domingo, janeiro 01, 2023

O BRASIL NA ENCRUZILHADA: A URGENTE E DELICADA RECONSTRUÇÃO NACIONAL (PARTE 1)

 PARTE 1 - O NECESSÁRIO COMBATE AO PÓS-FASCISMO

É grande a expectativa do povo brasileiro (e da própria comunidade internacional), em relação aos rumos que o país tomará em 2023, com o então retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Vários fatores justificam essa espera, seja o fato de termos, formal e materialmente superado os seis últimos anos de governos estabelecidos sob a égide do golpe de 2016, seja pelo término da tragédia fascista/ultraliberal do governo Bolsonaro, ou mesmo pela esperança de uma reconstrução nacional, a fim de superar o conjunto de mazelas e contradições ampliadas exponencialmente, principalmente no contexto da pandemia de 2020.

E destacando atenção sobre a questão de uma reconstrução nacional, iremos nos debruçar sobre este tema, trazendo a baila alguns aspectos que dialogam com tal processo, na intenção de apresentar uma singela contribuição teórica à esse importante debate, bem como, tentar estabelecer uma reflexão acerca da matéria, compreendendo que tal contexto não se dá de uma forma tão tranquila e normalmente se efetiva por caminhos complexos, calorosos e desestabilizadores. 

Além disso, compreendemos também que os processos de reconstrução nacional, comumente demandam um considerável tempo e um necessário e crescente acúmulo de forças políticas e de capital social, haja vista que as disputas reais e ideológicas vão estar sempre postas, sobretudo, nos mais variados espaços, do Congresso Nacional às igrejas, redes sociais, entre outros expedientes.

E diante os tantos pontos que dialogam, direta ou indiretamente, com a necessária reconstrução nacional, destaca-se a relevante tarefa de superar o, então denominado, pós-fascismo, aqui implantado, principalmente no governo bolsonarista. Uma incumbência complexa, mas imperiosa, não somente no Brasil, mas percebendo a própria América Latina, e o papel que o nosso país exerce frente às nações vizinhas.

O termo pós-fascismo é trazido, principalmente, pelos estudos publicados pelo intelectual italiano, Enzo Traverso (que em pontual contraposição ao que Michael Löwy, denomina de neofascismo), sendo percebido como um movimento crescente no mundo (sobretudo na Europa após 2018), e que, ao contrário do que a própria expressão sugere, não seria a superação ou  tampouco, uma versão ou cópia atualizada de um passado, mas, como uma nova configuração fascista, nas formas e táticas, sem demonstrar explicitamente, em dadas circunstâncias, seu conteúdo ideológico clássico e mesmo estando fortemente atrelado às suas raízes programáticas, adquirem características nacionais, locais ou específicas de certos grupos, abusando assim, de métodos diversos no processo de recrutamento ideológico, seja de maneira mais tácita ou expressa.

Também podemos compreender o pós-fascismo como um fenômeno incorporado às certas circunstâncias sociais emergentes no século XXI, apresentando-se assim, como facetas em frações neopentecostais, islâmicas, militaristas, nacionalistas, católicos-fundamentalistas, extrema-direita etc.

No Brasil, o pós-fascismo se estabelece como forte traço ideológico dentro de um conjunto de pessoas e facções que orbitam em torno do bolsonarismo e suas manifestações se deram, tanto nos momentos do golpe de 2016, nas eleições de 2018, dentro do próprio governo Bolsonaro, e após sua derrocada, nas eleições de 2022.

Um fato bastante preocupante, sobretudo após a vitória de Lula nas eleições presidenciais, o que mostrou, com esses grupos, além do rompimento com a racionalidade, bandeiras preocupantes à democracia e a ordem social, visto os gritos em favor de um golpe militar, fechamento das instituições democráticas, vandalismo e atos terroristas. 

O pior é que as manifestações e os “acampamentos” que estão acontecendo em frente aos quartéis podem representar, além dos riscos já percebidos, uma forte “incubadora” do pós-fascismo em todo país, haja vista que dentro dessas estruturas montadas, transitam e se organizam várias das facções citadas (militares, evangélicos, extremistas etc.).

E enxergando a situação, dentro do contexto de uma reconstrução nacional, caberá à todas as frentes e setores democráticos, bem como, o próprio governo federal, empreender o devido enfrentamento e combate a esse mal instituído por Bolsonaro. Felizmente, em uma de suas entrevistas, o presidente Lula já sinalizou interesse em desmontar esse pós-fascismo tupiniquim. No entanto, é preciso acumular forças para tal, e por isso que a questão ainda deve permanecer nas agendas e nas lutas das forças progressistas e de esquerda no país. A tarefa não será fácil ou sem eventuais fissuras, contudo, desprovido de quaisquer dúvidas, é correto afirmar que tal embate é urgente, necessário e determinante para os dias que estão por vir.

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