segunda-feira, julho 19, 2010

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

Gilberto e Olinda.
Publicado em 27.05.2007

Foi muito oportuna a publicação, pela Editora Global, do livro de Gilberto Freyre, Olinda, 2º guia prático, histórico e sentimental da cidade brasileira, em sua sexta edição, com prefácio e notas de atualização do escritor Edson Nery da Fonseca. É um livro primorosamente ilustrado por Manoel Bandeira, que cuidou da primeira edição, e está acompanhado de mapa turístico, de Rosa Maria de Barros Carvalho, ostentando as capitulares e desenhos de Luís Jardim, revivendo a 2ª edição.

Os guias históricos e sentimentais de cidades brasileiras foram iniciados por Gilberto Freyre, com o do Recife, que em breve terá nova edição, e foram publicados nos anos 40, quando se pretendeu dar maior importância ao desenvolvimento do turismo no Brasil. Foram numerosos os guias então publicados, como o da Bahia, escrito por Jorge Amado, o de Santa Maria de Belém do Pará, de Leandro Tocantins, historiador acreano, o do Rio de Janeiro, de Vivaldo Coaracy, o de João Pessoa, de Ademar Vidal, entre outros.

São livros que, como o de Ouro Preto, do poeta Manuel Bandeira, estão a pedir novas edições, a fim de que circulem no mercado ao lado dos conhecidos guias comerciais de turismo, como ocorre na França, com os guias Michelin. É bom lembrar que guias de turismo não são apenas informativos, mas também históricos e literários. E famosos, como o do geógrafo anarquista francês Elysée Reclus, nos fins do século 19.

O Guia de Olinda é um primor de livro, nele Gilberto se revela um entusiasta da cidade histórica, que considera mãe do Recife, descrevendo seus monumentos, marca dos cinco século de história que a cidade atravessou, a importância de cada um deles é analisada em função do valor histórico e arquitetônico. Fala até da poesia que os fatos trazem, como, primeiramente, o nome da cidade, Olinda, que não está bem esclarecido, se da expressão de um criado galego do donatário, exclamando “Oh! Linda posição para uma vila!”, ou se do nome de alguma quinta portuguesa, de algum romance de cavalaria ou de alguma bela dama que o fidalgo reinol tenha amado.

Além de descrever monumentos, palácios, igrejas, capelas, chafarizes, pontes e passos, ele analisa a cidade dia a dia, suas missas, tedeums, procissões, a tragédia da invasão holandesa e a participação direta nas insurreições e lutas nativistas, como o episódio da prisão de Jerônimo de Mendonça Furtado, o Xumbergas, da Guerra dos Mascates, das revoluções de 1817, de 1821 e de 1844. É bom sempre lembrar que foi de Olinda que partiu para o Norte a coluna que procurou manter viva a ideologia republicana da Confederação do Equador, sob a liderança de frei Caneca.

Olinda foi ainda um centro educacional famoso, com o Colégio dos Jesuítas e em seguida com o Seminário do Bispo Azeredo Coutinho, onde se ensinava filosofia, teologia e desenho. Olinda seria cidade universitária, quando foi instalado, no Mosteiro de São Bento, o curso jurídico, posteriormente transferido para o Recife. Mesmo depois dessa transferência, Olinda continuaria um centro de estudos, com o Seminário Maior, formador de padres seculares, e escolas religiosas para sacerdotes regulares, beneditinos, carmelitas, franciscanos, etc.

Em certo período, quando perdeu para o Recife a categoria de capital, em 1827, Olinda passou a viver uma vida pacata e calma, não perdendo a categoria intelectual, tornando-se uma cidade de estudantes, clérigos, cônegos, sobretudo porque, quando d. João Perdigão transferiu a residência do Bispo para a florescente cidade do Recife, o Cabido, com seus cônegos, permaneceu na Sé de Olinda.

Hoje, Olinda ainda se destaca por suas belas e velhas igrejas, que merecem ser visitadas por turistas e moradores, como cidade universitária, onde funcionam instituições de ensino secundário e superior.

Ao lermos com vagar o livro de Gilberto, vem o desejo de reler o Guia do Recife, que brevemente será reeditado, e lastimar não dispormos de guias de cidade de menor porte, mas famosas, como Igarassu, Goiana, Itamaracá, Ipojuca, Rio Formoso, Sirinhaém, assim como de roteiros na área açucareira, como os dos vales do Capibaribe Mirim, do Siriji, do Capibaribe, do Ipojuca, do Sirinhaém, do Una e de tantos outros onde verdadeiras relíquias histórico-arquitetônicas vêm sendo destruídas.

» Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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Gilberto e Olinda.
Publicado em 27.05.2007

Foi muito oportuna a publicação, pela Editora Global, do livro de Gilberto Freyre, Olinda, 2º guia prático, histórico e sentimental da cidade brasileira, em sua sexta edição, com prefácio e notas de atualização do escritor Edson Nery da Fonseca. É um livro primorosamente ilustrado por Manoel Bandeira, que cuidou da primeira edição, e está acompanhado de mapa turístico, de Rosa Maria de Barros Carvalho, ostentando as capitulares e desenhos de Luís Jardim, revivendo a 2ª edição.

Os guias históricos e sentimentais de cidades brasileiras foram iniciados por Gilberto Freyre, com o do Recife, que em breve terá nova edição, e foram publicados nos anos 40, quando se pretendeu dar maior importância ao desenvolvimento do turismo no Brasil. Foram numerosos os guias então publicados, como o da Bahia, escrito por Jorge Amado, o de Santa Maria de Belém do Pará, de Leandro Tocantins, historiador acreano, o do Rio de Janeiro, de Vivaldo Coaracy, o de João Pessoa, de Ademar Vidal, entre outros.

São livros que, como o de Ouro Preto, do poeta Manuel Bandeira, estão a pedir novas edições, a fim de que circulem no mercado ao lado dos conhecidos guias comerciais de turismo, como ocorre na França, com os guias Michelin. É bom lembrar que guias de turismo não são apenas informativos, mas também históricos e literários. E famosos, como o do geógrafo anarquista francês Elysée Reclus, nos fins do século 19.

O Guia de Olinda é um primor de livro, nele Gilberto se revela um entusiasta da cidade histórica, que considera mãe do Recife, descrevendo seus monumentos, marca dos cinco século de história que a cidade atravessou, a importância de cada um deles é analisada em função do valor histórico e arquitetônico. Fala até da poesia que os fatos trazem, como, primeiramente, o nome da cidade, Olinda, que não está bem esclarecido, se da expressão de um criado galego do donatário, exclamando “Oh! Linda posição para uma vila!”, ou se do nome de alguma quinta portuguesa, de algum romance de cavalaria ou de alguma bela dama que o fidalgo reinol tenha amado.

Além de descrever monumentos, palácios, igrejas, capelas, chafarizes, pontes e passos, ele analisa a cidade dia a dia, suas missas, tedeums, procissões, a tragédia da invasão holandesa e a participação direta nas insurreições e lutas nativistas, como o episódio da prisão de Jerônimo de Mendonça Furtado, o Xumbergas, da Guerra dos Mascates, das revoluções de 1817, de 1821 e de 1844. É bom sempre lembrar que foi de Olinda que partiu para o Norte a coluna que procurou manter viva a ideologia republicana da Confederação do Equador, sob a liderança de frei Caneca.

Olinda foi ainda um centro educacional famoso, com o Colégio dos Jesuítas e em seguida com o Seminário do Bispo Azeredo Coutinho, onde se ensinava filosofia, teologia e desenho. Olinda seria cidade universitária, quando foi instalado, no Mosteiro de São Bento, o curso jurídico, posteriormente transferido para o Recife. Mesmo depois dessa transferência, Olinda continuaria um centro de estudos, com o Seminário Maior, formador de padres seculares, e escolas religiosas para sacerdotes regulares, beneditinos, carmelitas, franciscanos, etc.

Em certo período, quando perdeu para o Recife a categoria de capital, em 1827, Olinda passou a viver uma vida pacata e calma, não perdendo a categoria intelectual, tornando-se uma cidade de estudantes, clérigos, cônegos, sobretudo porque, quando d. João Perdigão transferiu a residência do Bispo para a florescente cidade do Recife, o Cabido, com seus cônegos, permaneceu na Sé de Olinda.

Hoje, Olinda ainda se destaca por suas belas e velhas igrejas, que merecem ser visitadas por turistas e moradores, como cidade universitária, onde funcionam instituições de ensino secundário e superior.

Ao lermos com vagar o livro de Gilberto, vem o desejo de reler o Guia do Recife, que brevemente será reeditado, e lastimar não dispormos de guias de cidade de menor porte, mas famosas, como Igarassu, Goiana, Itamaracá, Ipojuca, Rio Formoso, Sirinhaém, assim como de roteiros na área açucareira, como os dos vales do Capibaribe Mirim, do Siriji, do Capibaribe, do Ipojuca, do Sirinhaém, do Una e de tantos outros onde verdadeiras relíquias histórico-arquitetônicas vêm sendo destruídas.

» Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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