terça-feira, agosto 19, 2014

Exercícios de Sociologia: As Comunidades (1)


01. Ao elaborarmos um estudo sociológico sobre algumas comunidades, notamos que essas, são marcadas por uma proximidade física entre as pessoas que residem em tais espaços. Pois bem, das alternativas abaixo qual a que não se adéqua a definição sociológica das comunidades:
a) Nitidez territorial.
b) Grandeza territorial.
c) Homogeneidade.
d) Relações pessoais.
e) Dimensões territoriais pequenas.

02. (UPE) Segundo o sociólogo alemão Ferdinand Tönnies, há uma profunda diferença entre o conceito de Comunidades com o conceito de Sociedade. Essa diferença se configura devido ao fato de:
a) As comunidades não desenvolvem um sentimento de coletividade, ao contrario das sociedades.
b) Uma sociedade é composta por várias comunidades que determinam o seu funcionamento.
c) Uma comunidade é unida de acordo com a existência de um sentimento de afetividade coletiva, enquanto a sociedade é uma união de acordos racionais de convivência.
d) As sociedades são marcadas por uma homogeneidade de atores sociais, enquanto as comunidades são marcadas por uma heterogeneidade.
e) Todas as alternativas estão corretas.

03. (UPE) Comunidades geralmente são grupos formados por familiares, amigos e vizinhos que possuem um elevado grau de proximidade uns com os outros. Nas comunidades, as normas de convivência e de conduta de seus membros estão interligadas à tradição, religião, ao consenso e respeito mútuo. Por outro, nas sociedades, é totalmente diferente; esse contato não existe, prevalecendo os acordos racionais de interesses. Não há o estabelecimento de relações pessoais e, na maioria das vezes, não há tamanha preocupação com o outro indivíduo, fato que marca a comunidade. Por isso, é fundamental haver um aparato de leis e normas para regularem a conduta dos indivíduos que vivem em sociedade. Nesse sentido, é CORRETO afirmar que o responsável em desempenhar o papel do regulador dessas relações é:
A) o Estado.
B) a Igreja católica apostólica romana.
C) o Ministério da Justiça.
D) o Ministério Público.
E) o Juizado de pequenas causas.

04. "Para começar, a comunidade é um lugar “cálido”, um lugar confortável e aconchegante. É como um teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num dia gelado. Lá fora, na rua, toda sorte de perigo está à espreita; temos que estar alertas quando saímos, prestar atenção com quem falamos e a quem nos fala, estar de prontidão a cada minuto". (BAUMAN, Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual.)
Observando os fragmentos do texto de Bauman marque a alternativa correta:
a) A ideia de comunidade se relaciona a vida das grandes metrópoles, com uma vida complexa e sem grandes proximidades;
b) De acordo com a ideia de Bauman, as comunidades são espaços mais calmos, diferente das complexidades da sociedade;
c) No contexto em questão, temos aqui uma idealização da comunidade como sinônimo de uma grande metrópole;
d) Não há relações no texto entre as comunidades e as sociedades.

05. De acordo com as ideias sociológicas sobre a comunidade marque a alternativa correta no que tange suas características:
a) Complexidade nas relações pessoais;
b) Distanciamento dos sujeitos;
c) Sentimento de identidade e pertencimento;
d) Heterogeneidade de agentes;
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Admirável República dos Tiriricas: Os Fatos Mais Interessantes da Política Tupiniquim.

A Imagem vale mais que as ideias

Não é minha intensão cair na velha hipocrisia do "politicamente correto", nem tampouco sistematizar qualquer tipo de defesa moral ou em relação a plataforma eleitoral defendida pela ex-senadora Marina Silva. Tenho razões políticas para não fazer isso, entretanto, como militante de esquerda, socialista, humanista e defensor da democracia, dos direitos civis e principalmente da livre propagação de ideias - pressuposto importante para o estabelecimento de um Estado democrático e de direitos - não posso deixar de me indignar quando certas práticas difamatórias tornam-se a principal estratégia do jogo eleitoral em detrimento das disputas ideológicas que permeiam os projetos de nação colocados a disposição do povo.

Não legitimo esse tipo de "agir político" principalmente pelo fato de acreditar que as divergências devem ser colocadas no âmbito das ideias, da grande política, não deve ser permeada por baixo, seja pela demonização da imagem, seja por argumentos falaciosos. Nos últimos dias, por exemplo, um caso como esses me causou uma certa inquietude. Durante o espetáculo montado diante das cerimônias de sepultamento do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), morto após um acidente de avião, duas fotos passaram a ser propagadas rapidamente em diversos sites e redes sociais (virtuais). Em uma víamos a ex-senadora Marina Silva -  então candidata a vice-presidência na chapa liderada por Eduardo Campos e hoje candidata a presidenta pela mesma chapa - apoiada sobre o caixão que estava os restos mortais do socialista, com um aparentemente semblante de felicidade, mesmo ela estando em circunstância lutuosa. A outra imagem era a do ex-presidente Lula, estando no mesmo local e circunstância, mas com um semblante abatido, de tristeza e desalento. Na foto, Lula carregava em seus braços o filho mais novo de Eduardo.


Sabemos que essas imagens, ao tornarem-se públicas através da propagação pelos mais variados meios, abrem a possibilidade para uma diversidade de interpretações. Muitos passaram a utilizá-las no intuito de constituir em torno da ex-senadora uma visão de oportunismo, malevolência ou até mesmo de malícia. Uma espécie de julgamento moral sobre a pessoa que nos próximos dias será candidata a chefia do Executivo federal. 

No entanto, é oportuno lembrar que práticas semelhantes a essas foram muito utilizadas pela facínora ditadura militar, apoiada pela grande mídia, a fim de demonizar as organizações, militantes, partidos e parlamentares que divergiam e resistiam aos governos dos generais. Cabe rememorar a frustrada tentativa de atentado patrocinada pela linha-dura do exército com objetivo de desarticular a redemocratização, gerar pânico e desordem, criminalizar os grupos opositores à ditadura e mais uma vez efetivar a repressão. O atentado seria executado pelo então sargento Guilherme Pereira do Rosário, junto ao capitão Wilson Dias Machado, ambos iriam instalar bombas nos geradores de um evento público que estava ocorrendo no pavilhão do Riocentro em 30 de abril de 1981, o objetivo era que houvessem as explosões no momento em que acontecia um show em comemoração ao dia do trabalhador. Desastrosamente uma das bombas explodiu antes do tempo, no carro em que estavam os militares, causando a morte do sargento e ferindo o capitão. Contudo, mesmo diante do acidente, os militares ainda tentaram culpar as organizações de esquerda, partindo da interpretação que tinham sido vítimas de um atentado. Segundo essa versão, alguns militantes de esquerda - dissidentes ao regime -  teriam jogado uma granada contra o veículo que estavam os militares. Felizmente a hipótese não foi comprovada e serviu muito mais para demonstrar que de fato o autoritarismo vigente estava em plena decadência.

Outro fato curioso se estabeleceu após a prisão de vários estudantes em 1968, quando acontecia o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em um sítio localizado na pequena cidade de Ibiúna em São Paulo. O congresso reuniu aproximadamente mil estudantes de todo o país, tudo era feito na clandestinidade. Mesmo assim, os militares conseguiram chegar ao local e prender os congressistas. Na ocasião, algumas reportagens exibiam fotos em que as forças policiais mostravam uma grande quantidade de pílulas anticoncepcionais apreendidas no congresso. Essas matérias, serviriam para construir junto à opinião pública uma imagem pejorativa do congresso uma vez que - como dizia o escritor Zuenir Ventura - "as moças tinham ido ao encontro preparadas para algo mais do que discutir as questões estudantis. O apelo contra a moral era uma das estratégias utilizada pelos militares para atacar a esquerda, e visto nossos valores conservadores, a estratégia causava um impacto satisfatório aos interesses dos donos do poder.

A partir desses fatos, é possível fazer uma análise a luz da história, percebendo o quanto esse aspecto moralizador está presente nas entrelinhas das imagens, haja vista os discursos e as estratégias midiáticas. Essas práticas que estão a serviço da desconstrução do subjetivo e do ataque a idoneidade e dignidade das pessoas tem grande relevância e impacto para a opinião pública. E na medida em que o debate político é relegado a segundo plano, a imagem e o julgamento moral, infelizmente, passa a se tornar o elemento mais central no debate público. Dessa maneira, chego concluir que esse tipo de circunstância é nocivo a nossa democracia. Desaprovo essas práticas por razões justas e por achar que antes de qualquer elemento moralizador, o confronto de ideias sempre será o elemento mais significativo para qualquer organização social. Nesse contexto, do ponto de vista humanitário, sou solidário a todas as vítimas dessa pequena política.

O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,testemunha-do-riocentro-desmente-militares-na-cv,11601
Feitas essas considerações, deixo para esse segundo momento algumas reportagens que mostram o quanto esse elemento moralizador sobre a imagem ainda está presente e tem grande relevância em nosso cotidiano. Nessa sessão optei como elementos centrais, as pessoas da presidenta Dilma Rousseff e da ex-senadora Marina Silva.
Lida as matérias da Folha de São Paulo e do Jornal Nacional e agora analisando essas imagens, seria possível acreditar que todo o fato foi gerado por uma simples bolinha de papel jogado contra o presidenciável? Observem as expressões nos rostos das pessoas que estão junto a José Serra e tirem suas conclusões.



Também não é secundário rememorar das inúmeras montagens propagadas, principalmente através de alguns sites, em que a atual presidenta Dilma Rousseff aparecia fazendo gestos tidos como obscenos. O caso mais recente foi na Copa do Mundo 2014.

Observem as imagens:

Imagem manipulada

Imagem original
Dilma Rousseff por sinal, desde a sua primeira eleição (2010) foi bastante hostilizada pela grande mídia. Relembro dessa montagem em que construía a imagem da presidenta como uma terrorista na década de 1960, principalmente pelo detalhe do fuzil que supostamente estava ao seu lado. Várias pessoas, inclusive blogueiros se mobilizaram para desconstruir essa farsa.



Em um desses blogs havia uma série de explicações que desconstruíam a ideia passada através da imagem, observem as explicações abaixo:
Postagem no blog Luta da Verdade:
1° Detalhe: A foto toda da pessoa está desfocada, o fuzil entretanto está bem nítido;
2° Detalhe: na época da Ditadura, Dilma era muito magra; na foto ela está bem gorda e seios volumosos;
3° Detalhe: essa cabeleira é da década de 80, estilo "pantera" em voga nessa época; portanto não é da época da Ditadura;
4° Detalhe: na década de 80, Dilma foi assessora do PDT, Secretária da Fazenda de Alceu Collares do PDT, foi Presidente da Fundação de Economia e Estatística; foi Secretária de Energia, Minas e Comunicações do PDT, e Secretária de Minas e Energia do Gov. PT no RS. Em nenhum desses Governos no RS, ela necessitou pegar em armas como da foto acima.
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domingo, agosto 10, 2014

O brasileiro tem alma de feriado, por Nelson Rodrigues


Amigo, o brasileiro tem alma de feriado. Imagino a irritação dos idiotas da objetividade. Dirão eles: “isso não existe, nunca existiu”. O leitor, mesmo sem ser um idiota da objetividade, pode querer uma explicação. Vamos a ela.

Há uns dois ou três anos, houve uma sequência de feriados. A coisa começou numa sexta-feira, continuou no sábado, no domingo e terminou na segunda-feira. Ora, tal saraivada de feriados é a grande utopia do nosso irmão, o brasileiro. Nunca a alma encantadora das esquinas e dos botecos teve tal alegria de viver. Nas ruas, como diz o poeta, os homens eram humanos e divinos e as mulheres, frescas como rosas. Segundo, porém, a minha vizinha gorda e patusca, “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”. Na terça-feira, recomeçou a aprovação dos chamados dias úteis. A volta ao batente é, para o brasileiro, uma dessas melancolias, só comparáveis às de Jó.

Mas eu próprio pensava: “tivemos quatro feriados”. Às dez da manhã, estou na calçada. Coisa interessante. De repente, baixou em mim remorso ou vergonha de, por quatro longos e dilatados dias, ter esquecido o Brasil. Mas como ia dizendo: tomei o táxi e toquei para a cidade. E já esperava ver a praia transformada num deserto. Sim, num deserto de umbigos. Pois bem. Quando o táxi dobrou para a praia, sofri na carne e na alma o maior espanto da vida.

A praia estava inundada de brasileiros. Nunca vi tantos umbigos vadios. Depois de quatro feriados, o banho de mar tinha mais gente do que nunca. Fiz, de mim para mim, a pergunta alarmada: “se o brasileiro não sai da praia, quem faz o Brasil?”. Antes de dobrar na Princesa Isabel, eu descobri esta verdade inapelável e eterna: — O BRASILEIRO TEM ALMA DE FERIADO. Ou por outra: — de domingo. Nós somos dominicais por excelência.

Nelson Rodrigues
O Globo, 5/2/1975

Fonte: Blog de Flavio Campana
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sábado, agosto 09, 2014

Jornal A Vanguarda Classista


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terça-feira, agosto 05, 2014

Ensino superior e a formação do homem culto


Na entrevista da edição nº 17 da Revista e-metropolis, a professora Maria Lígia de Oliveira Barbosa nos fala sobre a relação complexa entre o funcionamento do sistema de ensino superior e os mecanismos de produção e organização das desigualdades nas sociedades modernas. A socióloga analisa a valorização diferenciada dos diversos títulos escolares e sua contribuição para a legitimação das hierarquias entre os grupos sociais. Na sua visão, a passagem pelo sistema universitário, enquanto etapa do processo de construção do homem culto, reafirma os aspectos academicista e patriarcalista da nossa sociedade.


Maria Lígia de Oliveira Barbosa é professora do Programa de Pós-graduação em Antropologia e Sociologia da UFRJ. É coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior e recentemente organizou o livro “Ensino superior: expansão e democratização”, com uma série de trabalhos que ajudam a compreender o quadro atual e os desafios que se abrem para a institucionalização de um ensino superior de qualidade no Brasil. (mligiaifcs@gmail.com)


Revista e-metrópolis: Nas duas últimas décadas, o ensino superior brasileiro viveu uma expansão bastante significativa, acompanhada de um processo de diversificação de sua estrutura. De que modo as ciências sociais podem ajudar na compreensão do funcionamento do sistema de ensino superior e do seu papel na produção e organização das desigualdades nas sociedades modernas?

Como disse antes, o tema do ensino superior é sempre atraente, seja nas conversas informais seja nos colóquios científicos. Nas conversas comuns, o ensino superior aparece como aspiração ‘natural’, como solução para alguns tipos de problemas sociais e econômicos, como espaço da inteligência, competência, seriedade. Em colóquios científicos, talvez por um irresistível pendor psicanalítico de quem apostou todas as suas cartas no mundo acadêmico, há uma busca permanente de explicação dos sentidos e significados do ensino superior em cada sociedade. Mesmo que essas avaliações não tomem a forma direta nem apareçam com esse nome. Na verdade, essas questões permeiam todo o discurso crítico e autocrítico sobre as atividades acadêmicas.

Entretanto, indo um pouco além das conversas entre amigos, são variadas as abordagens das ciências sociais sobre os sistemas de ensino superior. A expansão e diversificação do ensino superior brasileiros nas duas últimas décadas têm gerado importantes discussões sobre o seu significado que se tornou particularmente importante num país com níveis muito baixos de escolarização. Nesse sentido, uma contribuição específica da abordagem sociológica seria o levantamento de hipóteses que oferecessem explicações para algumas das dimensões propriamente sociais desse processo de expansão.

Como bem sabemos, a valorização diferenciada dos diversos diplomas configura um problema de pesquisa sociológica que passa tanto pela discussão dos significados e definições do mérito como fator organizador das hierarquias sociais modernas quanto pela correta compreensão das formas de funcionamento dos sistemas de ensino e da produção das credenciais escolares. Há uma relação complexa entre o funcionamento do sistema de ensino e o mercado de trabalho, e vários estudos indicam que compreender de maneira adequada essa relação é uma chave essencial para explicar não só os diversos mecanismos de hierarquização das competências e qualificações no mercado de trabalho como também para entender como a passagem por instituições do sistema de ensino afeta as chances de vida e de desenvolvimento profissional e pessoal. Enfim, como funcionam alguns dos mecanismos de produção e organização das desigualdades nas sociedades modernas.

Revista e-metrópolis: No livro (Ensino superior: expansão e democratização) você usa dois modelos com perspectivas opostas – o credencialista e o meritocrático – para analisar as percepções sobre os diferentes diplomas do atual ensino superior brasileiro. Como você enxerga o sentido da valorização dos títulos escolares e a sua contribuição para a organização desigual da sociedade?

Os modelos credencialista e meritocrático nos permitem entender melhor essa relação de que falei. São formas diferentes de valorizar e dar sentido ao ensino, à passagem pelo sistema de ensino. Em qualquer um dos níveis. Mas me parece importante destacar essas perspectivas no que diz respeito ao ensino superior, exatamente pelos possíveis avanços na sua democratização no momento em que mais pessoas das classes populares conseguem chegar aqui. A predominância de um modelo ou do outro pode afetar profundamente as chances de aproveitamento com sucesso da formação obtida no ensino superior.

Numa versão mais radical dos sistemas ditos credencialistas, os títulos escolares ou credenciais acadêmicas aparecem como simples marcas sociais, sem qualquer conteúdo relevante. Nesse caso, não haveria uma ligação razoável entre o que a escola ensina e aquilo que se faz no trabalho. Numa sociedade que funcione mais fortemente segundo esse modelo, a instituição escolar apareceria apenas como um mecanismo de legitimação da herança social através da diplomação dos filhos das famílias mais afluentes, sem qualquer papel importante na transmissão de conhecimentos ou na preparação técnica para o trabalho. Nesse sentido, os diplomas superiores teriam um valor meramente posicional. Isso é: um indivíduo portador de um diploma universitário, mesmo que não tenha aprendido nada, que desconheça princípios elementares de qualquer trabalho, seria valorizado porque socialmente ele é visto como superior aos que não tenham esse diploma.

A segunda forma de valorização do sistema de ensino é aquela que podemos chamar meritocrática. Nesse caso, supõe-se uma associação positiva entre o que é ensinado na escola e aquilo que se necessita ou que se utiliza na vida econômica, no mercado de trabalho, nas empresas. Também ganha relevância a discussão sobre o lugar tomado pela ciência nas sociedades modernas: o conhecimento científico adquiriu enorme legitimidade e deslocou os saberes tradicionais (religiosos ou místicos) para se tornar a base principal de legitimação das hierarquias entre diferentes grupos sociais.

É importante notar que não se trata de uma forma de tornar as pessoas iguais. O mérito aparece como uma das características da sociedade moderna como sendo um critério mais legítimo para hierarquizar as pessoas. Em diversas sociedades, considera-se legítimo que quem estudou mais receba salários maiores do que quem estudou menos. A ideia de mérito aparece aqui não como uma utopia igualitária, mas como um critério mais legítimo que a origem familiar para se aceitar sucessos de uns e fracasso de outros. Nesse sentido, a ideia de mérito vem associada no trabalho que fazemos não a uma ideologia meritocrática, mas a um critério mais ou menos efetivamente utilizado para hierarquizar as pessoas.

Por isso é importante diferenciar um sistema de ensino que produza meros marcadores sociais de outro sistema que produza aumento efetivo de conhecimento e realmente capacite seus egressos a disputar postos de trabalho e posições sociais por razões de merecimento. Não por ser, na expressão popular, filhinho de papai rico ou poderoso. Um sistema mais fortemente credencialista apenas permitiria que diferentes pessoas se apresentassem para a disputa social. No caso da sociedade brasileira, ainda muito pouco meritocrática, não é difícil verificar quem seriam os ganhadores e perdedores. Já um sistema com características mais meritocrática habilitaria de forma efetiva os indivíduos que passaram por esse sistema de ensino para disputar as melhores posições sociais. O conhecimento efetivamente detido pelos indivíduos tenderia a fazer mais diferença que a origem social. O que tornaria as hierarquias sociais mais legítimas e até mesmo justas.

Revista e-metrópolis: Em que medida a valorização distinta de títulos escolares indica maior proximidade da sociedade brasileira como um modelo meritocrático ou credencialista?

No caso do Brasil, os dados indicam que temos um sistema fortemente credencialista, que aparece desde a legislação que concede privilégios na prisão a bandidos diplomados até em dimensões mais refinadas do ponto de vista analítico, como é o caso do formato dos cursos, dos conteúdos curriculares em diferentes áreas e, eu diria, até na deficiência de engenheiros, matemáticos e outros profissionais de áreas científicas que demandam uma formação mais pesada. Essa é uma questão em que eu gostaria de investir mais, porque acredito que a melhor compreensão do funcionamento das diferentes áreas de produção de conhecimento, das forças sociais que aí atuam é um campo central para a pesquisa sociológica. No mínimo, para que se pare de afirmar que brasileiro é bom de bola e ruim de matemática. É onde se verifica que não se trata da ordem natural das coisas, como se dizia antigamente. Seja a forma do sistema de ensino, sejam os avanços nos diferentes campos científicos, sejam as formas de ensinar, sejam os modos de produzir ciência, todos sofrem impactos e se redesenham a partir dos modos sociais de lidar com cada um deles.

Revista e-metrópolis: Alguns autores sugerem que o alongamento e a diversificação da escolarização formal são parte das estratégias elitistas de manutenção do poder, numa perspectiva que entende a educação como critério dominante de hierarquização social. Qual o papel da classe média na manutenção das desigualdades escolares e na definição do mérito pela educação?

Eu tenderia a concordar com esses autores. No caso brasileiro, um estudo de Chico Ferreira (que foi da PUC-Rio) mostra que com toda expansão do nosso sistema de ensino e algumas das poucas melhorias nele introduzidas, mesmo assim, a origem social é um fator mais importante para determinar a renda dos indivíduos do que a escolaridade. Uma das hipóteses que o autor levanta é que as classes médias teriam condições muito mais fáceis de acessar e determinar regras para o sistema de ensino. E, sendo assim, teriam condições de também desenvolver estratégias que garantissem que continuariam tendo privilégios no sistema social. Claro que isso demanda mais estudo, mas não é difícil ver os modelos utilizados no processo de expansão do sistema de ensino superior como parte de estratégias desses grupos privilegiados. A elite não entrega o ouro tão facilmente... A exclusividade e o privilégio concedidos ao diploma puramente bacharelesco e acadêmico em detrimento de formações tecnológicas ou das licenciaturas seriam uma evidência nessa direção. Desde que se compreenda que estratégia não é um plano diabólico, combinado nos porões ou nas garagens das elites para não deixar os pobres estudarem. Estratégia é trabalhar para fazer valer um conjunto de regras sociais que reforçam o meu grupo. Cada um faz isso de maneira natural. Sem intenções previamente concertadas. Cabe aos analistas perceber o que significa efetivamente a execução dessas regras, quais são seus resultados práticos. Esses começam a se desenhar em cursos de licenciatura vistos como sendo ‘coisa pra pobre’ ou ‘atividade de segunda linha’ dentro das grandes e prestigiadas universidades do sistema público. Mas também na transformação de cursos técnicos e tecnológicos em arremedos de bacharelados, sem oferecer uma efetiva formação prática e técnica e ministrando disciplinas fracas do ponto de vista teórico ou científico. Nesses cursos, claramente, o sistema tende ao mais absoluto credencialismo...

Revista e-metrópolis: No livro você aponta uma série de ineficiências econômicas e sociais no sistema de ensino superior brasileiro. É possível atribuí-las à força dos títulos acadêmicos, que valoriza os bacharelados em detrimento das licenciaturas e cursos tecnológicos? Em que medida esse academicismo representaria um retrocesso na forma de dominação, reafirmando o bacharelismo/ patrimonialismo contra uma perspectiva mais técnica ou profissional?

Como diria Jack, o estripador, vamos por partes. Acredito que o academicismo seja responsável por ineficiências sociais e econômicas. No primeiro caso, pelo que disse logo acima. Os jovens oriundos das classes populares têm vindo com bastante força para as licenciaturas, deixadas de lado pelos filhos de ‘boas famílias’. E, ao fim do curso, recebem um diploma, legal e teoricamente igual aos colegas que fizeram o bacharelado. Na prática, esses jovens descobrem que esse diploma não é tão igual. O mesmo vale para os jovens que vão para os cursos tecnológicos, de duração semelhante àquela que cursam seus colegas nas engenharias. Então, parece - ainda precisamos tornar isso mais evidente, com fortes pesquisas de acompanhamento de egressos, por exemplo – que os jovens mais pobres que chegaram à universidade não tiveram um sucesso tão grande. Mesmo quando conseguem terminar o curso, o que nem sempre acontece. As promessas de aumento da igualdade de oportunidades não foram cumpridas. Uma incompetência social grave. Também uma grave ineficiência.

As ineficiências econômicas apareceriam nas dificuldades encontradas pelos empresários para recrutar profissionais mais qualificados. Desde um garçom até um engenheiro.

Quanto à associação entre academicismo e patriarcalismo é o próprio Weber que faz uma primeira alusão ao problema. Segundo ele, a pedagogia do cultivo – um dos traços centrais da visão academicista do que deveria ser a universidade – é a forma didática por excelência da dominação patrimonial. Dessa perspectiva, a passagem pelo sistema universitário não significa ter acesso a uma formação científica. Ela é uma etapa do processo – iniciado na família, obviamente de elite – de produção do homem culto. Dessa forma, o academicismo também se liga ao credencialismo: o indivíduo que passa pela universidade não vai aprender alguma coisa para se firmar no mercado de trabalho. Ele vai se preparar para participar de bucólicas conversações nos salões da nobreza tropical, para discutir os rumos do mundo numa boa uisqueria. Ele não é um cientista ou um profissional: ele é um homem culto.


Fonte:
Observatório das Metrópoles / Revista e-metropolis

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sábado, agosto 02, 2014

Ilustrações mostram como comentários maldosos afetam a vida das pessoas


As ilustrações feitas pela polonesa Katarzyna Babis mostram o quanto as palavras podem carregar um certo peso e que podem refleti notavelmente um certo grau de violência simbólica contra as pessoas. Escutamos essas palavras cotidianamente, mas não refletimos qual o seu significado sociológico e o quanto elas podem representar enquanto danos. 

Ou seja, incorporamos essas expressões em nosso vocabulário, sem o menor esforço reflexivo, reproduzimos - mesmo sem ter a mínima pretensão de agredir alguém - e de uma certa forma contribuímos com uma certa cultura de violência, incompreensão e discriminação.

Observem os desenhos:









































Fonte das imagens: Hypeness.
Tradução original dos textos das imagens: Papo de Homem
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