim, a força de trabalho, enquanto elemento constitutivo da produção econômica, torna-se também uma mercadoria, uma espécie de bem intermediário, que ao ser “comprada” pelo capitalista, junto com os demais elementos da produção, gera na mercadoria produzida o valor excedente, denominada de Mais Valia que a característica mais relevante para o entendimento das formas capitalistas da produção de mercadoria.


REFERÊNCIAS:
Marx, Karl. “Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política”, Arquivo Marxista na Internet, [online]. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm.

________ (1974) “Processo de Trabalho de Processo de Produção da Mais-Valia”, Arquivo Marxista na Internet, [online]. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital- v1/vol1cap07.htm.
________ (1974) “O fetichismo da mercadoria e seu segredo”, Arquivo Marxista na Internet, [online]. Disponível em http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.html
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Sinpro Pernambuco Lança Campanha Salarial 2014



No próximo dia 22 de fevereiro, às 9h, o Sindicato dos Professores de Pernambuco lança a campanha salarial 2014 rede privada de ensino. O encontro acontecerá no auditório do Sinpro Pernambuco, na Rua Almeida Cunha, nº 65, Boa Vista Recife-PE.

Os principais pontos a serem debatidos será a autorização de instauração do dissídio coletivo de trabalho, aprovação de contribuição para custos da campanha e aprovação da pauta de reivindicação que será entregue ao Sindicato Patronal – Sinepe.

Nos últimos três anos, os professores entraram em greve geral. Em 2013, o movimento grevista durou sete dias. Cerca de 80% das escolas privadas de Pernambuco tiveram suas atividades paralisadas.

Entre as conquistas, a categoria garantiu uma grande vitória na cláusula que trata do adicional de pesquisa e correção de provas. Nesta, uma grande injustiça foi corrigida. Os donos de escolas passaram a reconhecer como legítimo o pagamento do trabalho extraclasse. Esse adicional obrigatório será de 8,5% mensalmente sobre os salários dos docentes, inclusive sobre o 13°.

A busca pela equiparação dos pisos salariais dos professores da educação básica (Educação Infantil ao Nível Médio) ainda tem sido uma luta constante para a diretoria do Sinpro Pernambuco. Os educadores receberam para o nível 1- R$ 6,72 e para o nível 2- R$ 7,67. Já o reajuste salarial geral dos professores foi de 8,22% .

Na campanha salarial 2013, a vitória dos professores foi política, mas com ganhos econômicos estruturais. Dessa vez, os docentes mostraram para sociedade, que as reivindicações da categoria, vão além o reajuste salarial. Os professores tomaram como mote da campanha salarial a valorização profissional com qualidade de vida e denunciaram a população que a categoria tem a vida privada invadida pelo excesso de trabalhos extraclasses.

O Sinpro Pernambuco lembra aos docentes que participação da categoria nas assembleias é muito importante para a garantia de direitos. “Na campanha salarial 2014, devemos ter como base a dignidade da categoria .Vamos em busca de mais qualidade de vida e valorização profissional”, afirmou Jackson Bezerra.

FONTE: Sinpro-PE
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Breves Reflexões Sobre o Marxismo


O filósofo alemão, Karl Marx (1818/1883) foi o fundador, junto com Friedrich Engels (1820/1895), do socialismo científico. Juntos, lançaram as bases do Materialismo Histórico e Dialético e da Economia Política do Capitalismo, a partir da análise concreta sobre o surgimento do capitalismo, da história das sociedades humanas, da luta de classes e da crítica de outras correntes filosóficas então em voga.

O marxismo se construiu a partir do acúmulo de ideias e análises alicerçadas pelo materialismo histórico e dialético, onde se trazia a baila alguns entendimentos científicos a respeito da estrutura da sociedade capitalista e o papel da classe trabalhadora nessa dinâmica. Se apoderando de conceitos filosóficos e de fundamentos da economia política, o marxismo proporciona ao proletariado um corpo teórico necessário para que os trabalhadores e trabalhadoras levem a cabo a sua tarefa historicamente determinada pela própria dialética histórica que seria o da transformação da sociedade em linhas socialistas.

Na concepção do professor José Paulo Neto, “os marxistas encaram de uma maneira muito variada a obra de Marx”, e por isso, torna-se fundamental distinguir a obra marxiana da tradição marxista. Pois nesse último campo, encontramos vertentes como a dos marxólogos, que dissecam Marx como peça do passado, os marxizantes, que tiram da obra de Marx o que lhes convém e os marxistas acadêmicos, que ganham a vida graças à suposição da existência desse algo chamado “o marxismo”¹. Ou seja, é importante separar o que Marx formulou e o que foi apoderado de sua obra em nome de uma teoria marxista.

Podemos assim dizer que a teoria marxista foi erguida, não pelo próprio Marx, mas a partir de um método criado por ele, tendo como pilares os seguintes aspectos: a dialética, a revolução na ótica operária como perspectiva e o vínculo com a luta operária. Sem esses pressupostos, torna-se impossível entender o marxismo. É válido ressaltar que Marx, além de pensar a sociedade, ele também se vincula diretamente às lutas dos trabalhadores enquanto dirigente político, vide a própria história da Comuna de Paris de 1871.

E frente aos acúmulos de ordem intelectual (que foram muitos) e de ordem concreta e militante, Marx elabora a partir da obra marxiana nada mais é que uma análise sobre a sociedade burguesa, por meio de “um complexo sistemático de hipóteses verificáveis, extraídas da análise histórica concreta, sobre a gênese, a constituição e o desenvolvimento da organização social que se estrutura quando o modo de produção capitalista se torna dominante².

É válido ressaltar que a ideia de modo de produção em Marx, não seria apenas uma:
“mera reprodução da existência física dos indivíduos. Pelo contrário, já constitui um modo determinado de atividade de tais indivíduos, uma forma determinada de manifestar a sua vida, um modo de vida determinado. A forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção³”.

Engels, ao escrever “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico em 1880, explicou muito bem o que seria o marxismo, enquanto uma concepção:
materialista da história que parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz o pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na ideia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transformações operadas no modo de produção e de troca; devem ser procuradas não na filosofia, mas na economia da época de que se trata. (ENGELS, 1880).

Para Marx, as contradições só poderiam ser entendidas, a partir de uma análise sobre a teoria do Valor-Trabalho, onde o espectro econômico é trazido para o centro dos estudos. Foi por meio das análises estruturais (econômicas) da sociedade, que Marx conseguiu ver que a sociedade burguesa é fundamentada na exploração de uma classe hegemônica sobre outra classe dominada e todas as demais relações e instituições sociais derivam dessas formas de exploração e expropriação da produção material.

De uma forma mais geral, Marx, ao longo de sua difícil jornada intelectual e militante, sempre foi fiel ao seu objeto de análise, e a partir desses estudos, ele proporcionou aos demais cientistas sociais uma teoria sobre a ordem burguesa, com a finalidade de expor o seu entendimento a partir das contradições naturais da sociedade capitalista e assim contribuir para a subversão desta própria ordem. Sua intenção não era acadêmica, mas de servir a revolução. E com isso, Marx nos deu a lógica do capital, para que assim, a partir da elevação do nível de consciência por parte dos trabalhadores frente as contradições do mundo burguês, a sociedade, através da revolução promovida pelo proletariado, fosse regida por um transitório Estado socialista capaz de lançar as bases para a construção do comunismo.

NOTAS:
1. NETTO, José Paulo. O que é Marxismo.
2. Idem.
3. MARX, Karl. A Ideologia Alemã.

REFERÊNCIAS:
NETTO, José Paulo. O que é marxismo. São Paulo: Brasiliense, 2003.
COUTINHO, Carlos Nelson. Intervenções: o marxismo na batalha das ideias. São Paulo: Cortez, 2006.
ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico. São Paulo: Global Editora, 1981.
MARX, Karl. & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã.São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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