segunda-feira, outubro 13, 2014

Eleições 2014: Congresso Nacional permanecerá desigual nos próximos quatro anos



Os resultados do 1º turno das Eleições 2014 infelizmente demonstram que o Brasil não avançou na equidade e representatividade na política. Negros (as), mulheres, indígenas e jovens continuarão sub-representados nos próximos quatro anos no Congresso Nacional. Importante ressaltar que, pela primeira vez na história, o Brasil tem o dado oficial do perfil racial do Parlamento, informação que pode passar a impactar o debate sobre democratização do processo eleitoral e acesso aos espaços de poder de grupos historicamente excluídos da vida política.

Os dados são desanimadores: para o cargo de deputado federal, foram eleitas somente 51 mulheres (9,9%), ao passo que se elegeram 462 homens (90,10%); no Senado, foram cinco mulheres (18,5%) e 22 homens (81,5%). Considerando, então, o Parlamento como um todo (540 cargos), as mulheres representam 10,37% – em 2010, foram 9,2% de um total de 567 cargos. Das mulheres eleitas, 12 se declararam negras, 11 na Câmara e uma no Senado. Importante ressaltar que, pela primeira vez na história, os partidos conseguiram cumprir a cota de equidade de gênero imposta pela Lei 9.504/97, mas os dados demonstram que essas candidatas não conseguiram chegar ao poder. Deve ser dito ainda que a cota apenas determina o mínimo (30%), mas o ideal seria haver paridade entre homens e mulheres em todas as etapas do processo eleitoral.

Os estados que tiveram maior número de mulheres eleitas foram São Paulo e Rio de Janeiro, que elegeram seis mulheres cada, seguidos de Minas Gerais, com cinco mulheres eleitas. Espírito Santo, Paraíba, Mato Grosso e Rio Grande do Sul não elegeram nenhuma mulher para a Câmara dos Deputados federal. Quanto aos partidos políticos, os que mais elegeram mulheres foram o Partido dos Trabalhadores – PT (oito deputadas federais e uma senadora) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB (sete deputadas federais e três senadoras), seguidos do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com cinco deputadas federais cada.

No que diz respeito à questão da autodeclaração quanto ao quesito raça/cor, nenhum indígena foi eleito para o Parlamento Federal. Quanto aos negros, foram eleitos para a Câmara 106 candidatos, que se autodeclararam negros (somatória de pretos + pardos), representando 20,7% do total: os brancos foram 407 (79,3%). No Senado, foram eleitos cinco negros e 22 brancos. A composição total do Congresso Nacional, portanto, é de 20,5% de negros e 79,5% de brancos. Considerando que a população negra no Brasil representa 52% da população, podemos dizer que o Legislativo não reflete, mais uma vez, a composição étnico-racial da sociedade. O partido político que elegeu mais negros foi o PT (18 deputados), seguido do PSB (10) e do Partido Republicano Brasileiro - PRB (10). No Senado, os cinco negros eleitos pertencem aos partidos PT, PSB, Partido Progressista - PP, Partido Democrático Trabalhista - PDT e Democratas - DEM.


Quanto à idade dos candidatos eleitos, 4,3% tem menos de 29 anos, significando que os jovens também seguiram sub-representados, já que entre as candidaturas representavam 6,8% do total (considerando todos os cargos), e 6,4% concorrendo para Câmara e Senado.

Em outubro de 2014, o Inesc realizou o seminário "Desigualdades no Parlamento: sub-representação e reforma do sistema político”, no qual apresentou os dados com relação ao perfil dos candidatos e candidatas às Eleições 2014, considerando as variáveis sexo, raça/cor e idade, em relação com a distribuição regional e partidos políticos. À época, os dados demonstraram que as candidaturas continuavam a refletir desigualdades intrínsecas da sociedade brasileira relativas às relações de gênero e étnico-raciais, assim como geracional. O resultado das eleições demonstra que, na corrida eleitoral, isso se agrava, e equidade ficou comprometida.

Isso pode ser explicado por um conjunto de fatores que interferem no voto: desde o financiamento privado de campanhas que, geralmente, são canalizados para candidatos homens, brancos, com maior poder aquisitivo e que acabam por ter mais tempo de exposição na mídia; até a própria discriminação do eleitor em relação a determinados perfis, dado que ainda não superamos o racismo e o sexismo em nossa sociedade.

Os dados quanto ao perfil das candidaturas devem ser alvo de reflexão pela sociedade. Um primeiro passo, deve ser pensado como realizar um ajuste imediato no processo eleitoral, visando à promoção da equidade de gênero e raça, por exemplo, estabelecendo cotas para negros e negras nos partidos. No longo prazo, a reforma do sistema político deve ser discutida de forma ampla e democrática, a fim de que a própria estrutura do sistema político seja aperfeiçoada, alterando critérios para a composição partidária, o formato das campanhas e as regras para votação: destaca-se o urgente e necessário fim do financiamento privado de campanha, hoje o fator que mais promove desigualdades no Parlamento, e que também é um aspecto que gera a corrupção generalizada nos partidos.

Por Carmela Zigoni
Fonte das Informações: TSE, 2014. 
Fonte do Texto: Inesc/Adital 
Elaboração: Inesc.

TABELA
*Dados relativos as candidaturas para Câmara Federal e Senado.
############################################################################################################























Os resultados do 1º turno das Eleições 2014 infelizmente demonstram que o Brasil não avançou na equidade e representatividade na política. Negros (as), mulheres, indígenas e jovens continuarão sub-representados nos próximos quatro anos no Congresso Nacional. Importante ressaltar que, pela primeira vez na história, o Brasil tem o dado oficial do perfil racial do Parlamento, informação que pode passar a impactar o debate sobre democratização do processo eleitoral e acesso aos espaços de poder de grupos historicamente excluídos da vida política.

Os dados são desanimadores: para o cargo de deputado federal, foram eleitas somente 51 mulheres (9,9%), ao passo que se elegeram 462 homens (90,10%); no Senado, foram cinco mulheres (18,5%) e 22 homens (81,5%). Considerando, então, o Parlamento como um todo (540 cargos), as mulheres representam 10,37% – em 2010, foram 9,2% de um total de 567 cargos. Das mulheres eleitas, 12 se declararam negras, 11 na Câmara e uma no Senado. Importante ressaltar que, pela primeira vez na história, os partidos conseguiram cumprir a cota de equidade de gênero imposta pela Lei 9.504/97, mas os dados demonstram que essas candidatas não conseguiram chegar ao poder. Deve ser dito ainda que a cota apenas determina o mínimo (30%), mas o ideal seria haver paridade entre homens e mulheres em todas as etapas do processo eleitoral.

Os estados que tiveram maior número de mulheres eleitas foram São Paulo e Rio de Janeiro, que elegeram seis mulheres cada, seguidos de Minas Gerais, com cinco mulheres eleitas. Espírito Santo, Paraíba, Mato Grosso e Rio Grande do Sul não elegeram nenhuma mulher para a Câmara dos Deputados federal. Quanto aos partidos políticos, os que mais elegeram mulheres foram o Partido dos Trabalhadores – PT (oito deputadas federais e uma senadora) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB (sete deputadas federais e três senadoras), seguidos do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com cinco deputadas federais cada.

No que diz respeito à questão da autodeclaração quanto ao quesito raça/cor, nenhum indígena foi eleito para o Parlamento Federal. Quanto aos negros, foram eleitos para a Câmara 106 candidatos, que se autodeclararam negros (somatória de pretos + pardos), representando 20,7% do total: os brancos foram 407 (79,3%). No Senado, foram eleitos cinco negros e 22 brancos. A composição total do Congresso Nacional, portanto, é de 20,5% de negros e 79,5% de brancos. Considerando que a população negra no Brasil representa 52% da população, podemos dizer que o Legislativo não reflete, mais uma vez, a composição étnico-racial da sociedade. O partido político que elegeu mais negros foi o PT (18 deputados), seguido do PSB (10) e do Partido Republicano Brasileiro - PRB (10). No Senado, os cinco negros eleitos pertencem aos partidos PT, PSB, Partido Progressista - PP, Partido Democrático Trabalhista - PDT e Democratas - DEM.


Quanto à idade dos candidatos eleitos, 4,3% tem menos de 29 anos, significando que os jovens também seguiram sub-representados, já que entre as candidaturas representavam 6,8% do total (considerando todos os cargos), e 6,4% concorrendo para Câmara e Senado.

Em outubro de 2014, o Inesc realizou o seminário "Desigualdades no Parlamento: sub-representação e reforma do sistema político”, no qual apresentou os dados com relação ao perfil dos candidatos e candidatas às Eleições 2014, considerando as variáveis sexo, raça/cor e idade, em relação com a distribuição regional e partidos políticos. À época, os dados demonstraram que as candidaturas continuavam a refletir desigualdades intrínsecas da sociedade brasileira relativas às relações de gênero e étnico-raciais, assim como geracional. O resultado das eleições demonstra que, na corrida eleitoral, isso se agrava, e equidade ficou comprometida.

Isso pode ser explicado por um conjunto de fatores que interferem no voto: desde o financiamento privado de campanhas que, geralmente, são canalizados para candidatos homens, brancos, com maior poder aquisitivo e que acabam por ter mais tempo de exposição na mídia; até a própria discriminação do eleitor em relação a determinados perfis, dado que ainda não superamos o racismo e o sexismo em nossa sociedade.

Os dados quanto ao perfil das candidaturas devem ser alvo de reflexão pela sociedade. Um primeiro passo, deve ser pensado como realizar um ajuste imediato no processo eleitoral, visando à promoção da equidade de gênero e raça, por exemplo, estabelecendo cotas para negros e negras nos partidos. No longo prazo, a reforma do sistema político deve ser discutida de forma ampla e democrática, a fim de que a própria estrutura do sistema político seja aperfeiçoada, alterando critérios para a composição partidária, o formato das campanhas e as regras para votação: destaca-se o urgente e necessário fim do financiamento privado de campanha, hoje o fator que mais promove desigualdades no Parlamento, e que também é um aspecto que gera a corrupção generalizada nos partidos.

Por Carmela Zigoni
Fonte das Informações: TSE, 2014. 
Fonte do Texto: Inesc/Adital 
Elaboração: Inesc.

TABELA
*Dados relativos as candidaturas para Câmara Federal e Senado.
############################################################################################################





















0 comentários: