Professor universitário e sociólogo, Jorge Barbosa concede uma breve entrevista para o Jornada Classista, e fala um pouco sobre alguns aspectos sociológicos sobre os movimentos sociais, temática que é seu atual objeto de pesquisa.
VANGUARDA CLASSISTA: Eles estão presentes nos mais diversificados discursos, criminalizados por uns, engrandecido por outros, e diante disso, o que poderíamos ou como poderíamos entender o que são os movimentos sociais?
JORGE BARBOSA: Se formos buscar um conceito mais clássico para definir movimentos sociais poderíamos afirmar que trata de uma ação coletiva que engloba, igualmente, uma ação conflitiva. No entanto, gosto de buscar uma perspectiva mais próximo de uma das referências no Brasil, Maria da Glória Gohn, que o coloca como um contra poder que poder pode ser opor a uma ordem de modelos e/ou estruturas estabelecidas, ou numa perspectiva diferenciada propor algo. Acho que a ideia de se opor ou propor são centrais hoje. Se pensarmos nos ciclistas que se reúnem para pedalar mostrando a importância de meios alternativos para mobilidade, vemos uma ação muito mais propositiva. O outro lado, podemos pensar os movimentos sociais mais consolidados do ponto de vista político e conceitual, a exemplo do sindicato, que numa relação de forças com seu empregador vê-se muitas vezes obrigado à greve, haja vista, que em muitos casos nessa desigualdade que vai se estabelecendo torna-se única saída para se tornar percebido. No contexto atual, o formato dessas organizações tendem a serem muitos e múltiplos quanto a sua concepção, só não podemos correr o risco de confundir ação de indivíduos (logo isolados) como representando uma ação coletiva, daí o risco da generalização .
VANGUARDA CLASSISTA: Movimentos como as Jornadas de Junho e Julho ocorridas em 2013, o #OcupeEstelita, MPL, entre outras mobilizações trouxeram a tona uma nova realidade ou novas interpretações sobre os movimentos sociais. Na sua opinião o que há de divergências entre os Novos e os tradicionais movimentos sociais?
JORGE BARBOSA: Lembro que conversava com um amigo da filosofia e na ocasião nos perguntávamos se nada ia acontecer no momento atual de nossa sociedade. Questionávamos apatia de uma população que assistia e lia pela imprensa uma série de problemas que se repetem na história do Brasil – apesar de acreditar em avanços significativos - como promessas de melhoria do transporte público, o sonho de um sistema de saúde melhor, educação básica de qualidade. As pautas das ruas em Junho de 2013 eram as mais diversas, mas tinha uma essência: a necessidade e um cansaço de ouvir e viver mais do mesmo. Mas isto não surgiu do dia pra noite, também, não considero um modelo de gestão como responsável por isso. O que tínhamos antes, me refiro ao um passado próximo, uma pauta que regia os movimentos sociais na América Latina. A luta pela democracia e uma pauta por justiça social mais próxima aos modelos do socialismo empregado na antiga URSS, de certa forma influenciou os movimentos mais tradicionais. O fim desses modelos, num primeiro, dava a sensação de que não haveria mais pelo que lutar. No entanto, se antigos atores saem de cena, novos cenários vão se configurando a começar por novos movimentos e organizações que lutam por reconhecimento e por direitos que são constituídos numa ordem local. Então, o que podemos chamar de novos? O movimento LGBT que buscam o reconhecimento de direitos e mais respeito na sociedade, o MPL que tem inicio na Bahia e ganha dimensão nacional ao reivindicar pelo direito ao transporte público, gratuito e de qualidade e, mais recentemente o #OcupeEstelita – na busca da preservação e desenvolvimento responsável do espaço urbanos. A presença desses novos atores articulados com as novas mídias sociais tem criado uma nova forma de articulação – seja no plano local ou nacional - diferente do modelo tradicional. Conceitualmente é importante lembrar que muitos dos movimentos tradicionais se formalizaram ou tiveram o reconhecimento do Estado, enquanto grupos que representam uma categoria ou uma causa, neste sentido, contam com uma estrutura organizacional.
Ao tratarmos dessa dicotomia é importante voltar ao argumento de Touraine (no livro “O Pós Socialismo”) que o espaço dos movimentos sociais é na democracia, na pluralidade de ideias e de pautas que surgem. Com as redes sociais torna-se muito rápido a construção dessas pautas.
VANGUARDA CLASSISTA: Como os movimentos sociais podem ser entendidos enquanto sujeitos ou forças políticas na sociedade brasileira e na construção de políticas públicas.
JORGE BARBOSA: Os movimentos sociais tradicionais e novos tem papel central num projeto de sociedade mais justa e igualitária. São estes movimentos que estão lutando (se opondo e propondo) alternativas a um modelo de economia que dissolver todos os direitos à lógica do consumo e do lucro. O #OcupeEstelita, por exemplo, nos faz pensar sobre a cidade de queremos e a que temos. Usando as mídias sociais é possível falar aos jovens das comunidades que a cidade ideal não é aquela que pensar em espaços de lazer e transporte público. Foi através do MPL que parte da população lembrou que vivem numa democracia e que podem usar desse princípio para buscarem algo que lhe é de direito. No campo mais especifico das políticas públicas é inegável a importância dos movimentos sociais. A preservação dos direitos trabalhistas (apesar das melhorias necessárias) os sindicatos tem atuação importante, o movimento negro na conquista de ações afirmativas, e mesmo o pouco que se tenha conquistado nos movimentos pelas luta da terra – sem esses movimentos nem esse pouco seria possível sem essa organização.
VANGUARDA CLASSISTA: Como o Estado deveria ou deve guiar suas relações em relação aos movimentos sociais?
JORGE BARBOSA: Volto a usar o argumento de Touraine “Não existem movimentos sociais sem democracia” Esse deve ser o primeiro guia nas relações com o movimentos. Vê-los como inimigos é fechar as possibilidades de reivindicação, de construção de novas perspectivas e, principalmente, de conquistas sociais em todos os campos da vida social.
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